1979 eram o cenário, na política
época de abertura, final do período militar no Brasil, para quem acompanhava as
noticias e tinha consciência e visão política de esquerda foi um período de
intensa alegria, comigo não foi diferente, vibrei com a volta da democracia no
meu país.
Na vida pessoal, o nascimento do
meu segundo filho, o meu Arthur, a quem eu carinhosamente o chamava de meu Dudu.
Ele chegou complementando com satisfação plena a minha concepção de vida feliz.
O meu bebê chegou, o mês era
agosto, mas precisamente dia dez (10) satisfeita deixei a Maternidade Ananilia
Regina, em Currais Novos (cidade que me acolheu desde os seis meses de idade) com
meu filho nos braços, era uma criança linda, o rostinho rosado e a farta
cabeleira pretinha chamava a atenção de todos que nos visitavam.
Mas minha alegria durou somente duraram
somente vinte e cinco (25) dias. Nesse período estava acontecendo um surto de
meningite em Currais Novos e o meu Dudu foi acometido pela mesma, e foi ai, que
descobri que só a meningite não era o problema maior da vidinha dele. Meu filho
havia nascido com Microcefalia, encaminhada pelo pediatra, e orientada para
consulta neurológica, dei inicio a minha via crucis, médicos, exames e exames e
mais exames e o diagnóstico cruel, meu filho tinha o cérebro pequeno, eu
bastante jovem não entendia muito, mas o meu sentimento de mãe me fez saltar
uma força maior de enfrentar toda e qualquer intempérie da vida para salvar o
meu filho que, além de ter o cérebro pequeno (microcefalia) havia sido atingido
pela meningite meningocócica. Eu nem tinha consciência do que isso pudesse ser,
e mais que isso, o que pudesse causar...
O meu mundo desabou, eu com
apenas vinte (20) anos de idade, acabava de descobrir que a vida não era tão
cor de rosa, como até então eu havia sentido. Para completar, e ainda aumentar
a minha tristeza face ao problema descoberto, o sistema de saúde neste período
não era tão aparelhado como hoje, na minha Cidade não havia sequer médico
neurologista, que pudesse acompanhar o meu filho, o pediatra dele, que também
era meu vizinho, entendeu que a solução seria a vinda para a Capital, e antes
de fixar residência em definitivo em Natal, fiz vários percursos de Currais
Novos a Natal, (por sorte minha, minha família, pais e irmãos já residiam aqui).
Foram vinte e quatro (24) anos de
agonias, dificuldades, internamentos em hospitais, prontos socorros, corridas as
pressas na ambulância de Aquino Neto, a mesma com a sirene ligada (residia na
Cidade Satélite). Mas a vida não é feita só de dificuldades, a vida também tem
diversas fases e faces, e mesmo com toda dificuldade em lidar com meu filho
quando uma criança, depois adolescente e jovem excepcional tive meus momentos
felizes, meu bebê a quem eu carinhosamente o chamava de “menino novo mais bonito do Brasil” me fazia sentir a mulher mais
forte do mundo, era a minha companhia constante, meu companheiro de verdade,
que mesmo sem enxergar, sem falar, sem andar, conseguia me fazer entender e, se
fazer entender, éramos movidos pelo carinho e cumplicidade que construímos ao
longo dos vinte e quatro (24) anos, que o
menino novo mais bonito do Brasil, o meu DUDU viveu.
A sua partida aconteceu de forma
suave, contrariando todo sofrimento que o mesmo viveu em vida, foi um guerreiro
veio ao mundo somente para sofrer, não teve infância, era um ser inerte, sem
razão, não teve adolescência e também não teve juventude, viveu em cima da cama,
pois nem sentar conseguia, viveu entre a nossa casa e hospitais. Mas viveu até
o dia que Deus permitiu me dando a maior lição de vida, que é entender a
existência de DEUS, pois somente DEUS explica a existência de alguém sobreviver
por tantos anos em vida vegetativa. Hoje consigo compreender as palavras da
bíblia quando diz: não se move uma folha de uma arvore sem a permissão de Deus.
Quem me conhece de perto sabe o
que foi meu viver com Dudu, por isso, hoje diante do surto de microcefalia que assola
o país, eu senti o desejo no coração de falar para as mães que estão com seus
filhos diagnosticados com essa má formação congênita, eu lhes falo pela
experiência, é muita luta, mas tenham
certeza que Deus sempre estará do seu lado, temos momentos de tristezas, muita
tristezas, especialmente quando vemos que nosso filho não acompanha o que
outras crianças acompanham, tenham fé, hoje a medicina está bem mais
aparelhada, as pesquisas mais avançadas e as sequelas com certeza não ficarão,
tanto quanto a do meu filho.
Deus abençoe a você mulher, que esta
com essa nobre missão de cuidar de um filho com necessidades especiais! Saiba, Deus
nos capacita para o cuidado e o trabalho devido. Meu filho foi uma bênção na
minha vida, em nada me atrapalhou, e o tempo que deixei de viver para me
dedicar aos cuidados dele, Deus me restituiu me dando tudo em dobro, assim fará
com vocês.
Geralda Efigênia
Mãe de Arthur Antunes Silva Mendes de Oliveira
Vitima de Microcefalia e Meningite,
dormiu no Senhor em
11/10/2004.
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