A MAIS LONGA DAS ESPERAS
Ao Pedro Simões
“Sob
carvalhos sombreados e escuros, floresciam
as avencas que exalavam um perfume
agradável,
e debaixo das ribanceiras cheias de
musgo
dos cursos d’água pendiam
inumeráveis renques
de samambaias e tinhorões.”
John Steinbeck, in A Leste do Éden
Agora que cruzamos nossas
últimas fronteiras
somos
convidados pelos deuses a lavar
o que
restou das noites derramadas
na
insólita matéria que nos cobre.
Vamos
pelas mãos de Tétis que de Peleu gerou Aquiles,
para
sermos batizados,outra vez, no azul profundo do Egeu,
depois vestir-nos com a sagrada túnica de Nessos.
Assim,
puros e libertos, deitaremos nossos olhos saudosos
sobre os vales verdes da nossa
Tessalônica.
E sentiremos
emergir do ventre da terra morena
o
aroma inconfundível das romãzeiras
esquecidas
nos
quintais das casas que deixaram de existir.
Agora nebulosas
horas da existência atravessadas
Somos
espécies raras de armaduras
porque a
mais longa das esperas ainda não nos derrotou.