terça-feira, 20 de março de 2012

A VOZ POÉTICA DE ROGÉRIO SALGADO E VIRGILENE ARAUJO - BELO HORIZONTE/MG

1964\2012 - 48 ANOS DE UM PUTA GOLPE


1o de abril

Em memória de Edson Luiz,
Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho

Quando os pelotões invadiram as calçadas
com milhares de botinas pisantes de couro
tantos olhares absurdos olharam
com a curiosidade costumeira
estampada nos olhos

crianças inocentes
talvez brincando com a velha brincadeira
de “polícia e ladrão”
devem tê-los visto
com olhos de quem vê
heróis de histórias em quadrinhos

mas naqueles locais não se encontravam Batman
Homem-Aranha, Super-Homem
e nem mesmo à nossa direita
o velho Capitão Aza

não havia mocinhos fardados naquele momento
havia sim, facínoras que nos roubariam
todas as possíveis liberdades

daí veio a dor
em forma de telefones, paus de araras
afogamentos e estupros

sevícias serviram de serviço
que levariam seres humanos à morte

e os homens fardados que ostentavam estrelas
manchavam o céu de todos nós
e aquele céu tão blue
transformou-se em gritos, sussurros
sofrimentos e orfandades
nos porões dos departamentos de ordens
públicas e sociais.

Era um dia de mentira
e muitos ousaram não acreditar
no que seus olhos viram

e o que ficou de dolorido na história
nesses quarenta anos passados/presentes
é que apesar do dia
na escuridão de todas as noites
o que restou realmente de folclore
é que toda aquela real injustiça
foi erroneamente,
verdade.

(Rogério Salgado & Virgilene Araújo
in "Tipo Exportação - Belô Poético-2004)

Ditadura

Quando a liberdade atrapalha
vem um bando de canalhas
transformar o nosso sonho

aí, o doce vira bosta
e o que outrora
tinha a mesa posta
transforma-se num inferno

assim sendo, danou-se
o que era doce, acabou-se
numa história apagada
na borracha dos cassetetes.

(Rogério Salgado & Virgilene Araújo
In "No Brasil tudo acaba em..." , incluído
em "Trilhas"- Belô Poético - 2007)

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