ORATE FRATES
“irmãos humanos que ainda viveis,
Não sejais corações endurecidos;
Tendo pena de nós, pobres, talvez
De Deus sereis mais cedo merecidos.”
François Villon, in Epitáfio Villon
Nas vidas de muitas esquinas perigosas
Uma delas contornei há alguns anos,
e espiei suspenso na incerteza o vir da noite
murmurando expectante, kyrie eleison.
Outra vez o tempo parece refluir
às recomendações de minha mãe,
voz quase inaudível sem a antiga fortaleza,
ao silêncio do pai nos idos do seu último agosto.
Na repetição do mistério que nos ronda,
como se fossemos submersos num redemoinho,
retornando do fundo à tona por milagre,
devemos à diuturna companhia do Espírito Paráclito.
É quando voltamos à infância, à capela do colégio,
aos terços rezados na metade das manhãs.
É quando queremos crer sem lavar as nossas culpas,
fugimos, renunciamos à pia batismal,
ao catecismo que nos levou à primeira comunhão.
Cúmplices que somos de lógica absurda
fazemos parte da existência ficção espiritual,
cegos à angústia nos jardins de Grtsêmani,
incapazes de vigiar, mudos à oração.
Ao amanhecer, alegres celebramos o futuro
esquecidos do cálice do perdão e do amor nas nossas mesas.
Ah! Doloroso martírio não saber da próxima esquina perigosa,
da via crucis, crucificação dos pecadores.
Ao vir da noite lave-me o Cordeiro nas águas do Jordão
e puro eu adormeça entre as sarças ardentes do Sinai.
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