terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A EXPRESSÃO LITERÁRIA DO CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF


O PRIMEIRO CLARIM PARTE IV

Ciro José Tavares*

Eu sempre coloquei o pé no freio, na segunda-feira do carnaval, depois da matinê no Aero Clube. Queria recuperar o fôlego e as forças para o último dia. lavar a fantasia ensopada de suor e marcada dos jatos dos lança- perfumes. Um banho reconfortante, boa alimentação, a rede do terraço ventilado. Meu pai a - contar os casos atendidos no Pronto – Socorro, do qual era o Diretor. Também apareciam alguns amigos da família falando dos incríveis acontecimentos do dia, as conversas que rolavam no Grande Ponto e sua algazarra permanente, sob o comando, ora de Zé Areia, ora de Luizinho Doblecheque, recolhidos ao quartel- general, na Confeitaria Cisne, do sucesso que fizera o bloco do Jacu, com seu hino simples terminando com um estribilho chulo e da pior espécie: “Há jacu, há Jacu; Há jacu no pau”.
Corria uma história com o Dr. Pelúsio Melo, cuja veracidade tenho minhas dúvidas, mas na coragem e engenhosidade dos atores aposto minhas fichas. O Dr. Pelúsio era bom de copo e no carnaval sua cuidadosa esposa não permitia que ele saísse a não ser na sua companhia, pois sabia o que podia ocorrer. Roberto Freire, Zé Herôncio e Luís de Barros combinaram, com sua conivência, retirá-lo de casa para uma farra homérica. Pelúsio, que era médico da Saúde dos Portos, teve a colaboração do motorista da repartição. Na segunda-feira, pela manhã, a ambulância da Saúde dos Portos veio à sua, casa na Rua Apodi, buscá-lo para liberar um navio que aportara na véspera. A tripulação do barco estava impedida de desembarcar se não tivesse a aprovação da autoridade sanitária.
Indignado, o médico reclamou, mas a função obrigava seu comparecimento e a esposa nada podia fazer muito menos acompanhá-lo. O Dr. Pelúsio tomou seu acento ao lado do motorista. Quando a ambulância deu partida explodiu a gritaria. Na parte de trás, já bem iluminados pelo álcool, Roberto Freire, Luís de Barros e Zé Herôncio comemoravam a liberdade. Na esquina da Avenida Rio Branco, Cancão, dirigindo o carro de Roberto Freire, abastecido das mais diferentes bebidas e petiscos, aguardava. A mudança foi rápida, seguida de grandes agradecimentos ao motorista da ambulância. Não demorou o “raptado” em entornar as primeiras doses. Teria chegado a casa, é o que contam, na terça-feira, desculpando-se diante da mulher aflita e revoltada.
 
O escritor é: Imortal da ACLA/RN
Membro da UBE/RN, Advogado.
  

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