segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A CRÔNICA DO DOUTOR CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF

MÁSCARAS
Ciro José Tavares•


A Ribeira é e sempre será um bairro de silêncios e reflexões, discretamente boêmio, poético nos seus quadrantes habitados por gente humilde, hoje, infelizmente, submetida à longa e quase irreversível hemóstase promovida pela incapacidade do poder público. O evento “Muitos Carnavais” deve ter sido concebido com o intuito de reacender a Ribeira e dizer à cidade que ela existe e ainda pode dar frutos.
A Ribeira não precisa desse barulho. É verdade que no passado distante, quando morávamos ali e éramos poucos, no tríduo carnavalesco pierrôs, palhaços e colombinas invadiam nossas ruas, embalados pelas marchas-rancho. À noite a nobreza dos gestos fluía nos bailes, quando se fazia a corte às mulheres escondidas nas indumentárias longas e largas, complementadas pelas máscaras venezianas. Isso jamais será reconquistado.
A voz saudosa da Ribeira repudia a azáfama. Nosso processo de emersão passa pelo planejamento eficiente em longo prazo. Gostaríamos que nos redefinissem as fronteiras, que viessem vidas e, aqui fixadas, nos dessem vida. Nossa autonomia comercial é quase tudo e precisa ser estimulada. O reaproveitamento da linha férrea como metrô de superfície e a despoluição do rio são metas vitais na travessia do regresso. Imagino-me uma espécie de Quartier Latin à margem direita do Potengi. Bares e cafés freqüentados pelos estudantes e intelectuais, saídos das salas de aulas, livrarias e bibliotecas, sob o curioso olhar dos turistas que chegam para apreciar nossas diferentes atividades artísticas, espalhadas pelos interiores dos imóveis, dantes casas de mulheres de má vida, agora reformadas, limpas, claras, ainda assim receptivas.
A inércia assombra-me e a espera da Ribeira, sofrida e demorada, parece o verso da Balada do Velho Marinheiro, de Samuel Taylor Coleridge:

“Dia após dia, dia após dia,
sepultamo-nos sem ar,sem movimento.
Inútil barco imaginário
navegando um oceano pintado.”

Dou a impressão do canguleiro, ao mesmo tempo utópico e angustiado.Não importa. Destruída como está ou, amanhã, recoberta pelo areal de antigamente, ainda viverei, liberto ao sol e à brisa do oceano, para revisitá-la vezes repetidas.

• Advogado e escritor
ciroitaca@terra.com.br

DR. CIRO TAVARES - TENHO ORGULHO EM SER SUA ORIENTANDA LITERÁRIA.


APENAS UMA LÁGRIMA
Ciro José Tavares
“Somente através do tempo é o tempo conquistado”.
T. S. Eliot, in Burnt Norton

Não é sonho, estou ouvindo: Sou apenas uma lágrima.
Ruas sombrias da Ribeira mergulhadas nas saudades,
portas fechadas não respondem ao meu chamado
porque abandono toma conta e não tem voz.
Não é miragem ver conversa de silêncios nas esquinas,
Contando dos antigos que não regressarão.
Hoje, manhãs e tardes chegam anoitecidas,
a Ribeira sangra e quieta chora consolada
pelas preces na Igreja do Bom Jesus das Dores.
Não é sonho, ouço os lamentos da Ribeira:
Minha vida o rio Potengi entregou ao oceano


e apenas uma lágrima foi o que restou.

ANTONIO CARLOS DAYRELL É POESIA, É SUCESSO E É NOTICIA!

ESCRITORES

Affonso Romano de Sant'Anna e Antônio Carlos Dayrell

O poeta Antônio Dayrell obteve sucesso ao apresentar sua exposição “POESIA PARA PARAR O TEMPO”, durante a SIPAT - Semana Interna de Prevenção de Acidentes de trabalho (25 a 27 de outubro de 2011), na Câmara Municipal de Belo Horizonte a qual abordou o tema: "Tempo Para Que Te Quero". Affonso Romano de Sant'Anna, jornalista, poeta e cronista, depois de apresentar palestra na abertura do evento e falar a respeito de "A Descoberta do Tempo no Caminho da Maturidade", visitou a exposição de Dayrell que na ocasião, lhe ofertou o livro de sua autoria. Affonso lhe agradeceu dizendo: "Foi muito bom voltar a Minas, e ver seu trabalho do qual eu já ouvira falar. Parabéns!" (Jornal Gazeta Montense)
MAIORES DETALHES VEJA NO BLOG:
www.poesiadelivery.blogspot.com

domingo, 19 de fevereiro de 2012

RECORDANDO MANUEL BANDEIRA - CIRO TAVARES - CEARÁ MIRIM/RN - BRASILIA/DF

Epílogo

Manuel Bandeira

Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um carnaval todo subjetivo:
Um carnaval em que o só motivo
Fosse o meu próprio ser interior.....
Quando acabe,i -- a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade...
E o meu tinha a morta mortacor
Da senilidade e da amargura...
O meu carnaval sem nenhuma alegria !...

A EXPRESSÃO POÉTICA DO DOUTOR VALDECY ALVES - FORTALEZA/CE


A LONGA NOITE...

Ah, meu povo! Meus tristes irmãos,
Que longa noite vocês atravessam!
Não de 12 horas. Não de um dia
Não de uma semana...
Mas uma longa noite de meses!
Que demorado é o sol do novo dia
Não há lua, nem estrelas...
Sequer vagalumes errantes!
Sem esperança! Reféns de um presente
Que será escondido no futuro
Nas sombras da história!
Pois foram traídos, traíram-se
Ao tempo que a traição fervilha!
Cozendo-os impiedosamente
A criatura devora o criador!

Que trevas! Que escuridão!
E sopra o vento da necessidade
E troveja o terror das facções egoístas
Relampejando incessantemente a inquietação.
... Enquanto o pêndulo do tempo
Faz-se monótono e enfadonho!
Não pode haver treva maior
Nem pior sinal de decadência
Quando a esperança
Deixa de direcionar-se para o futuro!
Para ser a esperança
Do retorno ao pior vivido
No deprimente passado!
É hora de tornar-se cinzas
Para renascer! Cada um
E todos coletivamente

Necessidade e ignorância
Demagogia e oportunismo
Excesso de personalismo de governos
Submissão sem fim do governado
Só podem conduzir à escravidão!

Mas o sol haverá de vir
E a energia de sua luz
Virá da força do trabalho
Da autonomia verdadeira
Do exercício da liberdade plena
Da ação construtora
Da utopia tão sonhada!
E chegará um dia
Que de tanta luz
De saber e consciência
De Alegria e da não necessidade
Que a existência da mais pura escuridão
Não passará de uma lenda
No coração dos poucos supersticiosos!
Mas para isso e preciso luta
Necessária reação
A liberdade, a paz, a alegria
O triunfo e a glória
Só podem ser colhidos
Onde antes houver plantação!
Hora de revolucionar-se
E revolucionar!
Levantem-se! Não fiquem de joelhos!
Só de pé pode-se
Arar o chão para raízes do sonhado!
CHEGOU A HORA DE NOVA PLANTAÇÃO
SOBRE AS CINZAS DO QUE HAVIA OUTRORA!
RENASCER E REVOLUÇÃO!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A VOZ LITERÁRIA DE CIRO JOSÉ TAVARES- BRASILIA - DF

A origem da língua Italiana

A Europa era uma confusão de inúmeros dialetos derivados do latim que aos poucos, ao longo dos séculos, se transformaram em alguns idiomas distintos – francês, português, espanhol, italiano.

O que aconteceu na França, em Portugal e na Espanha foi uma evolução orgânica: o dialeto da cidade mais proeminente se tornou, aos poucos, a língua oficial da região toda.

Portanto, o que hoje chamamos de francês é na verdade uma versão do parisiense medieval. O português é na verdade o lisboeta. O espanhol é essencialmente o madrilenho. Essas são vitórias capitalistas; a cidade mais forte acabou determinando o idioma do país inteiro.

Na Itália foi diferente. Uma diferença importante foi que, durante muito tempo, a Itália sequer foi um país. Ela só se unificou bem tarde (1861) e, até então, era uma península de cidades-Estado em guerra entre si, dominadas por orgulhosos príncipes locais ou por outras potências europeias. Partes da Itália pertenciam à França, partes à Espanha, partes à Igreja, e partes a quem quer que conseguisse conquistar a fortaleza ou o palácio local.

O povo italiano se mostrava alternativamente humilhado e conformado com toda essa dominação. A maioria não gostava muito de ser colonizada por seus co-cidadãos europeus, mas sempre havia aquele bando apático que dizia: “Franza o Spagna, purchè se magna” que, em dialeto, significa: “França ou Espanha, contanto que eu possa comer”.

Toda essa divisão interna significa que a Itália nunca se unificou adequadamente, e o mesmo aconteceu com a língua italiana. Assim, não é de espantar que, durante séculos, os italianos tenham escrito e falado dialetos locais incompreensíveis para quem era de outra região.

Um cientista florentino mal conseguia se comunicar com um poeta siciliano ou com um comerciante veneziano (exceto em latim, que não chegava a ser considerada a língua nacional).

No século XVI, alguns intelectuais italianos se juntaram e decidiram que isso era um absurdo. A península italiana precisava de um idioma italiano, pelo menos na forma escrita, que fosse comum a todos. Então esse grupo de intelectuais fez uma coisa inédita na história da Europa; escolheu a dedo o mais bonito dos dialetos locais e o batizou de italiano.

Para encontrar o dialeto mais bonito, eles precisaram recuar duzentos anos, até a Florença do século XIV. O que esse grupo decidiu que a partir dali seria considerada a língua italiana correta foi a linguagem pessoal do grande poeta florentino Dante Alighieri.

Ao publicar sua “Divina Comédia”, em 1321, descrevendo em detalhes uma jornada visionária pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, Dante havia chocado o mundo letrado ao não escrever em latim. Considerava o latim um idioma corrupto, elitista, e achava que o seu uso na prosa respeitável havia “prostituído a literatura”, transformando a narrativa universal em algo que só podia ser comprado com dinheiro, por meio dos privilégios de uma educação aristocrática. Em vez disso, Dante foi buscar nas ruas o verdadeiro idioma florentino falado pelos moradores da cidade (o que incluía ilustres contemporâneos seus, como Boccaccio e Petrarca), e usou esse idioma para contar sua história.

Ele escreveu sua obra-prima no que chamava de dolce stil nuovo, o “doce estilo novo” do vernáculo, e moldou esse vernáculo ao mesmo tempo que escrevia, atribuindo-lhe uma personalidade de uma forma tão pessoal quanto Shakespeare um dia faria com o inglês elizabetano.

O fato de um grupo de intelectuais nacionalistas se reunir muito mais tarde e decidir que o italiano de Dante seria, a partir dali, a língua oficial da Itália seria mais ou menos como se um grupo de acadêmicos de Oxford houvesse se reunido um dia no século XIX e decidido que – daquele ponto em diante – todo mundo na Inglaterra iria falar o puro idioma de Shakespeare. E a manobra realmente funcionou.

O italiano que falamos hoje, portanto, não é o romano ou o veneziano (embora essas cidades fossem poderosas do ponto de vista militar e comercial), e sequer é inteiramente florentino. O idioma é fundamentalmente dantesco.

Nenhum outro idioma europeu tem uma linhagem tão artística. E, talvez, nenhum outro idioma jamais tenha sido tão perfeitamente ordenado para expressar os sentimentos humanos quanto esse italiano florentino do século XIV, embelezado por um dos maiores poetas da civilização ocidental.

Dante escreveu sua “Divina Comédia” em terza rima, terça rima, uma cadeia de versos em que cada rima se repete três vezes a cada cinco linhas, o que dá a esse belo vernáculo florentino o que os estudiosos chamam de “ritmo em cascata” - ritmo esse que sobrevive até hoje no falar cadenciado e poético dos taxistas, açougueiros e funcionários públicos italianos.

A última linha da “Divina Comédia”, em que Dante se depara com a visão de Deus em pessoa, é um sentimento que ainda pode ser facilmente compreendido por qualquer um que conheça o chamado italiano moderno.

Dante escreve que Deus não é apenas uma imagem ofuscante de luz gloriosa, mas que Ele é, acima de tudo, l’amor che move Il sole e l’altre stelle... “O amor que move o sol e as outras estrelas...”

A VOZ LITERÁRIA DE CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA;

A origem da língua Italiana

A Europa era uma confusão de inúmeros dialetos derivados do latim que aos poucos, ao longo dos séculos, se transformaram em alguns idiomas distintos – francês, português, espanhol, italiano.

O que aconteceu na França, em Portugal e na Espanha foi uma evolução orgânica: o dialeto da cidade mais proeminente se tornou, aos poucos, a língua oficial da região toda.

Portanto, o que hoje chamamos de francês é na verdade uma versão do parisiense medieval. O português é na verdade o lisboeta. O espanhol é essencialmente o madrilenho. Essas são vitórias capitalistas; a cidade mais forte acabou determinando o idioma do país inteiro.

Na Itália foi diferente. Uma diferença importante foi que, durante muito tempo, a Itália sequer foi um país. Ela só se unificou bem tarde (1861) e, até então, era uma península de cidades-Estado em guerra entre si, dominadas por orgulhosos príncipes locais ou por outras potências europeias. Partes da Itália pertenciam à França, partes à Espanha, partes à Igreja, e partes a quem quer que conseguisse conquistar a fortaleza ou o palácio local.

O povo italiano se mostrava alternativamente humilhado e conformado com toda essa dominação. A maioria não gostava muito de ser colonizada por seus co-cidadãos europeus, mas sempre havia aquele bando apático que dizia: “Franza o Spagna, purchè se magna” que, em dialeto, significa: “França ou Espanha, contanto que eu possa comer”.

Toda essa divisão interna significa que a Itália nunca se unificou adequadamente, e o mesmo aconteceu com a língua italiana. Assim, não é de espantar que, durante séculos, os italianos tenham escrito e falado dialetos locais incompreensíveis para quem era de outra região.

Um cientista florentino mal conseguia se comunicar com um poeta siciliano ou com um comerciante veneziano (exceto em latim, que não chegava a ser considerada a língua nacional).

No século XVI, alguns intelectuais italianos se juntaram e decidiram que isso era um absurdo. A península italiana precisava de um idioma italiano, pelo menos na forma escrita, que fosse comum a todos. Então esse grupo de intelectuais fez uma coisa inédita na história da Europa; escolheu a dedo o mais bonito dos dialetos locais e o batizou de italiano.

Para encontrar o dialeto mais bonito, eles precisaram recuar duzentos anos, até a Florença do século XIV. O que esse grupo decidiu que a partir dali seria considerada a língua italiana correta foi a linguagem pessoal do grande poeta florentino Dante Alighieri.

Ao publicar sua “Divina Comédia”, em 1321, descrevendo em detalhes uma jornada visionária pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, Dante havia chocado o mundo letrado ao não escrever em latim. Considerava o latim um idioma corrupto, elitista, e achava que o seu uso na prosa respeitável havia “prostituído a literatura”, transformando a narrativa universal em algo que só podia ser comprado com dinheiro, por meio dos privilégios de uma educação aristocrática. Em vez disso, Dante foi buscar nas ruas o verdadeiro idioma florentino falado pelos moradores da cidade (o que incluía ilustres contemporâneos seus, como Boccaccio e Petrarca), e usou esse idioma para contar sua história.

Ele escreveu sua obra-prima no que chamava de dolce stil nuovo, o “doce estilo novo” do vernáculo, e moldou esse vernáculo ao mesmo tempo que escrevia, atribuindo-lhe uma personalidade de uma forma tão pessoal quanto Shakespeare um dia faria com o inglês elizabetano.

O fato de um grupo de intelectuais nacionalistas se reunir muito mais tarde e decidir que o italiano de Dante seria, a partir dali, a língua oficial da Itália seria mais ou menos como se um grupo de acadêmicos de Oxford houvesse se reunido um dia no século XIX e decidido que – daquele ponto em diante – todo mundo na Inglaterra iria falar o puro idioma de Shakespeare. E a manobra realmente funcionou.

O italiano que falamos hoje, portanto, não é o romano ou o veneziano (embora essas cidades fossem poderosas do ponto de vista militar e comercial), e sequer é inteiramente florentino. O idioma é fundamentalmente dantesco.

Nenhum outro idioma europeu tem uma linhagem tão artística. E, talvez, nenhum outro idioma jamais tenha sido tão perfeitamente ordenado para expressar os sentimentos humanos quanto esse italiano florentino do século XIV, embelezado por um dos maiores poetas da civilização ocidental.

Dante escreveu sua “Divina Comédia” em terza rima, terça rima, uma cadeia de versos em que cada rima se repete três vezes a cada cinco linhas, o que dá a esse belo vernáculo florentino o que os estudiosos chamam de “ritmo em cascata” - ritmo esse que sobrevive até hoje no falar cadenciado e poético dos taxistas, açougueiros e funcionários públicos italianos.

A última linha da “Divina Comédia”, em que Dante se depara com a visão de Deus em pessoa, é um sentimento que ainda pode ser facilmente compreendido por qualquer um que conheça o chamado italiano moderno.

Dante escreve que Deus não é apenas uma imagem ofuscante de luz gloriosa, mas que Ele é, acima de tudo, l’amor che move Il sole e l’altre stelle... “O amor que move o sol e as outras estrelas...”