quinta-feira, 25 de agosto de 2011
AMANHÃ SEGUNDA EDIÇÃO DA CESTA CULTURAL COM A SPVA/RN
Programação:
19:00h - Abertura com Deth Haak
19:30h - Poeta Xico Seridó
20:00h - Poeta Antonio Francisco
20:30 - Sarau coordenado por Tião Bezerra
A EXPRESSÃO POÉTICA DE CIRO JOSÉ TAVARES
Ciro José Tavares uma doce pessoa, uma pessoa doce, um brilhante ser um ser brilhante, um poeta, escritor nato, hoje seu aniversário, quero deixar aqui o meu registro de carinho e amizade. PARABÉNS!
Ciro José Tavares
Ciro José Tavares
“Somente através do tempo é o tempo conquistado”.
T. S. Eliot, in Burnt Norton
Não é sonho, estou ouvindo: Sou apenas uma lágrima.
Ruas sombrias da Ribeira mergulhadas nas saudades,
portas fechadas não respondem ao meu chamado
porque abandono toma conta e não tem voz.
Não é miragem ver conversa de silêncios nas esquinas,
Contando dos antigos que não regressarão.
Hoje, manhãs e tardes chegam anoitecidas,
a Ribeira sangra e quieta chora consolada
pelas preces na Igreja do Bom Jesus das Dores.
Não é sonho, ouço os lamentos da Ribeira:
Minha vida o rio Potengi entregou ao oceano
e apenas uma lágrima foi o que restou.
HOJE 25 ANOS SEM A PRESENÇA DO MEU PAI, POETA, CORDELISTA E SINDICALISTA JOSÉ MILANEZ.
PARECE QUE FOI ONTEM
E ENTRETANTO NÃO FOI
JÁ FAZ MAIS DE VINTE ANOS
QUE FIQUEI SEM SUA PRESENÇA PAPAI.
VINTE E CINCO ANOS UE FIQUEI
SEM ACALANTO, CURTINDO MUITA TRISTEZA
SOFRENDO MUITO ESSA ORFANDADE
NUNC PENSEI QUE SENTIRIA TANTA DOR.
MAS HOJE, ANIVERSÁRIO DE SUA MORTE
EU FICO AINDA MAIS SOFRIDA
E AS LEMBRANÇAS MAIS DOLORIDAS.
POIS ERAS UM PAI PRESENTE
QUE EM MUITO NOS ENSINOU, MUITO NOS AJUDOU
POR ISSO AINDA CHORO DE SAUDADES E DOR.
E ENTRETANTO NÃO FOI
JÁ FAZ MAIS DE VINTE ANOS
QUE FIQUEI SEM SUA PRESENÇA PAPAI.
VINTE E CINCO ANOS UE FIQUEI
SEM ACALANTO, CURTINDO MUITA TRISTEZA
SOFRENDO MUITO ESSA ORFANDADE
NUNC PENSEI QUE SENTIRIA TANTA DOR.
MAS HOJE, ANIVERSÁRIO DE SUA MORTE
EU FICO AINDA MAIS SOFRIDA
E AS LEMBRANÇAS MAIS DOLORIDAS.
POIS ERAS UM PAI PRESENTE
QUE EM MUITO NOS ENSINOU, MUITO NOS AJUDOU
POR ISSO AINDA CHORO DE SAUDADES E DOR.
GENI MILANEZ: 25 ANOS SEM ZÉ MILANEZ /CORDEL
25 ANOS DAQUELE FÁTIDICO DIA.
Geni Milanez
Hoje amanheci triste
Meu espírito indisposto
Cheguei à repartição
Era um clima de sol posto
Uma grande dor senti
Ao marcar o “ponto” vi
Vinte e cinco de agosto.
Então eu compreendi
A razão do meu pesar
Respirei fundo e ali
Comecei a trabalhar
Mas um calor dentro em mim
Angustiando-me, sim!
Começou a aflorar.
Como nas cenas de um filme
Pus-me então a relembrar
Aquele terrível dia
Em que tive de amargar
Um ato desnaturado
Meu pai ser assassinado
Pelas mãos de um “caparrar”.
Faz vinte e cinco anos
Mas dele eu não esqueço
Seu exemplo me anima
Por isso tem alto preço
E ainda que me pisem
Orgulho-me quando dizem
Que com ele me pareço.
Currais Novos, Currais Novos
O teu solo ainda geme
O sangue de Milanez
Na profundeza inda freme
Pra isso não tem limite
Sei que ninguém admite
Mas a tua seiva treme.
Justiça Divina invoco
Com toda força do ser
Do meu pai eu sinto falta
E não quero nem saber
Do patife néscio e pífio
Intolerante estrupício
Que o empatou de viver.
A cultura sertaneja
Sente falta, está silente
A poesia também!
Ficou órfã. Anda doente...
Vítima deste canastrão,
Sem Milanez o sertão
Ficou feio e diferente.
Sua viola querida
Continua bem guardada
Desde que ele se foi
Por ninguém mais foi tocada
Sentindo a barbaridade
Com tristeza, com saudade,
Vive assim, desafinada!
Os seus filhos e seus netos
Inda sentem a mesma dor
Daquele fatídico dia
Que foi de mágoa e horror
Que sofrimento atroz!
Porque calaram a voz
E a lira do cantador.
O cantador do sertão
Que alegrava sua gente
Com as suas poesias
Sua música, seu repente
Com seu estro sem labéu
Hoje canta lá no céu
Mas pra nós está presente.
Foi mais um sindicalista
Que pelo povo falava
Reivindicando direitos
Pela classe ele lutava
Com desvelo sem igual
Ao trabalhador rural
Sua vida dedicava.
Mas com isso muita gente
Sentia-se incomodada
Num país capitalista
Defender pobre é piada
E nisso todos apostam
Pois patrões disto não gostam
Acham que é palhaçada.
Por isso era mal visto
Pelos “barões” do lugar
Que queriam a todo custo
À liderança afastar
E como não conseguiram
No ódio assim persistiram
E fizeram-no então calar.
Só fazia o bem a todos
À frente do Sindicato
Sofreu constante ameaça
E tolerou desacato
Mas nunca perdeu a calma
Ao “entregar” sua alma
Não deixou de ser pacato.
Num comum desiderato
Unia os trabalhadores
Alguns se enfureciam
E tornavam-se agressores
Num destempero infindo
Caluniavam e mentindo
Causavam-lhe muitas dores.
Viviam todos de “olho”
Nas ações do sindicato
Temiam não sei o que
Ou era ódio de fato
Queriam privar o pobre
Não de ouro nem de cobre
Mas do Conhecer exato.
O seu programa de rádio
Era bastante ouvido
Conscientizando a todos
Do que era garantido
No Estatuto da Terra
Sua bandeira de guerra
Por isso era perseguido.
O medo era muito grande
Milanez não se calava
Na defesa dos seus pares
No Sindicato lutava
Com denodo e ações
E contrariando os patrões
Que a eles explorava.
Nunca entendi o porquê
De tanta perseguição
Depois que o assassinaram
Acabou-se a dissensão
O Sindicato ‘inda existe
Creio que nunca desiste
Mas ninguém presta atenção.
Desde então o Sindicato
Encontra-se bem mudado
Descaracterizou-se
Anda desvalorizado
E a ninguém mais assombra
Dizem que nem é a sombra
Do que já foi no passado.
Milanez antes da hora
Teve que embarcar no “porto”
Foram só catorze anos
Enfim livrou-se do Horto
Motivo do triste fato
O temido Sindicato
Dizem que parece morto.
Hoje, o tímido Sindicato
Por ninguém mais é lembrado
Parece que nem existe
Foi por “eles” olvidado
Parecendo um quiasma
Dizem que agora é fantasma
Do que era no passado.
A sanha do assassino
Hoje deve estar contida
Pois a voz de Milanez
Por ninguém mais foi ouvida
Com tamanha intrepidez
Defendia o camponês
A razão da sua vida.
Esse inimigo gratuito
Deve estar satisfeito
Pois quando ouvia a voz dele
Enchia-se de despeito
Em verborréia falaz
Tinha uma inveja voraz
E planejava dar jeito.
E deu! De modo cruel
Com o seu ato covarde
Quatro tiros ‘inda ecoam
Ainda fazem alarde
No peito de todos nós
Numa retumbância atroz
Com veemência ‘inda arde.
Mas, Deus o Grande Juiz,
Tomará a providência
Cabível para este insano
Não usará de clemência
Pois é o Deus da Justiça
De verdade, essa premissa
Não muda na sua essência.
Assim nós acreditamos
Vamos esperar pra ver
Justiça divina – sim!
Terá de acontecer
Isso faz parte da lavra
Não matar, diz a Palavra
Na qual a prendi a crer.
Tinha que morrer um dia
Este é o nosso destino
Porém não daquele jeito
Pelas mãos de um cretino
Que para matar foi lesto
É por isso que detesto
Esse pérfido assassino.
Temos que nos conformar
Visto que somos mortais
Com tudo o que aconteceu
Nós já sofremos demais
Mesmo sendo inconformada
Adianta fazer nada?
Milanez não volta mais.
Não volta, mas seu exemplo
Pra mim continua vivo
Perpetuar sua história
Estou dando o incentivo
Sem canseira, sem dilemas
Seus discursos e poemas
Guardo-os num belo arquivo.
Sensível, minha saudade
O tempo nunca soterra
Mas os conhecidos dizem,
Certeza de quem não erra,
Com um jeito meio altivo:
“Tu és o retrato vivo
Que teu pai deixou na terra”.
Com isso fico feliz
Sinto-me até orgulhosa
E estou falando sério
Pois eu não gosto de prosa
Não são palavras a esmo
Para mim isso é o mesmo
Que uma menção honrosa.
Por estar lendo meus versos
Eu agradeço a vocês
Desculpem minha franqueza
Por dizer com altivez
Ele tem as mãos manchadas
De certo modo encharcadas
Do sangue de Milanez.
Um dia vai responder
Pela terra que encharcou
Com as suas mãos ferinas
E o sangue que derramou
Sem ter quem segure as pontas
Ele vai ter que dar contas
Pela vida que tirou.
Só Deus tem esse direito
Pois da vida é o Senhor
Quem tira a vida do outro
Não passa de usurpador
Dado o Direito Divino
Perfeito e genuíno
Do sangue é devedor.
Eis aí caro leitor
Toda essa conseqüência
Que um ato insano geral
Que dura experiência
Tive que passar na vida
Nunca será esquecida
Toda essa vil procedência.
Mas dei a volta por cima
E não vou deixar morrer
A história do meu pai
Já estou a escrever
E o assassino que se dane
Não tenha de sofrer pane
Para não se esquecer.
A sentença desejada
Ninguém pode embargar
É fiel e verdadeira
Isso não podem negar
Se é esta minha sina
Pela Justiça Divina
Faço questão de esperar.
Essa é precisa e não falha
Chegará no tempo certo
Dói em quem tem de doer
E isso é muito correto
É o que pensamos nós
Creio que não sou a voz
Da que clama no deserto.
A justiça humana é falha
A de Deus é verdadeira
Chega na hora exata
E por isso é de primeira
A justiça humana erra
E em cima desta terra
Muitas vezes faz besteira.
Dado o meu sentimento
Com ênfase eu repito
Este meu jargão de fé
É nele que acredito
Pedindo Justiça a Deus
Juntamente com os meus
Daqui eu mando meu grito.
Grito com fé no Divino
Ele vai fazer Justiça
Neste gesto genuíno
Insisto, invisto na liça.
Manejo o fogo do ódio
Investindo no perdão
Lamento. Pois não consigo
A dor vem do coração
Não é fácil esquecer
Eu não posso pretender
Zerar essa condição.
Geni Milanez,Cerrocoraense,
Funcionária Pública Federal,
Professora da Rede Pública Municipal,
Pós-graduada em Letras pela UFRN,
Poetisa, Cordelista, Sonetista, Contista,
Escritora.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
INTERFACES TROVADORESCAS POR PEDRO ORNELLAS
1. Escritores Capixabas recebem Medalha Afonso Pena
e Diploma de Acadêmicos Imortais da Academia de Letras do Brasil
Em solenidade presidida pelo Dr. Mário Carabajal, Presidente Nacional-Fundador da ALB - Academia de Letras do Brasil e com a coordenação geral da Acadêmica Sílvia de Lourdes Araújo Motta-Escritora, Poeta, Doutora em Filosofia Universal, Cadeira 2 (dois) de Minas Gerais, Presidente “pro tempore” da ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL-ALB de MINAS GERAIS em solenidade realizada na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, na Rua Guajajaras 1268-(sobreloja), Belo Horizonte, Minas Gerais, receberam a Medalha do Mérito Cultural AFONSO PENA e foram empossados como Acadêmicos Imortais, sehuidores de Platão, os Escritores Capixabas, CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT ANNA e KÁTIA MARIA BOBBIO LIMA, respectivamente presidente e Vice Presidente do CTC, Clube dos Poetas Trovadores Capixabas. A solenida muito bem organizada contou com a Diplomação de mais 38 Acadêmicos Imortais entre as quais a premiadíssima Escritora de Minas Gerais, Zeni de Barros Lana. A solenidade contou com duas brilhantes apresentações musicais, inclusive a apresentação de um Coral que foi aplaudido de pé por todos os presentes.
Em solenidade presidida pelo Dr. Mário Carabajal, Presidente Nacional-Fundador da ALB - Academia de Letras do Brasil e com a coordenação geral da Acadêmica Sílvia de Lourdes Araújo Motta-Escritora, Poeta, Doutora em Filosofia Universal, Cadeira 2 (dois) de Minas Gerais, Presidente “pro tempore” da ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL-ALB de MINAS GERAIS em solenidade realizada na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, na Rua Guajajaras 1268-(sobreloja), Belo Horizonte, Minas Gerais, receberam a Medalha do Mérito Cultural AFONSO PENA e foram empossados como Acadêmicos Imortais, sehuidores de Platão, os Escritores Capixabas, CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT ANNA e KÁTIA MARIA BOBBIO LIMA, respectivamente presidente e Vice Presidente do CTC, Clube dos Poetas Trovadores Capixabas. A solenida muito bem organizada contou com a Diplomação de mais 38 Acadêmicos Imortais entre as quais a premiadíssima Escritora de Minas Gerais, Zeni de Barros Lana. A solenidade contou com duas brilhantes apresentações musicais, inclusive a apresentação de um Coral que foi aplaudido de pé por todos os presentes.
Breve assista os Vídeos no YOU TUBE - www.youtube.com/clerioborges e fotos no web site: www.clerioborges.com.br
2. Atualizações no Blog do Serginho: http://trovasecia.blogspot.com
Versos Fraternos - verdadeiras lições de vida em trovas...
Os Ácaros - História em quadrinhos publicada na Revista Áporo, da USP.
Pequena biografia do Padre Antonio Vieira (em quadrinhos).
Ensaio sobre o livro A vida verdadeira de Domingos Xavier.
Poema "Proposição" de Rui Knopfli.
Poema Xilográfico...
e muito mais!
3. Novo site - abrangência e finalidades: www.ubtrova.com.br
Esclarecimento do criador do site, J. B. Xavier, sobre nossa observação quanto a restrição de publicações.
"Caro Pedro.
Muito obrigado pelos elogios e palavras de incentivo. Sobre suas considerações deixo aqui as minhas:
A criação do UBTrova é um compromisso que assumi quando fui investido da função de Vice-Presidente de Cultura da UBT Seção São Paulo.
Na verdade, estabeleci cinco metas a serem atingidas, que são:
1-Substanciar o conteúdo do Informativo, enriquecendo-o tanto quanto possível.
2 - Divulgar a cultura em todas as suas formas.
3 - Homenagear os grandes trovadores.
2 - Divulgar a cultura em todas as suas formas.
3 - Homenagear os grandes trovadores.
E, ao perseguir estes três objetivos, caminharmos para atingir os outros dois:
4 - Aumentar o nº de assinantes deste informativo.
5-Aumentar o nº de associados da UBT-SP, especialmente entre os jovens.
4 - Aumentar o nº de assinantes deste informativo.
5-Aumentar o nº de associados da UBT-SP, especialmente entre os jovens.
Sendo assim, o UBTrova é um presente, ou melhor, uma retribuição aos assinantes que perseveraram em suas assinatturas, mesmo no período em que o jornal perdeu força como instrumento de informação, ultrapassado pela velocidade dos sites e blogs que vicejaram na net."
Abraços do
Pedro Ornellas
UMA AVALIAÇÃO SOBRE O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/PNE
Um balanço do Plano Nacional de Educação
|
Republico artigo da Revista CArta Capital, 02/08/2011
Fernando Vives
Para Idevaldo Bodião, fim do ProUni e educação inclusiva são pontos positivos, mas a destinação de 7%do PIB é insuficiente à educação
Enviado pelo ministro Fernando Haddad ao Congresso Nacional em dezembro de 2010, o novo Plano Nacional de Educação (PNE) já deveria estar em vigor oficialmente desde janeiro, com validade até 2020. Porém, virou alvo de disputa na Câmara, onde recebeu cerca de 3 mil emendas e ainda pode passar por mudanças até sua aprovação, estimada para até o começo do próximo ano. Redigido pelo MEC sobre as proposições feitas pelo Conselho Nacional de Educação (Conae), entidade que reuniu os anseios de 3 milhões de profissionais ligados à área em todo o País, o plano tem 20 metas e substituiu seu antecessor, que tinha 296 objetivos e fracassou pela falta de aporte financeiro e foco.
Para discutir o novo PNE, Carta na Escola procurou o professor Idevaldo Bodião, da Universidade Federal do Ceará (UFC), militante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e um dos redatores do projeto do Conae. Bodião tem uma trajetória atípica em sua formação acadêmica. Formado em Engenharia Civil pela USP, adaptou a carreira para o setor educacional, área em que se doutorou também pela universidade paulista. Depois, por motivos familiares, trocou São Paulo por Fortaleza, onde trabalha desde 1992. Foi secretário da Educação da capital cearense por dez meses em 2005, sob a gestão da prefeita Luizianne Lins (PT).
Nesta entrevista, Bodião critica as mudanças que o MEC fez sobre no texto- do PNE produzido pelo Conae, -ressalta qualidades e defeitos do novo plano e mostra preocupação com a força de grandes grupos empresariais da educação sobre os congressistas.
Carta na Escola: Como o senhor avalia o novo Plano Nacional de Educação? Setores governistas entendem que, apesar de ainda não aprovado, ele já está em vigência.
Idevaldo Bodião: O plano tem qualidades, mas o fato de acreditarem que já está em vigência me deixa mais preocupado- que feliz, uma vez que asfixia a grande virtude do PNE, que é ser um plano de Estado, não exclusivamente as aspirações de um governo. Como o PNE está desenhado, é possível perceber várias das políticas atuais em vigor implantadas por esta gestão.
CE: E o novo plano tem fragilidades?
IB: Sim, ao menos duas grandes. Primeira, este PNE em tese é construído como a convergência das conferências de educação municipais, estaduais e a nacional, um esforço que envolve 3 milhões de pessoas do País todo. Mas há um descompasso entre o que o Conae decidiu e o que está proposto no plano. Uma segunda fragilidade é que o novo plano é exageradamente tímido nas metas (nota: o anterior tinha 296, o atual tem 20). Há muita coisa agora que já estava no plano anterior e que não foi cumprida. Ou seja, estamos atrasados 20 anos e este governo legitima isso.
CE: Mas o que se argumenta é que o plano anterior foi um fracasso, por -isso algumas metas devem ser repetidas.
IB: Bem, então essas metas significam uma confissão de própria lavra de que a gestão de Lula não cumpriu o PNE anterior. É bom lembrar que o plano esteve dois anos sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso e oito na de Lula. Então, 80% do cumprimento que não existiu desse plano é da gestão de Lula, o qual Dilma substitui.
CE: Argumenta-se que o plano 2001-2010 surgiu natimorto, já que, para ser cumprido-, ele precisava que 7% do PIB fosse- destinado à educação, o que foi vetado pelo então presidente- Fernando Henrique.
IB: Parece-me um exagero dizer que ele era natimorto. Ele nasceu em gravidez precária e estava em UTI com altíssimo risco de vida. Depois de dois anos poderia ter saído da UTI, mas não foi recuperado. Se ele sofreu vetos de FHC após proposta ser aprovada na Câmara, esses vetos poderiam ter sido derrubados por Lula. Havia, em 2003, um movimento da Campanha Nacional do Direito à Educação pela derrubada dos vetos de FHC, tornando o plano vivo. Uma expressão que se diz muito sobre o PNE é que, sem esses recursos, ele se transformaria em uma carta de intenções. Foi o que ocorreu.
CE: Existe um compromisso do atual governo de destinar 7% do PIB para a educação. Esse número é suficiente?
IB: Quando foram encaminhadas as propostas para o primeiro PNE, a ideia é que fosse destinado 10% do PIB. Acabou-se fechando no Congresso que se aumentasse progressivamente até 7%, a partir de 2005. Se fosse aplicado como foi a proposta, teríamos 7% do PIB há pelo menos cinco anos, o que seria, aproximadamente, 70% a mais do que aplicamos hoje. Isso já teria saldado parte das dívidas de nossa herança perversa. Há uma macroprojeção do professor Otaviano Helene, da USP, que toma como meta as expansões de matrículas como propostas no plano (Ensino Médio, creches, formação de doutores etc.). O cálculo diz que precisaríamos investir de 7% a 8% do PIB só para suprir o aumento de matrícula. O outro cálculo feito por ele é que, se fôssemos corrigir as condições de trabalho e salariais – e a meta 17 deste PNE agora prevê a valorização do salário do professor –, precisaríamos investir mais 7% ou 8% do PIB. Ou seja, se precisarmos ampliar e aumentar os salários, será necessário praticamente o dobro do valor destinado. Infelizmente, existe uma diferença entre trabalhar com o que é possível e trabalhar com o que é necessário, como entende o Conae. Parece que o ministro Haddad trabalha com o que é possível, apenas.
CE: Então, o senhor entende que talvez seja necessário trabalhar com cerca de 15% do PIB?
IB: Bem, veja o caso da Coreia do Sul, do Japão e de outros países desenvolvidos. Em algum momento de suas histórias, delegaram até 20% do PIB para a educação – a Coreia, se não me engano, chegou a 30%. Há quem defenda 10% do PIB já, o que não quer dizer que precisamos investir 10% do PIB até o fim dos tempos.
CE: E o que esse plano evoluiu em relação ao anterior?
IB: Melhorou em pelo menos três campos. Um é a educação inclusiva: o anterior prega a escola de especiais para especiais – de cegos para cegos, por exemplo. A discussão da educação inclusiva ganhou corpo nos últimos tempos e está visível no PNE 2011-2020. Outro é a importância dada à educação técnica, profissionalizante. Isso foi banido na gestão FHC e agora ganhou novo fôlego. O terceiro campo é bem importante: o ProUni, marca da gestão Lula, não aparece no novo PNE, um avanço corajoso do governo, que volta a comprometer os recursos públicos para a escola pública. Seguramente, causará frissom no Congresso, o lobby das instituições privadas causará enorme área de atrito na discussão.
CE: O ProUni foi assumido pelo governo como um paliativo para suprir os baixos índices da educação superior no Brasil, portanto.
IB: Exato, e essa foi a leitura do Conae também. Como forma de garantir a expansão de matrículas no Ensino Superior, essa foi uma das formas que o governo transferiu para a iniciativa privada, para que ela administrasse os recursos que a princípio deveriam ser públicos. A ideia do Conae é que o ProUni congelará o número de matrículas em 2014 e será extinto em 2018. Isso vale também para escolas de apoio que recebem aporte público, como a Apae. Vai valer a lógica do recurso público para a escola pública. A lógica me parece correta.
CE: Um dos problemas que o senhor diz em relação ao PNE é que o governo não acatou todas a proposições do Conae. Quais delas o senhor considera as mais importantes?
IB: Penso que a principal delas é não colocar 10% do PIB voltado para a educação, pelos motivos que já discutimos, e também pela proposta do custo aluno-qualidade. Parece que estamos investindo em arenas de futebol, aeroportos, e o que sobra fica para a educação. Outra: foram discutidas no Conae formas de aumentar a verba educacional, como destinar 50% do fundo social do pré-sal. O governo tem como se comprometer com isso.
CE: Outro ponto delicado para o cumprimento do PNE são as responsabilidades das esferas federal, estadual e municipal. O governo enviou ao Congresso uma Lei de Responsabilidade Educacional, que serve como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela é suficiente?
IB: A existência dela é bem-vinda. Infelizmente, estamos em um país onde há leis que “colam” e leis que não “colam”. Assim, temos um escudo com o qual defender esses preceitos, é uma base jurídica para cobrar o gestor. Há questões de base partidária. Cito um exemplo: houve, em janeiro, na Unicamp uma discussão sobre o PNE com representantes federais, estaduais e municipais. O representante paulista, professor João Palma, disse que São Paulo não se sente obrigado a acolher passivamente as escolhas do governo federal. Outro ponto: boa parte dos prefeitos não tem recursos para efetivar uma parte do plano, como a questão dos salários. No Ceará, temos 184 municípios e talvez tenhamos dez cidades com algum fôlego administrativo arrecadador. Ou seja, para expansão de creches, o prefeito não tem como efetivar. É preciso ainda clarear mais a forma como o governo federal vai ajudar cada ente federado a aplicar o PNE.
CE: O PNE prevê a valorização do professor, mas há uma articulação para definir quanto. Em que pé está isso?
IB: A meta 17 prevê a valorização do professor de magistério e aproximar o salário desse profissional aos de escolaridade similar. A meta da Campanha Nacional pelo Direito à Educação prevê aproximar em 80% esse rendimento até 2015 e igualar aos de escolaridade similar (curso superior com quatro anos de formação) até 2020, que são as profissões de ensino superior com quatro anos de formação. O Supremo Tribunal Federal entendeu, em abril, como constitucional a lei que prevê um piso nacional salarial para professores. Essa lei, de 2008, dava dois anos – portanto, 2010 – para que todas as redes tivessem planos de cargo e carreira. Mas isso ainda não acontece.
CE: O PNE agora está no Congresso para ser discutido. Que mudanças ainda podem ocorrer?
IB: A ameaça dos lobbies dos grandes grupos empresariais é absolutamente real. Há instituições filantrópicas na área de educação especial, o que pode enfraquecer a proposta de educação especial inclusiva. Outro, fortíssimo, são os grandes cursos que tentam manter a destinação de recursos públicos para a esfera privada, como o ProUni. São questões a se ficar de olho no Congresso.
Foto:José Leomar Souza
fonte: www.janeayresouto.com
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