O PRIMEIRO CLARIM PARTE IV
Ciro José Tavares*
Eu sempre coloquei o pé no freio, na segunda-feira do carnaval, depois da matinê no Aero Clube. Queria recuperar
o fôlego e as forças para o último dia. lavar a fantasia ensopada de
suor e marcada dos jatos dos lança- perfumes. Um banho reconfortante,
boa alimentação, a rede do terraço ventilado. Meu pai a - contar os
casos atendidos no Pronto – Socorro, do qual era o Diretor. Também
apareciam alguns amigos da família falando dos incríveis acontecimentos
do dia, as conversas que rolavam no Grande Ponto e sua algazarra
permanente, sob o comando, ora de Zé Areia, ora de Luizinho Doblecheque,
recolhidos ao quartel- general, na Confeitaria Cisne, do sucesso que
fizera o bloco do Jacu, com seu hino simples terminando com um
estribilho chulo e da pior espécie: “Há jacu, há Jacu; Há jacu no pau”.
Corria uma história com o Dr. Pelúsio Melo, cuja veracidade tenho
minhas dúvidas, mas na coragem e engenhosidade dos atores aposto minhas
fichas. O Dr. Pelúsio era bom de copo e no carnaval sua cuidadosa esposa
não permitia que ele saísse a não ser na sua companhia, pois sabia o
que podia ocorrer. Roberto Freire, Zé Herôncio e Luís de Barros
combinaram, com sua conivência, retirá-lo de casa para uma farra
homérica. Pelúsio, que era médico da Saúde dos Portos, teve a
colaboração do motorista da repartição. Na segunda-feira, pela manhã, a
ambulância da Saúde dos Portos veio à sua, casa na Rua Apodi, buscá-lo
para liberar um navio que aportara na véspera. A tripulação do barco
estava impedida de desembarcar se não tivesse a aprovação da autoridade
sanitária.
Indignado, o médico reclamou, mas a função obrigava seu
comparecimento e a esposa nada podia fazer muito menos acompanhá-lo. O
Dr. Pelúsio tomou seu acento ao lado do motorista. Quando a ambulância
deu partida explodiu a gritaria. Na parte de trás, já bem iluminados
pelo álcool, Roberto Freire, Luís de Barros e Zé Herôncio comemoravam a
liberdade. Na esquina da Avenida Rio Branco, Cancão, dirigindo o carro
de Roberto Freire, abastecido das mais diferentes bebidas e petiscos,
aguardava. A mudança foi rápida, seguida de grandes agradecimentos ao
motorista da ambulância. Não demorou o “raptado” em entornar as
primeiras doses. Teria chegado a casa, é o que contam, na terça-feira,
desculpando-se diante da mulher aflita e revoltada.
O escritor é: Imortal da ACLA/RN
Membro da UBE/RN, Advogado.