REFLEXÕES DE UMA TERÇA DE CARNAVAL : QUANDO O "POVO" SE SEPAROU DO "POLÍTICO".
Prof. Dr. Wellington Duarte.
Prof. Dr. Wellington Duarte.
No Brasil, país do carnaval mais espetacular da face da terra e da
oposição mais explicitamente canalha desse mesmo planeta, temos muitas
lendas, mitos e histórias populares que recheiam nossa vida social.
Mas, diante de muitos comentários que infelizmente sou obrigado a ler,
cheguei a conclusão que temos aparentemente duas entidade metafísicas e autossuficientes nesse país de Deus : o “povo” e os “políticos”.
O
“povo”, palavra que nasceu com os etruscos, ou seja já faz um tempinho,
foi utilizada por gregos e romanos, e só no século XVIII adquiriu uma
conotação mais ligada com o desenvolvimento da sociedade. O “povo”
nasceu como uma referência aos que poderiam decidir ou que eram
“escolhidos” (“povo de Deus”). O termo “povo” já excluiu pobres, servos,
escravos, etc. Mas no Brasil parece que essa palavra tornou-se ainda
mais enigmática pois “povo” passou a ser tudo e nada ao mesmo tempo.
Como assim?
“Povo” passou a significar uma sociedade carente de
“boas pessoas”, ungidas de honestidade que remete aos vestais antigos e
formada por “pessoas esclarecidas”. “Povo” também tornou-se uma palavra
símbolo da hipocrisia. Explico. Numa sociedade contaminada pela
imbecilidade de uma oposição corrupta até a medula e por uma mídia
escancaradamente manipuladora, a palavra “povo” passou a buscar separar a
sociedade de uma “classe” especial : o dos “políticos”.
O
“político”, de acordo com os “esclarecidos”, nada tem a ver com o
“povo”, pois os “políticos” são uma espécie mentirosa, perniciosa e
enganadora, uma pestilência que quase mereceria a “extinção” por ser tão
corrupta, dai o termo “nós”, para referir-se ao “povo” e “eles”, para
referir-se à essa espécie abjeta.
Nas democracias
representativas, surgidas no século XIX, o “povo”, o cidadão, passou a,
pelo voto, a ungir representantes para REPRESENTÁ-LO nos órgãos do
Estado. Esse ato, basicamente calcado na POLÍTICA, faz do cidadão um
agente político. Então por que esse agente político nega seu ato e
renega seu representante? Lembrando que o cidadão que NÃO VOTA, que VOTA
NULO ou VOTA EM BRANCO, é um agente político que ESCOLHEU não
participar do processo POLÍTICO, portanto abdicou de escolher um
representante e, dessa forma, participou da sua escolha.
A
negação do “político”, tão alardeada pela mídia que tenta fazer essa
separação, é um ato maquinado e bem pensado por uma elite que quer
escolher “entre os seus”, mais bem preparados e sintonizados com seus
interesses do que o “povo”, o populacho burro que só faz escolha errada.
Portanto buscar separar o “político” do “povo” é uma tentativa de tirar
a responsabilidade do cidadão que elege seu representante num sistema
deformado e elitista e que não culpa o sistema e sim a sí mesmo, e que
como o culpado nunca é culpado, elege-se o “politico” como o bode
expiatório.
No país em que juízes tem poderes inquisitórios; em
que meia dúzia de delegados deformam toda uma instituição; em que parte
do procuradores do Ministério Público são narcisistas empedernidos; em
que a “liberdade de imprensa” é sinônimo de canalhice midiática; e que a
oposição é golpista, o “povo” e o “político” se transformaram em
fantasmas de uma comédia de horror.
Viva o Brasil!
Nenhum comentário:
Postar um comentário