Projeto em escolas do Barreiro estampa versos de alunos em 250 mil sacos de pão
Aluno do 7º ano do ensino fundamental, ele é recordista em publicação na atual edição do projeto Pão e Poesia, com três textos selecionados. Sem citar um grande autor como inspiração ou o melhor livro que já leu, Charles confessa que o interesse pela literatura começou a nascer agora, a partir do projeto. “Nunca tive muita paciência para livros. Quando escrevia alguma coisa, eram sempre frases soltas. Mas me empolguei com a ideia de ganhar, de uma hora para outra, milhares de leitores. Será que isso vai ter futuro?”, questiona o garoto, com olhos interessados a percorrer as estantes da biblioteca da Escola Estadual Margarida Brochado, no Barreiro.
Se Charles ainda não tem referências literárias de peso, a estudante Lorrayne Sousa esbanja intimidade com o universo das letras. Amante de Monteiro Lobato, ela guarda com carinho uma agenda onde, desde os 6 anos de idade, escreve seus poemas. “Toda ideia que passa pela minha cabeça eu transformo em textos. Às vezes, falo da natureza, da poluição, dos amigos ou da família. Temas nunca faltam. E fiquei emocionada com a chance de publicar meu trabalho”, diz Lorrayne.
Para a diretora da escola, Rosemari Conceição Diegues, as oficinas têm papel transformador na rotina dos jovens. “Com a ajuda de professores de português, os responsáveis pelas oficinas trabalharam várias dinâmicas de leitura e escrita com os estudantes. Essa ação desperta o interesse deles pela leitura e aumenta o contato diário com a cultura”, afirma ela, ressaltando uma mudança de comportamento também durante as aulas. “Tudo isso se reflete na maior concentração dos alunos nas atividades da escola e em melhor desempenho nas avaliações”, conclui.
personagem da notícia
Diovani Mendonça
Um amante de livros teve idéia
A ideia de unir cultura a um dos alimentos mais populares da mesa dos brasileiros nasceu em 2008 na biblioteca do belo-horizontino Diovani Mendonça, de 47 anos. O analista de sistemas e apaixonado por literatura reuniu, em seu acervo de autores consagrados e também na internet, matéria-prima para dar um reforço no café da manhã dos mineiros. Com a ajuda de amigos e empresários, ele conseguiu doações de tintas e papéis para pôr nas ruas as primeiras 300 mil embalagens do projeto Pão e Poesia. “Desde adolescente, eu escrevia poemas e letras de música em folhas de caderno para distribuir entre os amigos. Meu sonho era que aqueles versos que me emocionaram tocassem também o coração de outras pessoas. Há três anos, eu tive a ideia de colocar esses textos em sacos de pão”, diz Diovani. Os primeiros exemplares foram plastificados por ele e passaram a integrar uma exposição itinerante que já percorreu 20 escolas de Belo Horizonte e uma de São Paulo. O Pão e Poesia ganhou dois prêmios do Ministério da Cultura – em 2009, primeiro lugar no concurso Pontos de Mídia Livre; e, no ano passado, o Selo Prêmio Cultura Viva. Aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a iniciativa agora tem o patrocínio da V&M do Brasil. “É muito gratificante fazer com que os meninos ponham no papel as vivências e experiências deles”, diz Diovani.