quinta-feira, 5 de março de 2015

A VOZ POÉTICA DO CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF



          A ÚLTIMA TARDE
         

          Foi a última tarde...
Sob aquela cor de chumbo estendida no espaço,
estávamos no alto do penhasco, embaixo o mar revolto.
Relâmpagos riscavam claros no horizonte
 o ribombar distante parecia o galope de trovões ao nosso encontro.
Deixando-me enlaçar-te colaste a cabeça no meu peito
querendo descobrir o que diziam as batidas do coração
enquanto eu mergulhava o rosto no castanho dos cabelos
na vã esperança de permear  teus pensamentos.
A chuva veio forte nas carruagens dos ventos,
fustigando o vermelho das telhas e vidraças das janelas.
Num terno abraço afastei de ti o ar gelado,
 senti que arfavas quando teus seios, úmidos, encostaram  no meu corpo.
E sob aquele céu de chumbo e chuva aconteceu...
Circulados por misteriosa auréola de silêncio os sonhos foram,
fomos nós, nunca mais voltamos nunca mais nos vimos
desde aquela derradeira tarde...

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