por Maria Inês Nassif, em Carta Maior
O empenho direto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o apoio de 90% dos vereadores do PT e do chamado grupo sindicalista do partido já praticamente garantiram ao ministro da Educação, Fernando Haddad, a vitória nas prévias que decidirão o candidato petista à prefeitura de São Paulo, marcadas para o dia 27 de novembro. Não é apenas difícil, mas altamente improvável, que qualquer outro pré-candidato, neste pouco mais de mês, atropele o favoritismo do ministro.
Hoje, segundo um dos envolvidos na disputa, Haddad estaria na marca da metade das preferências dos eleitores das prévias; o deputado Jilmar Tatto, que tem um reduto eleitoral forte na periferia da capital, oscila em torno dos 30%; e Marta Suplicy, com seu grupo dividido entre a sua pré-candidatura, a de Tatto e a do deputado Carlos Zaratini, pode ficar numa situação desconfortável na disputa. Concorre também o senador Eduardo Suplicy, com chances quase nulas.
Vencer as eleições do próximo ano, no entanto, é outra história. As avaliações internas são de que o PT, como partido, tem grandes chances de ganhar a prefeitura da maior cidade do país, desde que vá unido para o palanque. E principalmente se ao lado de Haddad estiver a ex-prefeita e atual senadora Marta Suplicy. Hoje, a senadora preocupa menos pelas chances que teria nas prévias e mais pelo apoio que deixaria de dar ao ministro, se ele for de fato ungido candidato pelos militantes.
Embora tenha um alto grau de rejeição, Marta tem um eleitorado que se identifica com ela e não necessariamente vota no PT. O pouco empenho da senadora em favor de Aloyzio Mercadante ao governo, no ano passado, foi avaliado como prejudicial ao candidato petista ao governo. O partido não terá nada a ganhar se se indispor com ela no processo de escolha do candidato do partido à prefeitura da capital.
“Trabalhamos ainda para evitar a disputa”, afirma o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, um dos defensores da candidatura Haddad. “Nossa experiência com prévias é péssima, o partido sempre sai dividido”, pondera o prefeito, embora considere que os debates ocorridos até agora entre os pré-candidatos à prefeitura da capital estejam transcorrendo em surpreendente clima de paz. “Eu já me registrei como candidato e vou até o fim”, garante Zaratini. Tatto também vai à disputa. Ambos dizem que compõem com o vitorioso após as prévias. Marta ainda é uma incógnita. “Eu vou esperar para ver o que acontece”, disse à Carta Maior, no mês passado. Ela insiste que sua postulação se deve à sua vocação para a função. “O ministério não me atrai, o governo não me atrai. Eu gosto é da cidade, é de ser prefeita”, disse.
Segundo fontes do PT estadual, a avaliação predominante no partido – que justificaria o fato de Lula não ter cogitado apoiar Marta nas prévias – é a de que a ex-prefeita bateu no seu limite de votos na capital paulista. Na largada, começaria com confortáveis 30% das intenções de voto dos eleitores, e Haddad de início não teria mais do que dois. Mas, nas últimas eleições que disputou na capital, não conseguiu superar o teto dos 40%.
Além disso, pesquisas qualitativas encomendadas pelo PT estadual mostram uma tendência do eleitorado a nomes novos. Existe um desgaste generalizado das antigas lideranças não apenas petistas, mas dos demais partidos. Haddad seria uma aposta num nome que nunca disputou uma eleição, mas que até por conta disso tem também menos rejeição. Poderá ter mais condições de superar a votação dos petistas que se expuseram em eleições num Estado e numa cidade onde o seu principal adversário nacional, o PSDB, é hegemônico.
O inconveniente de ser um candidato desconhecido é que ficará ao relento entre as prévias e agosto do ano que vem, quando se inicia oficialmente a campanha eleitoral. Será um candidato com poucas intenções de voto e um alvo já definido dos adversários, afirma outro petista.
Existem também outros problemas numa candidatura de Marta. Ela tem apenas menos de um ano de mandato cumprido como senadora e mais de sete a cumprir, e um primeiro suplente, Antonio Carlos Rodrigues, que é do PR. Sua saída reduziria a bancada do PT no Senado em favor de um partido da base de apoio da presidenta Dilma Rousseff, mas que anda meio contrariado com o governo. Além disso, Marta é vice-presidente do Senado, num mandato que se encerra apenas em fevereiro de 2013. Se ganhar a prefeitura, o PT perde uma senadora.
Emplacar o nome de Haddad, que tem história com o PT mas não é um quadro partidário – nunca teve militância profissional no partido – e colocar Marta no seu palanque podem dar ao PT o impulso que precisa para enfrentar a máquina da prefeitura e do governo do Estado – a primeira nas mãos do prefeito Gilberto Kassab, que forma um PSD para apoiar Dilma mas é aliado fora de questão em terras paulistas e paulistanas; a segunda sob controle de Geraldo Alckmin. “O PT vive condições excepcionais no Estado”, comemora o presidente do PT paulista, Edinho Silva. A mesma pesquisa que aponta tendência do eleitorado paulistano a um novo nome, coloca o PT pela primeira vez com 30% na preferência do eleitorado em todo Estado, algo inédito na vida do partido. O partido chegou aos níveis que mantém nacionalmente de preferência do eleitorado num Estado onde sempre teve grande rejeição.
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