SOBRE GATOS E LAMBÕES
Tomislav R. Femenick
(www.tomislav.com.br)
Há
palavras que nos dizem tudo, embora os dicionários nos atrapalhem o
entendimento sobre elas. Lambão é uma dessas palavras. Os dicionários dizem que
é aquele que é lambareiro, lambuzão, lambarão, tolo, palerma, parvo, ávido por lambarices, que executa grosseiramente as suas
tarefas, que é bruto, grosseiro, estúpido. Na vida real lambão é aquele que
lambuza, que lambe, que passa a língua em alguma coisa e assim vive a fazer. O
maior exemplo de lambão são os gatos. São lambões por natureza. A imagem
exemplar dos gatos que se tem é um animal deitado a se espreguiçar e se lamber.
Aliás, os gatos têm outra qualidade bem própria deles: são uns tremendos
oportunistas. Só querem levar vantagens em tudo. Beneficiam-se
de tudo, de tudo tiram proveito e para nada contribuem. Não defendem as casas
dos seus donos, não latem quando os ladrões entram em suas casas e não balançam
o rabo para os seus donos. Somente miam quando estão com fome.
Espelhados
nos gatos, também há muitos humanos que se comportam como eles. Têm ótimas
apareças, fica quieto, somente esperando a oportunidade para obter proveito,
tirar ganho e lucro de qualquer oportunidade. São manhosos como os gatos de
verdade, oportunistas como eles e como eles uns tremendos lambões. São os
homens e as mulheres gatos.
Essa
alomorfia (passagem de uma forma para outra, metamorfose), essa transformação
do estado de ser humano para gato e vice-versa parece ser mais acentuada
naqueles homens e gatos que têm o nome de Bill. Apesar de ser viciado em trabalho, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton
era um desses homens gato. Foi um dos melhores dirigentes da história
recente dos Estados Unidos, mas era um tremendo lambão. Gostava de lamber
charutos umedecidos com fluidos vagínico de uma estagiaria, uma tal de Monica
Lewinsky – uma tremenda baranga, diga-se de passagem. Por causa disso, se
tornou o segundo presidente estadunidense a sofrer um processo de impeachment,
mas acabou sendo absolvido e teve as mais altas taxas de aprovação pelo povo do
seu país; 58% de imagem positiva. A lição que se tira desse episódio é que se é
lambão, mas não tira vantagem, o povo aprova.
Agora,
imagine você, se a historia for outra. Se o personagem fosse um gato de verdade,
lambão como todos os gatos e, ainda por cima, quiser se dar bem com o dinheiro
do governo, do povo. Parece impossível, parece até conto do Trancoso1.
Mas não é. De vez em quando, em nosso país as historia da carochinha viram
verdade. O gato Byll tinha nome e sobrenome (da Silva Rosa) e recebia os
benefícios da Bolsa Família juntamente com dois irmãos fantasmas, desde o
inicio de 2008. Tudo isso foi lambança e obra do seu dono, o funcionário
público Eurico Siqueira da Rosa, coordenador da Bolsa Família no Município de
Antonio João, em Mato
Grosso do Sul. O desvio
ético foi descoberto somente porque o gato Byll não compareceu ao posto de
saúde local, como manda o programa.
Quantos
outros Byll existem no Bolsa Família? Certamente ele não era o único caso de
esperteza, de maracutaia existente nesse programa que envolve milhões de
brasileiros e que não tem quase nenhuma fiscalização. Nem em todo lugar há a
atuação de agentes de saúde, como aquele que foi atrás do gato fujão do posto
de saúde. O que existe são postos de saúde que não têm médicos, enfermeiros ou
simples atendentes.
O
Rio Grande do Norte é um exemplo da calamidade na saúde pública e de outras
mais: de escolas desaparelhadas e sem professores, de falta de segurança
pública e falta de água e esgotamento sanitário. Por outro lado eu, você e
todos nós temos certeza que por aqui há muitos desses gatos. Como os que estão
roubando nas redes de água e luz e nos gabinetes de vereadores e deputados, e
em repartições e empresas governamentais dos três poderes. Tudo isso pago com o
dinheiro dos impostos que eu, você e todos nós pagamos.
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Em 1575, Gonçalo Fernandes Trancoso publicou
em Portugal o livro “Contos e histórias de exemplo”, que passou a ser uma
referência de contos populares. Daí a expressão “conto do Trancoso”, que para cá veio com os nossos colonizadores.
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