A VOZ LITERARIA DO ESCRITOR CIRO JOSE TAVARES - BRASILIA/DF
UMA FAMÍLIA CHAMADA RIBEIRA II
Sim, é o meu espírito que agora caminha pela Ribeira, levado pelas mãos das
lembranças e orientado pelos passos da saudade. Aqui ficava a tatajuba, símbolo
do bairro, vigiando as ladeiras e as Rocas, recebendo a brisa morna do Rio
Potengi. Era sob a larga e generosa sombra da árvore encantadora que os meninos
faziam ponto para discutir as brincadeiras, planejar as aventuras, rir, contar
e lamentar o que lhes era proibido e até a indiferença das moças desejadas,
que, na missa da manhã, negaram-lhes um mísero olhar de compaixão. Foi o meu
tio Cyro, o poeta que a Ribeira não conheceu quem ensinou os caminhos da
tatajuba ao irmão José e aos seus íntimos amigos da família Farache: Vicente,
Carlos e Antônio, também a Joaquim Noronha e a Adriano Rocha. A herança
perdurou até o grupo desfazer-se, quando, maiores, outros caminhos foram
descobertos. A tatajuba desaparecida sempre vem à minha memória quando ouço a
ária Ombra Mai Fu, da ópera Xerxes, de Handel.
Cyro, a quem o mestre Câmara Cascudo dedicou uma Ata Diurna, no Jornal A
República, era paraibano de Bananeiras. Viajara para o Rio de Janeiro para
estudar Direito e exercer o jornalismo que era uma de suas paixões. A
tuberculose destruiu-lhe os sonhos e um futuro brilhante. Voltou para Natal e
morreu esquecido na Ribeira, a mesma Ribeira que hoje está esquecida e
abandonada.
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