Ministrada por: Rosa Ramos Régis da Silva
Professora e Presidente da Academia de Literatura de Cordel do RN.
Literatura de Cordel como Expressão da Arte Popular
O que é literatura de cordel?
É uma narrativa poética popular escrita com métrica e rimas soantes (perfeitas)
O que é um verso?
É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (O mesmo que pé).
Versos brancos: versos não rimados, versos soltos.
Versos de seis pés: sextilhas
Verso de pé quebrado: é o nome dado àquele verso que se apresenta com
diferente comprimento, ou ritmo, no poema regular, ou mesmo em diferente
ritmo num poema irregular. Conhecido também por “verso manco”.
Cer / to / de / ser / ver / so / fra / co (sete sílabas)
Co / nhe / ci / do / cla / ra / men / te ( “ “ )
Qual / Ver / so / de / Pé / Que / bra / do( “ “ )
Que / es / tá / in / ge / nua / men / te (seis sílabas)
Se / a / chan / do / no / pe / da / co ( “ “ )
O que é estrofe?
Estrofe é um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido
completo. O mesmo que estância. Existem vários tipos de estrofes, no
cordel as mais usadas são: quadra (que caiu em desuso), sextilha,
setilha e décima.
Métricas do Cordel - Informações (em parte) obtidas da ABLC
01 – O início
02 – Parcela ou Verso de quatro sílabas poéticas
03 – Verso de cinco sílabas poéticas
04 – Quadra - estrofes de quatro versos de sete sílabas poéticas
05 – Sextilhas
06 – Setilhas
07 – Oito pés de quadrão ou Oitavas
08 – Décimas
09 – Martelo Agalopado
10 – Galope à Beira-Mar
11 – Meia Quadra
01 – Início
A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira
harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em
busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer
compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para
compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros,
demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última
palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:
Repentista A
O cantor que pegá-lo de revés
Com o talento que tenho no meu braço...
Repetista B
Dou-lhe tanto que deixo num bagaço
Só de murro, de soco e ponta-pés
02 – Parcela ou Verso de quatro sílabas poéticas
A Parcela ou Verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na
literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa do contrário
ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé
quebrado. A literatura de cordel, por ser lida e ou cantada é muito
exigente na questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro
sílabas, ou parcela:
Eu sou judeu
Para o duelo
Cantar martelo
Queria eu
O pau bateu
Subiu poeira
Aqui na feira
Não fica gente
Queimo a semente
Da bananeira.
Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta
modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa sequência
alucinante, cada um querendo confundir mais rapidamente o oponente. Esta
modalidade é pré-galdiniana, não se conhecendo seu autor.
03 – Verso de cinco sílabas poéticas
A parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua
presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo
Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era
cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista grande rapidez
de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum da
autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:
Pretinho:
No sertão eu peguei
Um cego malcriado
Danei-lhe o machado
Caiu, eu sangrei
O couro tirei
Em regra de escala
Espichei numa sala
Puxei para um beco
Depois dele seco
Fiz dele uma mala
Cego:
Negro, és monturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recanto de muro
Negro sem futuro
Perna de tição
Boca de porão
Beiço de gamela
Venta de moela
Moleque ladrão
Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de
cordel. Ao contrário, elas vieram quase um século depois das primeiras
manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as
estrofes de quatro versos de sete sílabas.
04 – Quadra - estrofes de quatro versos de sete sílabas poéticas
Exemplo:
O mergulhão quando canta
Incha a veia do pescoço
Parece um cachorro velho
Quando está roendo osso.
Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém
04.1 – Quadras da autoria de Rosa Regis
Platão foi um grande mestre,
Que amava a Sabedoria,
Desdenhava a avidez,
Ganância e mesquinharia.
O Saber para Platão,
Era o Tesouro Maior
Que transformaria o homem
Em um SER SUPERIOR.
A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última
estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e
definitiva sextilha.
Meu avô tinha um ditado
Meu pai dizia também:
Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém.
05 – Sextilhas - estrofes de seis versos de sete pés, ou sete sílabas poéticas
O Reino do Barro Branco
é defronte uma colina
cortada por quatro rios
de água potável e fina
fica nos confins da Ásia
bem perto da Palestina.
Severino Milanês da Silva,
O Príncipe do Barro Branco e a Princesa do Vai Não Torna.
Agora, de posse da técnica de fazer sextilhas, e uma vez consagradas
pelos autores, esta modalidade passou a ser a mais indicada para os
longos poemas romanceados, principalmente com o segundo, o quarto e o
sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e
quinto versos. É a modalidade mais rica, obrigatória no início de
qualquer combate poético, nas longas narrativas e nos folhetos época.
Também muito usadas nas sátiras políticas e sociais. É uma modalidade
que apresenta nada menos de cinco estilos: aberto, fechado, solto,
corrido e desencontrado. Vamos, pois, aos cinco exemplos:
Aberto:
Felicidade, és um sol
Dourando a manhã da vida
És como um pingo de orvalho
Molhando a flor ressequida
És a esperança fagueira
Da mocidade florida.
Fechado:
Da inspiração mais pura,
No mais luminoso dia,
Porque cordel é cultura
Nasceu nossa Academia
O céu da literatura,
A casa da poesia.
Solto:
Não sou rico nem sou pobre
Não sou velho nem sou moço
Não sou ouro nem sou cobre
Sou feito de carne e osso
Sou ligeiro como o gato
Corro mais do que o vento.
Corrido:
Sou poeta repentista
Foi Deus quem me fez artista
Ninguém toma o meu fadário
O meu valor é antigo
Morrendo eu levo comigo
E ninguém faz inventário.
Desencontrado:
Meu pai foi homem de bem
Honesto e trabalhador
Nunca negou um favor
Ao semelhante, também
Nunca falou de ninguém
Era um homem de valor.
SETILHAS (estrofes de sete versos com sete pés ou sete sílabas poéticas)
Para alguns, as setilhas foram criadas por José Galdino da Silva Duda,
1866 – 1931. A verdade é que o autor mais rico nessas composições,
talvez por se tratar do maior humorista da literatura de cordel, foi
José Pacheco da Rocha, 1890-1954.
A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO
Vamos tratar da chegada
Quando Lampião bateu
Um moleque ainda moço
No portão apareceu.
- Quem é você, cavalheiro?
-Moleque, sou cangaceiro.
Lampião lhe respondeu.
- Não senhor – Satanás disse
Vá dizer que vá embora
Só me chega gente ruim
Eu ando muito caipora
E já estou com vontade
De mandar mais da metade
Dos que tem aqui pra fora.
O QUE É O CORDEL
O cordel é um estilo
De escrita popular
Que nasceu em Portugal
Vindo, de lá, pelo mar.
Tem seu lugar de destaque,
Todo tipo de sotaque
Conseguindo conquistar
Os livretos populares
Que o Nordeste incorporou
Trouxeram conhecimentos
Que no Brasil se espalhou
Cantado e vendido em feiras
Conta histórias verdadeiras
Ou causos que se inventou. (Rosa Regis – Natal-RN)
07 – Oito pés de quadrão ou Oitavas
Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito
versos de sete sílabas. A diferença dessas estrofes de cunho popular
para as de linha clássica é apenas a disposição das rimas. Vejamos com o
primeiro e o quinto versos desta oitava de Casimiro de Abreu
(1837-1860) são órfãos.
Como são belos os dias
Do despontar da existência
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar – é lago sereno,
O Céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida - um hino de amor.
Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si;
também o quinto, o sexto e o sétimo, e, finalmente, o quarto com o
último, não havendo, portanto, um único verso órfão. Assim:
Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
Apregoa com denodo
Que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.
08 – Décimas
Décimas (estrofes de dez versos que podem ser de: sete pés, dez pés
(martelo agalopado com ritmo rigorosamente forte, marcando tônicas nas
sílabas 3, 6 e 10 (dois anapestos e um peônio de quarta) ou onze pés
(galope à beira-mar). O galope à beira-mar é formado por uma ou mais
estrofe(s) de 10 versos hendecassílabos, com o ritmo de tônicas nas
posições 2, 5, 8 e 11, ou seja, um iambo e 3 anapestos.
As décimas
foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema
épico de cavalaria A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ, baseado na obra
do Imperador francês Carlos Magno:
DÉCIMA DE SETE PÉS
Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
Um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França
A NATUREZA CHORANDO
PEDE PRA SER PRESERVADA
Eu vi um cedro chorando
Ao ser seu tronco serrado
E no chão, já arriado,
Dos cortes ia jorrando
O seu choro, derramando,
Deixando a areia molhada.
E a mãe Gaia, coitada,
Na sua dor, lamentando.
A NATUREZA CHORANDO
PEDE PRA SER PRESERVADA
[..]
E ainda: sou Bacharel,
Formada em Economia
Também em Filosofia.
E tenho mais um anel:
Licenciada em cordel
Que ganhei por primazia
Dos versinhos que fazia.
É assim que à vida enfrento.
Isso é só um complemento
Da minha biografia!
Rosa Regis
Natal/RN - 03 de fevereiro de 2007
09 – Martelo Agalopado
O Martelo agalopado, estrofe de dez versos de dez sílabas, é uma das
modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor
Jaime Pedro Martelo (1665-1727), as martelianas não tinham, como o nosso
martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição
das estrofes. Alongava-se com rimas pares, até completar o sentido
desejado. Como exemplo, vejamos estes alexandrinos:
“visitando Deus a Adão no Paraíso
Achou-o triste por viver no abandono,
Fê-lo dormir logo um pesado sono
E lhe arrancou uma costela, de improviso
Estando fresca ficou Deus indeciso
E a pôs ao Sol para secar um momento
Mas por causa, talvez dum esquecimento
Chegou um cachorro e a carregou,
Nessa hora furioso Deus ficou
Com a grande ousadia do animal
Que lhe furtara o bom material
Feito para a construção da mulher,
Estou certo, acredite quem quiser
Eu não sou mentiroso nem vilão,
Nessa hora correu Deus atrás do cão
E não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
Cortou-lhe simplesmente o meio rabo
E enquanto Adão estava nas trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva.”
Com tamanha irresponsabilidade, totalmente inaceitável na literatura de
cordel, o estilo mergulhou, desde o desaparecimento do professor Jaime
Pedro Martelo, em 1727, em completo esquecimento, até que em 1898, José
Galdino da Silva Duda dava à luz feição definitiva ao nosso atual
martelo agalopado, tão querido quanto lindo. Pedro Bandeira não nos
deixa mentir:
Admiro demais o ser humano
Que é gerado num ventre feminino
Envolvido nas dobras do destino
E calibrado nas leis do Soberano
Quando faltam três meses para um ano
A mãe pega a sentir uma moleza
Entre gritos lamúrias e esperteza
Nasce o homem e aos poucos vai crescendo
E quando aprende a falar já é dizendo:
Quanto é grande o poder da natureza.
Há, também, o martelo de seis versos, conforme exemplo:
Tenho agora um martelo de dez quinas
Fabricado por mãos misteriosas
Enfeitado de pedras cristalinas
Das mais raras, bastante preciosas,
Foi achado nas águas saturninas
Pelas musas do céus, filhas ditosas.
Feitas essas considerações sobre os Martelos de seis versos,
mostraremos mais um do estilo atual, variante da Décima, criação do
violeiro Silvino Pirauá Lima, conforme estrofe do poeta lira Flores,
citada pelo Dr. Ariano Suassuna, num trabalho sobre os cantadores:
Quando as tripas da terra mal se agitam,
E os metais derretidos se confundem,
E os escuros diamantes que se fundem,
Da cratera ao ar se precipitam.
As vulcânicas ondas que vomitam
Grossas bagas de ferro incendiado,
Em redor, deixam tudo sepultado
Só com o som da viola que me ajuda,
Treme o sol, treme a terra, o tempo muda,
Eu cantando Martelo agalopado.
Comentando TRIBUTO ao Cordel (uma comunidade do ORKUT)
Se o amor te inspirou desta maneira
Quem sou eu para ver contrariado
Um amigo, por mim, considerado
Um poeta dos bons, ou de primeira!
Que de ler ou de ouvir não dá canseira.
Sendo assim, vim aqui para deixar
Meu recado e também te convidar
Pra fazeres a mim uma visita.
Sei que irás. Está aqui quem acredita.
Vem depressa! Eu bem sei, irás gostar.
Rosa Regis
Natal/RN
22.07.2011 – 23:38h
10 – Galope à Beira-Mar
Com versos de onze sílabas, portanto mais longos do que os de martelo
agalopado, são de galope a beira mar, como estes da autoria de Joaquim
filho:
Falei do sopapo das águas barrentas
de uma cigana de corpo bem feito
da lua, bonita, brilhando no leito
da escuridão das nuvens cinzentas
do eco do grande furor das tormentas
da água da chuva que vem pra molhar
do baile das ondas, que lindo bailar
da areia branca, da cor de cambraia
da bela paisagem na beira da praia.
Assim é galope na beira do mar.
Logicamente que há o galope alagoano, à feição de martelo agalopado,
com dez versos de dez sílabas cuja diferença única e a obrigatoriedade
do mote “Nos dez pés de galapo alagoano”
GALOPE À BEIRA-MAR
(Uma exigência no galope à beira-mar é que o último verso sempre termine
com a palavra "mar", no mínimo, sendo preferível terminar com "galope
na beira do mar")
Cantor das coivaras queimando o horizonte,
das brancas raízes expostas à lua,
da pedra alvejada, da laje tão nua
guardando o silêncio da noite no monte.
Cantor do lamento da água da fonte
que desce ao açude e lá fica a teimar
com o sol e com o vento, até se finar
no último adejo da asa sedenta,
que busca salvar-se da morte e inventa
cantigas de adeuses na beira do mar.
(“Galope à beira-mar” – Luciano Maia)[1]
11 – Meia Quadra
Outra interessante modalidade é a Meia Quadra ou versos de quinze
sílabas. Não sabemos por que se convencionou chamar de meia quadra,
quando poderia, muito bem, se chamar de quadra e meia ou até de quadra
dupla. Ar rimas são emparelhadas e os versos, assim compostos:
Quando eu disser dado é dedo você diga dedo é dado
Quando eu disser gado é boi você diga boi é gado
Quando eu disser lado é banda você diga banda é lado
Quando eu disser pão é massa você diga massa é pão
Quando eu disser não é sim você diga sim é não
Quando eu disser veia é sangue você diga sangue é veia
Quando eu disser meia quadra você diga quadra e meia
Quando eu disser quadra e meia você diga meio quadrão.
Os exemplos acima são de versos característicos da literatura de cordel
também conhecido como a versão escrita dos versos populares. Sua origem
data dos tempos medievais, na península Ibérica, onde foi denominado
cordel por ser exposta em cordões ou barbantes, expressões conhecidas,
popularmente, como cordéis.
Nos Séculos XVI e XVII, os livretos
foram introduzidos no Brasil, e desde então passaram a fazer parte da
cultura do nosso país.
Mais que uma literatura, o cordel é um
instrumento de informação e de preservação do folclore, afinal as rimas
trazem em suas entrelinhas estórias, contos, lições de vida, lendas,
críticas sociais e políticas, além de pessoas e situações que marcaram a
história da nação.
As capas são devidamente ilustradas com
figuras provenientes das artes manuais conhecidas como Xilogravuras
(arte de talhar desenhos em madeira e prensa-los no papel) e
Linogravuras (arte de talhar desenhos em borracha e prensa-los no
papel).
Hoje, a região nordeste é a única que mantêm viva a
circulação desses livretos. (inform. atrasada) No entanto, estes vivem
na memória do povo brasileiro que desde o principio encontrou no cordel
uma forma de expressar suas angústias, sentimentos e vivências.
Você Sabia?
Com o objetivo de resgatar o cordel foram fundadas academias no Rio de
Janeiro-RJ - Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC, no
Crato-CE - Academia Brasileira de Cordel e no Rio Grande do Norte
(Natal-RN), Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel -
ANLIC.
As academias são mantidas com financiamento dos próprios
acadêmicos que, para ingressarem no espaço, devem elaborar um cordel
que será avaliado pelos componentes da academia.
Vamos agora aprender
Como se faz um cordel.
Comecemos escrever
Com a caneta no papel,
Preparando uma sextilha
À métrica e à rima, fiel. (Rosa Regis – 06/09/2008)
Vejamos primeiro a quadra (dra)
Que é mais fácil de fazer, (êr)
Não é comum no cordel (el)
Mas ajuda o entender. (êr)
Aqui, a A e a C
São versos independentes (entes)
Enquanto a B e a D
Têm ligações permanentes. (entes)
E o tamanho dos versos
Têm que ser sempre igual:
Sete sílabas poéticas
Contadas por via oral.
Isso serve pra sextilha,
Para a setilha e pra décima.
E, se assim não for feito,
A leitura será péssima.
Há ainda tipos diversos
Com 10, ll ou 12 pés
Mas, só para quem já sabe,
Do cordelar, seu viés.
Literatura de Cordel - Os folhetos que contam o Nordeste
Ademar Lopes Jr.
Alguns segredos destes folhetos que retratam o Nordeste: suas origens, sua história e seus autores.
Inspirada na literatura francesa de colportage, nos romances e pliegos
sueltos ibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa, a nossa
Literatura de Folhetos (ou de Cordel) nasceu e desenvolveu-se no
nordeste brasileiro, contando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo.
Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos
pontos do país, sempre incentivada pelas comunidades nordestinas.
O
primeiro folheto de que se tem notícia foi publicado na Paraíba por
Leando Gomes de Barros, em 1893. Acredita-se que outros poetas tenham
publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima, mas a Literatura de Cordel
começou mesmo a se popularizar no início deste século. As primeiras
tipografias se encontravam no Recife, e logo surgiram outras na Paraíba,
na capital e em Guarabira. João Melquíades da Silva, de Bananeiras, é
um dos primeiros poetas populares a publicar na tipografia Popular
Editor, em João Pessoa.
Os folhetos eram expostos em barbantes (daí
o nome Cordel) ou amontoados no chão, despertando a atenção do matuto
que se acostumou a ouvir os temas da literatura popular de cordel em
suas idas às feiras, verdadeiras festas para o povo do sertão.
O
poeta cordelista, na maioria das vezes de origem humilde e proveniente
do meio rural, migrava para os centros urbanos onde passava a tirar seu
sustento da venda dos folhetos, chegando, algumas vezes, a funções de
tipógrafo e editor. Neste contexto, ele se tornava verdadeiro mediador
das concepções das classes populares nordestinas, já que compartilhava a
mesma ideologia e valores de seu público.
A classificação da
literatura de cordel tem sido objeto da preocupação dos chamados
iniciados pesquisadores e estudiosos. As classificações mais conhecidas
são a francesa de Robert Mandrou, a espanhola de Julio Caro Baroja, as
brasileiras de Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Orígenes Lessa,
Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo. Mas a classificação
autenticamente popular nasceu da boca dos próprios poetas. (ABLC).
No limiar do presente século, quando já brilhava intensamente á luz de
Leandro Gomes de Barros, fluía abundante o estro de Silvino Pirauá e
jorrava preciosa a veia poétgica de José Galdino da Silva Duda. Esses
enviados especiais passaram a dominar com facilidade a rima
escorregadia, amoldando, também, no corpo da estrofe o verso rebelde.
Erro o início de uma literatura tipicamente nordestina e, por extensão,
brasileira, não havendo mais, nos nossos dias, qualquer vestígio de
herança peninsular.(ABLC)
Atualmente a literatura de cordel é
escrita em composições que vão desde os versos de quatro ou cinco
sílabas ao grande alexandrino. Até mesmo os princípios conservadores
defendidos pelos nossos autores ortodoxos referem-se a uma tradição
brasileira e não portuguesa ou espanhola. Os textos dos autores
contemporâneos, apresentam um cuidado especial com a uniformização
ortográfica, com o primor das rimas, com a beleza rítmica e com a
preciosidade sonora. (ABLC)
Material preparado para o Projeto Ensino Médio Inovador
Rosa Ramos Regis da Silva
Professora de Filosofia no Ensino Médio
Natal, setembro de 2012