terça-feira, 15 de julho de 2014

O ATO SAGRADO DO ESCRITOR CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF



No quarto escurecido havia um cheiro de vida entre nós dois.
Simples, todo espartano, beleza imaginada e fictícia.
Réstias filtradas pelas estreitas aberturas da janela
davam à cama um estranho matiz acobreado
e sobre mornos lençóis amarrotados estávamos  silentes,
lado a lado com receio que nossas mãos se entrelaçassem.
Cego pelo louro dos cabelos escorridos afundei os dedos
para receber a magia que deles fluía como elétrica corrente.
Beijei-te a face alva e, de repente, incontido, os ternos lábios rubros
oferecidos para mitigar a sede do poeta apaixonado.
Veio no abraço a intumescência dos teus seios ao meu tórax
e ao sugá-los como criança senti o gosto do orvalho das manhãs,
até acontecer  total integração dos nossos corpos.
Quando no orgasmo alcançamos o nirvana, ficamos outra vez
silentes, lado a lado, apenas clareados  pela fugaz  luz exterior,
atravessando frestas da janela e descobrimos pensativos
 que no quarto escurecido havia um cheiro de vida entre nós dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário