Para onde está indo o dinheiro do povo?
Tomislav R. Femenick – Professor e autor de livros de contabilidade,
economia e administração
Quando aluno de economia aprendi
que, em qualquer circunstância, os recursos são escassos; portanto há que se
planejar o seu uso. Como aluno de administração, foi-me ensinado que o emprego
dos recursos deve priorizar duas vertentes: atender o que é mais urgente e o
que pode gerar mais resultados; pois todo resultado não obtido é perda
financeira ou de objetivo. As aulas de contabilidade gerencial fecharam a
compreensão do assunto: quando não planejado, qualquer investimento pode se
tornar fonte de prejuízo.
No meu artigo anterior apontei
dois investimentos públicos realizados sem o mínimo cuidado, sem a mínima
preocupação de planejamento: a ponte Newton Navarro e o Aeroporto de São
Gonçalo do Amarante. Foi o bastante para que eu recebesse e-mails de vários leitores,
com sugestões para temas de novos artigos enfocando desperdiço do dinheiro
público.
Selecionei alguns dessas
propostas, limitando-as às obras inacabadas. Calcula-se que no país existam
cerca de 30 mil obras públicas inconclusas, abandonadas, que não estão servindo
em nada para o povo; o pagador dos impostos que geram a renda do governo. Mas
aqui vamos falar somente no que acontece no Rio Grande do Norte. E vamos
começar pelo estado incompleto das vias de acesso ao aeroporto. Além dos
transtornos causados aos passageiros, as obras incompletas transformaram o
sistema viário de Macaíba e São Gonçalo do Amarante em um verdadeiro
inferno para seus moradores, pois o transito de veículos pesados em vias
urbanas tem causando custos adicionais para esses Municípios.
Em janeiro de 2010, o governo do
Estado anunciou (e até exibiu uma maquete) aquilo que seria a Cidade da Ciência.
A estrela maior do projeto seria um planetário adquirido em 2008, pelo valor de
R$ 1,3 milhão. Dele também faria parte um Laboratório de Ciência Itinerante.
Nada disso saiu do papel e o caro planetário “está acondicionado, sem uso, em
depósito da 1ª Unidade Regional de Tributação, localizada na Avenida Capitão
Mor Gouveia, em Natal”.
Em 2005 foi lançado com ampla
divulgação o projeto Ecocentro-Centro de Documentação e Estudos Ambientais, que
contaria com biblioteca especializada, sala de aula informatizada, salas de
reunião, a sede do Conema, etc. Na segunda etapa seria implantado o Centro de
Gestão Ambiental, abrigando as sedes da Semarh, Idema e Igarn, com um
investimento de mais R$ 20 milhões. Tudo estava prevista para ser entregue em fevereiro
de 2010 só foi inaugurado em dezembro de 2014, porém sem oferecer condições
para instalação do Idema. O prédio foi entregue sem a estrutura elétrica,
hidráulica e refeitório.
Construído no cruzamento das
avenidas Jaguarari e Mor Gouveia, a Central de Comercialização da Agricultura
Familiar custou R$ 1,4 milhão, foi inaugurada em 2010 e nunca funcionou.
Deveria beneficiar 200 famílias. Passados cinco anos, suas instalações estão
danificadas ou foram saqueadas – cobertura, banheiros e cozinhas. No ano
passado a Central foi ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. No
local há a construção de uma caixa d’água; a conclusão é que o prédio teria
sido inaugurado sem estrutura hidráulica.
O Presépio de Natal foi
inaugurado em dezembro de 2006 e custou R$ 1,7 milhão aos cofres públicos. É
importante por três aspectos: primeiro porque poderia se transformar em um ponto
de atração turística; segundo, por possuir um belo mural pintado por nosso
maior artista plástico Dorian Gray Caldas, e por se tratar da primeira obra
projetada por Oscar Niemeyer para a nossa capital. Porém o cenário é de completo
abandono. O local foi transformado de abrigo para moradores de rua, já foi
danificado por pichadores e acumula lixo por toda parte. Para funcionar necessita de mais recursos, algo em torno de R$ 2,0
milhão.
Outra grande obra abandonada é a
do Hospital Terciário de Natal, na qual já foram gastou cerca de R$ 25 milhões.
O hospital teria 150 leitos e atenderia doentes que necessitassem de tratamento
de câncer. É intenção do atual governo do Estado reiniciar sua construção,
aproveitando o que der.
Mas nem só grandes obras paradas
causam prejuízos e danos à população. Exemplos são a estrada que liga a BR-101
à Pipa e as adutoras do Alto Oeste do Estado. A falta da primeira inibe o
turismo, a falta das adutoras aumenta o problema de falta d’água das cidades
daquela região. Em Massaranduba, uma quadra de esportes estaria abandonada,
cheia de sujeira e com serviços de reforma (que já duraria três meses) pela
metade. Em Poço de Pedra, as obras da creche estariam paradas e sem previsão de
quando ficaram prontas.
A conclusão que se tira é tudo é
feito sem planejamento. Se der certo, tudo bem. Se não, se paralisa a obra. Parece
até que os nossos governantes governam para as manchetes, para as fotos de
lançamento de empreendimentos e inauguração de obras inconclusas.
Quanto ao custo, ora... o povo
paga.
Tribuna do
Norte. Natal, 26 abr. 2015.
FONTE: recebi por e-mail.