COMO ESTÃO AS ENTRANHAS DE NATAL?
Quero lhe fazer um convite para, juntos, iniciarmos uma viagem mental. Quero
lhe pedir também que você esqueça – nem que seja por uns breves momentos
– seus problemas pessoais, seus cheques a cobrir, o título que está
preste a ir para cartório, o desemprego que lhe assusta, até seus problemas
familiares, para refletirmos sobre o meio ambiente de Natal. Quero que você
vire suas lembranças para trás e rememore as condições que a natureza deixou de
herança para Natal. Natal, linda cidade, brindada com rios, dunas, brisa suave,
clima ameno, lugar bom para se viver, imune a cataclismos, terremotos,
enchentes... Natal dos poetas (“em cada esquina um jornal”- lembra-se?).
Natal do ar mais puro da América Latina. Ah, Natal... Tanto é bela e atraente
que está cheia de gringos querendo encher-lhes os espaços com seus
investimentos, sonhos, devaneios – e malandragens também. Muita
malandragem.
Agora, quero chamar sua atenção para um detalhe importante: vamos traçar um
paralelo entre a poluição das entranhas de Natal e a poluição das entranhas dos
nossos políticos, dos nossos governantes, das pessoas que tiveram nas mãos os
recursos e as condições políticas para não permitir a degradação ambiental de
Natal e que, lamentavelmente, nada fizeram. Quero, junto com você, estabelecer
a seguinte verdade: se o interior da nossa cidade está poluído agora é porque
está poluído também o interior delas, as tais “expressões
políticas”. Aliás, quero lhe propor uma sentença bem enfática: a poluição
já habitava o interior delas muito antes da degradação ambiental atingir Natal
em cheio. O mundo mudou bastante nos últimos tempos e os modelos administrativos
seguiram as trepidantes mudanças que se processaram nos grandes aglomerados
urbanos. E eles, na qualidade de líderes, acordaram para essa nova realidade?
Tendo na mão estrutura e recursos para pensar e agir diferente, de ousar em
suas ações administrativas, porque não o fizeram? A realidade é que as
entranhas de Natal estão apodrecendo – e os políticos não estão nem aí.
Suas atenções estão voltadas para ocupação maior de seus espaços individuais,
suas idiossincrasias mais evidentes, suas manifestações de insensibilidade mais
visíveis. Os lençóis freáticos de Natal, suas nascentes, seus rios e córregos
estão morrendo e não se vê, no meio político, nenhuma preocupação ou
providência, nenhuma atitude para resolver esta questão. Da natureza não
podemos reclamar, não é verdade? Natal é rodeada de dunas que funcionam como
verdadeiras esponjas de armazenagem de água. Ao mesmo tempo em que armazenam,
servem também de filtros naturais. Coroando toda essa bela engenharia
ambiental, uma farta vegetação protege esse verdadeiro tesouro. Entretanto, o
meio ambiente de Natal está trilhando um caminho de retorno quase impossível.
De todo esse aparato natural o que temos hoje? Águas que chegam ao interior das
dunas já poluídas; lençóis freáticos contaminados por coliformes fecais e
matéria orgânica em geral; lençóis profundos contaminados por nitrato oriundo
da matéria orgânica maturada nas fossas e sumidouros; rios alimentados, a céu
aberto, por esgotos infectos, enegrecendo o que a natureza nos entregou, há
anos atrás, límpido e puro. Se a água – e todo conjunto natural que lhe
cerca, como dunas, rios, córregos, matas, manguezais – é tão importante
para a qualidade de vida de nosso povo, porque não criarmos o Plano Diretor de
Águas de Natal? Um documento robusto, completo, voltado à cura das entranhas da
cidade. Fica a sugestão. A solução seria trilateral: curaria a natureza,
melhoraria substancialmente a qualidade de vida do nosso povo – e daria
um novo direcionamento às catracas mentais dos nossos políticos. É sonhar
demais?
fonte: por e-mail