Artigo de:
Tomislav R. Femenick
Mestre em Economia,
com
extensão em Sociologia
Assistindo a televisão, ouvindo o
rádio ou lendo os jornais e revistas, as notícias dos tempos atuais nos deixam
com a sensação de que estamos vivendo uma era de incertezas absolutas. O que
sai dos noticiários é um mundo errático e ciclotímico, isso é, com predisposição
para a vagabundagem moral e para alternâncias de comportamento. Se pensarmos
bem, já faz algum tempo que essa maneira de encarar a vida vem se insinuando no
dia-a-dia da sociedade humana.
Segundo algumas teorias da
antropologia social, a origem da civilização estaria, em grande parte, na
contenção dos impulsos primitivos do ser humano. A evolução dos indivíduos teria
ocorrido quando as pessoas deixaram de fazer uso dos seus impulsos instintivos,
cedendo às regras de conduta que a sociedade espera dos indivíduos. Esse
conceito nada mais é do que a interpolação do pensamento freudiano sobre as três
instâncias do aparelho psíquico: o “id”, a área dos impulsos instintivos da
personalidade e reservatório inicial da energia psíquica; o “ego”, dividido em
duas camadas, uma interna, influenciada pelos impulsos instintivos, e outra
externa, que age no plano consciente; e, finalmente o “superego”, que atua como
mecanismo inibitório sobre o ego. Agindo concomitantemente, ao mesmo tempo, o
id, o ego e o superego gerenciariam as situações de conflito do comportamento
humano, submetendo o comportamento individual às regras determinadas pela razão
coletiva.
Somente recorrendo a esses
conceitos é que se percebe o movimento regressivo do processo civilizatório.
Quando as pessoas abandonam o comportamento ditado pelas instâncias do aparelho
psíquico, o que passa a existir é, simplesmente, a predominância dos instintos
primitivos, uma desadaptação permanente que se traduz por uma agitação
perturbadora de atitudes contrárias às normas da sociedade, uma impulsão do
indivíduo em desequilíbrio com o ambiente em que vive. Quando isso acontece é
porque a razão lógica individual é impotente para opor freios que conduzam à
conduta esperada pelo grupo. O resultado é uma desadaptação permanente, que se
traduz em agressividades gratuitas.
Quando
os governantes apregoam, despreocupadamente, suas estripulias políticas, traições
maritais e identificam seus amantes; quando famosos têm comportamento erráticos
e escandalosos ou mesmo quando saem do
armário para proclamar suas preferências sexuais, nada mais estão fazendo
do que sobrepor seus instintos ao padrão social. Nada contra que tenham seus
amantes, suas preferências sexuais não ortodoxas e que tomem seus porres de vez
em quando. Isso é problema de fórum íntimo. Mas não há porque transformá-los em
assunto público. Há quem diga que guardá-los seria hipocrisia, simulação,
falsear a realidade. O problema não é negar o que se faz; o problema é tratar o
que se faz na privacidade como se fosse um assunto de interesse público. Chamar
a atenção para as originalidades individuais,
em nome de qualquer outra coisa de não seja “busca de vitrine” para aparecer, é
que é hipocrisia em dose cavalar.
Durante os anos vitorianos (de
1837 a 1901 – período do reinado da rainha Vitória, e quando a Inglaterra era a
rainha do planeta), o mundo se comportava como se todos fossem epicuristas
abstêmios; dados aos deleites do amor, da mesa e outros mais, porém abstém de
desfrutá-los, cerceados que eram pela moral reinante. Agora parece que tudo é
permitido.
Os exemplos mais notórios dessa
onda de involução são esses chamados reality shows que submetem pessoas do povo, que estão em busca de notoriedade
e dinheiro, a situações vexatórias, quando não ridículas e humilhantes. E isso
acontece no mundo todo, não somente aqui no Brasil. O próprio modelo desses
programas é importado. Hoje, parece até que vivemos em uma sociedade
ciclotímica e errática; que alterna críticas e aplausos aos comportamentos
extravagantes e excêntricos.
fonte: por e-mail
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