quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SOLIDARIEDADE NO REINO DA TROVA!

Aos meus irmãos, os trovadores!

Nova Friburgo foi apresentada ao mundo! Mas bem poderia ter sido de outra forma. Seria gratificante se o fato da apresentação tivesse ocorrido por alguns de seus títulos, entre eles: a Cidade das Flores, a Suíça Brasileira, a Capital da Moda Intima, a Cidade Real, a Cidade Parque, o Sol da Poesia, o Berço dos Jogos Florais, a Cidade da Trova, a Meca dos Trovadores. Em todas estas denominações, nosso Município teria motivos de sobra para justificar a razão de tantos cognomes.

Entretanto, infelizmente, “A mais gentil, meiga e formosa Flor das Montanhas do Brasil” passou a ser conhecida, mundialmente, como “a maior catástrofe natural da história do Brasil e a décima do mundo”. É doloroso carregar o peso deste título! Nova Friburgo foi violentada em sua pureza!

Meus Irmãos Trovadores! Vocês que amam esta cidade não a reconhecerão neste momento. O povo chora por tantos irmãos perdidos na catástrofe. São vidas e mais vidas perdidas, numa perda irreparável. Parece que vivemos um “pós guerra”, tamanha a devastação. Onde a correnteza alcançou deixou destroços. Nossos sonhos foram por terra. Montanhas escorregaram, formando cascatas barrentas como jamais se viu; um panorama irreconhecível.

O momento é de tristeza,

os dias estão tristonhos...

ideais na correnteza

e barreiras sobre os sonhos!

A Flor das Montanhas...

Seus dias de sol, risonhos

Hão de florir sobre manhas

A brotar flores nos sonhos.

Deth Haak/ Natal/RN

Aquela paisagem de asseio matinal e aquele ar de brisa perfumada se perderam no cenário sombrio da desolação. O centro da cidade foi afetado em áreas onde jamais se poderia supor a ocorrência de riscos. Bem perto do Hotel São Paulo, muito conhecido por nossos trovadores, na Rua Cristina Ziede, houve uma monstruosa queda de barreira que devastou casas, atravessando a Rua Augusto Spinelli, destruindo uma antiga propriedade, se estendendo para um grande e conceituado estacionamento de carros. Esta região era tida como “nobre”, devido a sua localização central e arborizada. Um anexo do tradicional Colégio Anchieta, logo na entrada do portão principal, foi afetado. A terra desceu com tanta violência que invadiu uma rua em frente, onde os carros ficaram soterrados até o teto. O Hotel Dominguez, o preferido de Carolina Ramos, também sofreu danos com a enchente. Idem a Praça das Colônias em sua parte posterior aos estandes. A Praça do Suspiro virou um mar espesso de lama! O cenário é realmente o de final dos tempos! A Igreja de Santo Antônio, construída no Século XVIII, por um maestro português, sobrevivente de um naufrágio, foi invadida pela montanha de terra e junto um carro. Não consigo decifrar como pode ocorrer um enorme buraco no teto da igreja que ficou dividida ao meio, como se fossem blocos. A fachada não caiu, mas está como se fosse um protótipo de novela. Por trás, no trajeto do Teleférico, desceu uma gigantesca fileira da reserva florestal, e o que se vê é uma pedreira, de onde minam águas límpidas, como que chorando o desastre. Logo ao lado, a Praça dos Trovadores, “a menina dos olhos da trova”, foi soterrada, a partir do pórtico, devastando nosso histórico obelisco. O São Francisco de Assis, (presente de Izo Goldman), o busto de Luis Otávio, o quiosque com os painéis resistiram à tormenta, mas a nossa Fonte do Suspiro, “do Amor, Saudade e Ciúme” foi devorada pela fúria das terras. Hoje mesmo, domingo, dia 23, bem cedinho, às 7 da manhã, eu já estava lá, olhando de longe, com binóculo, (devido o difícil acesso) e a minha visão se turvou ao deparar com as máquinas fazendo o trabalho de desobstrução. Nunca poderíamos imaginar tamanha agressão com nossa cidade. E eu estou falando apenas dessas partes centrais que são familiares aos nossos irmãos. Para que vocês tenham ideia do volume de águas do Rio Bengalas, aqui na minha região, na parte baixa do meu bairro, a correnteza do rio encostou nos telhados dos abrigos dos pontos de ônibus. Muitas localidades destroçadas. Não há tradução literária que dê conta de transmitir o infortúnio! A palavra “escombros”, muito usada poeticamente, dói agora, no sentido verdadeiro!

Quando a vida vira “escombros”,

no sentido verdadeiro,

suportar peso nos ombros

é um milagre derradeiro!

Regurgita a natureza

A sanha dos predadores

Sem poupar a realeza

A plebe causando dores!

Deth Haak/ Natal-RN

Entretanto, Deus nos concedeu um “entretanto” e o Brasil se mobilizou em SOLIDARIEDADE! O mundo se consternou! Sem contar que nossos irmãos trovadores choraram as nossas dores, porque amam a sua “Meca” e a voz amiga de cada um deles tem sido a canção de alento a semear uma Esperança. Chega a ser bonita essa manifestação de ajuda, vinda de todas as partes do Planeta.

Onde um fio de comunicação leva a nossa desventura, há um retorno em auxílio de alguma forma. Governo Federal, Estadual, Marinha, Exército, Bombeiro, Cruz Vermelha, entidades, voluntários, centenas de outras lideranças se juntaram às forças municipais. É impossível descrever o envolvimento das pessoas, nos trabalhos de buscas, de salvamento, de limpeza, de informação, de tudo o que se pode imaginar de emergencial. A Praça do Turismo, local de chegada nos Jogos Florais, virou o Hospital de Campanha, numa apoteose da salvação. Contracenando com toda a destruição e sofrimento, a boa vontade do ser humano em se entregar à nossa luta. Caminhões e mais caminhões abarrotados de alimentos, roupas, material de limpeza, de higiene, remédios e etc. E a Água Mineral! Eu não sei de onde saiu tanta garrafa de água mineral. O Brasil deu um grande exemplo de solidariedade “em massa”.

E junto a tanta doação, a doação de carinho e de conforto. Pouco se teria realizado nestes primeiros dias de socorro, se não fosse o Amor, o instrumento principal de salvação!

Hoje, terça-feira, dia 25, às 7 da manhã, retornei ao Suspiro e consegui subir até a nossa Praça dos Trovadores, cujo cenário descrevo como um campo de limpeza. Vários homens puxando a lama; o excesso já foi retirado por tratores. O busto de Luis Otávio e a imagem de São Francisco apenas estão respingados pela terra. Já as placas com as trovas ficaram bem sujas pelo barro e assim que o espaço estiver em melhores condições, eu mesma faço questão de me juntar à equipe de trabalhadores, para a limpeza dos painéis.

Meus queridos e queridas, apenas fiz um panorama central de alguns acontecimentos, há muito mais a falar. A nossa realidade é a de uma cidade em caos, que tenta retomar seus primeiros passos, querendo semear no próprio chão devassado, a Esperança de um recomeço.

Nossa força é redobrada,

é preciso confiança,

pois recomeço é uma estrada

que tem nome de Esperança!

Lisa.lis.elisabeth

Travadora e beata

Roga, venha o consolo

E o verso aqui desata

Nó desfazendo o dolo!

Deth Haak/ Natal -RN


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