terça-feira, 7 de maio de 2013

A EXPRESSÃO LITERARIA DO ESCRITOR CIRO JOSE TAVARES - BRASILIA/DF



Uma Família Chamada Ribeira I

Foi há muito tempo, quando as distâncias eram curtas e tudo estava concentrado ali, as bodegas dos comerciantes de secos e molhados, a botica onde se manipulava a medicação para curar doenças. As casas simples, ruas de areia, salpicadas de tufos de grama, aqui e acolá. Uma só igreja, o rio limpo de água transparente, de cardumes que se aventuravam na corrente da maré cheia. Para chegar à praia era preciso vencer o areal, onde os meninos empinavam suas corujas e, à sombra das mangueiras, empanturravam-se com as saborosas frutas derrubadas pelos ventos vindos do oceano. O veraneio era fugir do calor e passar uma temporada no Alto, em Petrópolis, redes armadas nos alpendres e descanso. Foi há muito tempo, quando a vida chegava bem.
Meu pai nasceu na Ribeira, na Rua do Comercio, hoje Rua Chile. Cresceu nos espaços abertos do bairro, na companhia dos filhos de Dona Maria Farache, também nascidos na Ribeira. Todos canguleiros, que nadaram no Rio Potengi e nas vazantes, à margem, cataram chama-marés e nas noites de pouca luz frequentaram os lençóis diáfanos de Dona Antônia, a primeira mestra, o alumbramento inicial. O sangue canguleiro do meu avô e do meu pai corre nas minhas veias. A Ribeira não é modismo ou conveniência, é paixão que se prolongará além da minha morte, pois já decidi que, quando for chamado pelo Pai do Tempo, desejo ser cremado e minhas cinzas depositadas na foz do amado Potengi.

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