BALADA DA TRANSFIGURAÇÃO - PARTE 2
Ciro José Tavares
Diante do espelho de cristal não se reconhece.
Há marcas indeléveis na fisionomia,
halos difusos emitidos do sazonado espírito.
antigas retrovisões guardadas nas retinas
dos recônditos da memória emergem repentinas.
Brincadeiras infantis, esconde-esconde,
amor primeiro que morre sem nunca ter nascido,
virgem menstruada, beijos que acordam o coração,
jogos de sedução nas vesperais dançantes,
parceiro conquistado na magia do altar.
Estranha ou estrangeira refletida no polido vidro
não acredita ser o que foi antigamente,
vendo fios brancos aflorando nos cabelos,
pontos senis espalhados pelo corpo,
seios flácidos,estrias escondidas.
Cores da maquiagem exagerada e outros artifícios
não devolverão o tempo da beleza.
Reconhece-te, estrangeira, vencida diante do espelho.