terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A EXPRESSÃO POÉTICA DE CLEMILSON DE SENA FELIPE

Prof. Clemilson,

homem de voz mansa,

jeito calmo, olhar sereno.

Um amor de pessoa e um excelente poeta, mais um dos seus trabalhos inéditos!

A SAGA DE UMA FAMÍLIA NORDESTINA

Subtítulo: Uma história sem fim

Propósito: Desafiar o raciocínio do leitor para que ele imagine um fim para este poema.

Maltratado pelo sol numa seca secular,

Era meados de trinta ou mais pra lá ou mais pra cá,

Família grande oito filhos pra criar,

Vivia da lavoura há muitos anos,

Faltava chuva pra plantar.

Em casa não tem mais nada a farinha acabou,

Os meninos tão doentes, nunca mais viram o doutor,

Peço, clamo, choro em pranto,

Me ajude aqui meu senhor.

Meu jumento magricela,

Meu cachorro nem corre nem late mais,

Meu papagaio nem tagarela nem trela,

Fica triste enfomecido pendurado na janela,

Lamentando, jamais, jamais satanás.

Minha fiel companheira Ana Maria Salomé,

Olha chorando pra mim dizendo:

Em nome do coração mais sagrado,

Vamos embora daqui Rafaé.

Olho a minha Salomé,

Olho para os quatro cantos,

Os meus filhos arreados,

Da barriga escuto os roncos,

Valei-me minha senhora,

Valei-me padrinho ciço.

Arrumo minha carroça encho de gente e de bicho,

O papagaio imprensado reclama esgoelado,

Aqui tá pior que um funil,

Duque, pobre cachorro o latido já sumiu.

Pego a estrada enfrento a seca,

Vou indo no pé da cerca pra ver se vejo um preá,

A fome ninguém agüenta,

A cabeça aquece, esquenta.

A carroça é uma festa,

Torta, tronxa não tem peça,

Parece até carnavá,

O burrico enfraquecido geme até pelo ouvido,

Nem sei se vamos chegar.

Caminhando sem destino,

Sem saber onde chegar,

Olhar meio horizontino,

Pra ver se vejo um lugar,

Me deparo com uma ladeira,

Ou melhor, subida inteira,

Valha-me deus como vou ultrapassar.

Jumentinho tá andando,

Parece dançar um tango,

Um pra qui dois pra culá,

Me ajude meu padrinho.

Se cair não vai mais se levantar.

Chego no pé da ladeira,

Que parece uma serpente,

Maldita, alta de pedra quente,

Olho desanimado,

Como se eu dissesse:

Senhor! tenha pena da gente!!

Os meninos descem todos,

Salomé fica de pé,

Tento animar roxinho,

Coragem, coragem jumentinho,

Aqui quem fala é Rafaé.

O bicho parece não ouvir,

Digo meninos ajuda aqui,

Sozinho roxinho não vai subir,

Aja força, empurra, empurra,

Roxinho só faz rinchar,

As pernas não tem mais força,

Roxinho vai desmaiar.

O animal solta um ronco,

Parecido com um trovão,

Da os primeiro passos,

Deixando riscos no chão,

E vai subindo a ladeira,

Os meninos já sem força começam a esmorecer,

Orlandinho é o primeiro parece que vai morrer,

Coitadinho tá doente não come nada há dias,

Nem gente tem pra socorrer.

Enquanto isso.

Ta lá roxinho,

Ta lá rafaé

Roxinho não agüentou,

Rafaé se ajoelhou, implorando,

Ajude nosso senhor.

Sem força para seguir,

Roxinho ficou pra trás,

Os meninos o cachorro,

E também o papagaio,

Seguiram com Salomé

Orlandinho bem doente,

Nos braços de Rafaé.

Sem o jumento companheiro,

O grupo seguiu a pé,

No meio daquela Caatinga,

Que só urubu se anima,

Oração e muita reza,

Eram alimentos da fé...

Autor: Clemilson de Sena Felipe


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