UMA FAMÍLIA CHAMADA RIBEIRA III
Amanheceu
o domingo na Ribeira e dentro do silêncio, povoando ruas vazias, tudo parecia
adormecido. O dobre do sino da Igreja do Bom Jesus das Dores, anunciando a
missa das 10 horas, suspendia a quietude e nos poucos calçamentos existentes, o
barulho dos sapatos marcava como um tambor o ritmo da fidelidade cristã de um
rebanho reduzido que célere avançava na direção do templo. As senhoras com seus
vestidos bem talhados, véus rendados sobre os ombros e nas mãos terços e missais.
Os cavalheiros e suas cuidadas fatiotas, barbas aparadas, marchavam a passos
largos admoestando a alegria das crianças.
Terminada
a celebração, havia cumprimentos à porta e depois o regresso pelos caminhos que
voltavam a ser silenciosos. Por inexistir o luxo das serviçais, que nos dias de
hoje, se ocupam da cozinha e da limpeza das casas, as famílias estavam
organizadas para a execução dos serviços, dividindo tarefas Depois a vida espartana
ensinou-lhes que as mesas deveriam ser frugais, mas de boa qualidade. O almoço
era cedo, porque, feita a sesta obrigatória, pelo meio da tarde iam às visitas
ou as recebiam. Essas aconteciam nos generosos quintais, amplos, limpos,
sombreados pelos caramanchões. Cadeiras num círculo e no centro a mesa, coberta
por toalhas brancas, engomadas de fazer inveja, pratos, talheres e guardanapos
arrumados. Logo vinham os fumegantes bules de café, as leiteiras de louça, os
bolos e as jarras de sucos de frutas regionais. Esse era, para as crianças, o
momento culminante, quando paravam a algazarra e vinham disciplinados provar
dos acepipes.
Anoiteceu
o domingo na Ribeira, quando o sol, além do Rio Potengi, corria a deitar nos
lençóis da noite, deixando atrás de si um rasto vermelho que parecia fogo
incendiando o céu.
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