Preço de venda e
estratégia empresarial
Tomislav R. Femenick – Autor de “Para aprender
economia”.
As ciências são construções, são
obras coletivas. Poucas são as iniciativas individuais. Um exemplo típico está
nas ciências econômicas, quando se estuda as estruturas do mercado; mais
especificamente do mercado com a presença de oligopólio; isso é, quando poucas
empresas vendem um mesmo produto que não pode ser substituído por outros com o
mesmo resultado para os consumidores. Quatro cientistas – dois franceses, um
norte-americano e um alemão – em épocas e em lugares diferentes desenvolveram
teses que se complementam, muito embora seus estudos tenham sido realizados de
forma individual, sem que nenhum deles tenha recorrido aos estudos dos outros.
Isso num período de tempo que vai do século XIX ao século XX.
Uma das ramificações da teoria da empresa – um dos setores da
microeconomia – estuda as diversas estruturas de mercado da oferta, no que se
refere ao número de agentes e a forma como eles agem; os diferentes níveis de
concorrência, que vão da concorrência perfeita ao monopólio. Não menos importantes
são as formas de mercado com oligopólio, que exige a integração das decisões
estratégicas das empresas componentes, de tal forma que a alteração unilateral
nas quantidades produzidas ou nos preços de venda de uma delas provoca igual reação
das rivais. Essa ocorrência é objeto de estudo, de modelos explicativos do
funcionamento de oligopólios e duopólios, entre os quais se encontra o Modelo
de Bertrand (Paradoxo
de Bertrand ou Competição de Bertrand),
desenvolvido pelo economista francês Joseph Bertrand, em 1883.
Esse modelo
é usado em ciências econômicas para evidenciar situações de concorrência
imperfeita. Essa metodologia descreve as interações que existem entre empresas
na definição de preços. Os pressupostos do Modelo de Bertrand são: a) deve haver pelo menos dois fornecedores;
b) os produtos devem ser homogêneos (iguais); c) as empresas não fazem pactos
de preço entre si; d) as empresas concorrem entre si, porém praticam
paralelismo de preços.
Usando esses fatores, o Modelo de Bertrand procura
mostrar que a empresa que tem o menor custo de produção estabelece seu preço de
venda acima desse valor e que as outras tendem a seguir esse valor, até o
mínimo que seja suficiente para cobrir seus custos de produção.
Sigamos
o exemplo típico. Duas
empresas vendem uma mercadoria homogênea, cada uma delas tendo o mesmo custo de
produção e distribuição. Se elas definirem o mesmo preço, as empresas iram
compartilhar o mercado e lucros. Essa é uma situação em que nenhuma delas deve
definir um preço mais elevado do que a outro, pois isso levaria todo o mercado
para a sua rival. Por outro lado, se uma delas reduzir seu peço, mesmo um
pouco, ganharia todo o mercado e teria lucros substancialmente maiores.
Uma vez que ambos sabem disso, a
melhor estratégia somente poderá ser praticada pela empresa que tenho o menor
custo de produção; ela pode reduzir seus custos até que o preço de venda da
concorrente seja igual ao seu custo de produção. O Modelo Bertrand se
complementa com as teorias Cournot, Nash e Stackelberg.
O
modelo idealizado pelo também francês Antoine
Augustin Cournot (conhecido por Competição de Cournot), complementa o
Modelo Bertrand ao introduzir novos fatores: a) existência de impedimento para
entrada de novas empresas no mercado; b) as empresas procuram maximizar o
lucro, porém esse depende das decisões das concorrentes; c) as quantidades
produzidas são estabelecidas entre as concorrentes. Nessas condições, o preço
de mercado é fixado no nível em que a demanda se iguala à quantidade total produzida
por todas as empresas.
Por
sua vez, o Modelo de Nash (ou Equilíbrio
de Nash, base da teoria dos jogos), desenvolvido pelo norte-americano John Forbes Nash Jr. – Prêmio Nobel de Economia, falecido em maio passado – estabelece que dois
jogadores, A e B, estão em um equilíbrio
de Nash se a estratégia adotada por A é a melhor resposta à estratégia
adotada por B e a estratégia adotada por B é a estratégia ótima dada à adotada
por A. Ou seja, nenhum dos jogadores pode aumentar seu ganho alterando, de
forma unilateral, sua estratégia.
Já o Modelo de do alemão Heinrich
Freiherr Von Stackelberg estuda um
sistema em que os concorrentes visam estabelecer quantidades de produção, cuja
estratégia se fundamenta na antecipação que uma empresa pode fazer
relativamente às rivais, criando assim uma situação de assimetria entre as
empresas no mercado. O modelo de Stackelberg é uma concepção de gerenciamento
do mercado, onde a empresa líder faz o primeiro movimento e a de menor
potencial responde a essa ação.
Tribuna
do Norte. Natal 19 jul. 2015.
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