BAIRRO-CIDADE
Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Embora mantenham particularidades que as diferenciam entre si, as médias e grandes cidades vêm sendo atingidas por demandas que, a cada dia, mas as tornam parceiras na desordem urbana. É a violência, é o trânsito, são as carências nas áreas de saúde, educação, segurança... Um rosário, enfim, de questões mal resolvidas, inacabadas, omitidas, adiadas, que fazem tais cidades mais assemelhadas umas às outras – quanto mais os dias se passam. A diferenciá-las – ainda mais se localizadas em países díspares e distantes – a cultura, a geografia, o regime político. A irmaná-las, além do mais se situadas no emaranhado de nações que se nominou de terceiro mundo – face terrena mais atrasada, mais empobrecida e distanciada da civilidade – os desajustes políticos, o analfabetismo, a corrução, o vácuo tecnológico, fatores, por sua vez, a fixá-las cada vez mais longe dos países de primeiro mundo.
Assim, atingidas na sua fragilidade institucional e gerencial pelos problemas comuns, são cada vez mais irmãs nas agruras, nos traumas coletivos. A maioria apresenta vazios enormes no tocante ao planejamento urbano, carência que se evidencia mais ainda depois dos movimentos migratórios campo/cidade ocorridos no alvorecer dos anos sessenta e que persistem, embora mais lentamente, até os dias atuais. Simultaneamente, inchaços populacionais crescentes e insolúveis, decorrentes, entre outros fatores, da falta de uma consciência coletiva de planejamento familiar, levaram as médias e grandes cidades a conviverem com enormes contingentes de analfabetos, desabrigados, desempregados, desassistidos e desgarrados de toda ordem, gerando caos no trânsito, na rede escolar, na rede hospitalar, nas repartições públicas... Enfim, em todo o espaço urbano. Solução à vista?
A conclusão, após análises e estudos de grandes instituições – e de governos de latitudes e longitudes as mais diversas – já que a caótica realidade se estabeleceu, é fazer com que o homem urbano se movimente o mínimo possível em seu universo habitacional. Pois, segundo tais estudos, o homem – mesmo o mais desprovido de ambições, de bens materiais e de representatividade na escala social – cria demandas para o aparato público quando se movimenta, quando se desloca na busca de encaminhamento para suas questões. Saindo de casa para o trabalho, para o lazer, para algum compromisso que exija o seu deslocamento, vai criando demandas e requerendo soluções nem sempre possíveis de serem viabilizadas. Em vista dessa realidade inarredável, surgiu um novo conceito relacionado ao planejamento e à administração dos médios e grandes aglomerados urbanos: o bairro-cidade.
Um lugar no qual o homem tenha ao seu alcance a estrutura mínima ao seu viver digno, e que lhe possibilite o mínimo de deslocamento. Por esse raciocínio, é inconcebível que um habitante de Natal more na Zona Norte e trabalhe em Ponta Negra. Ou, no Rio de Janeiro, que more em Niterói e trabalhe na Barra da Tijuca. Esses dois exemplos nos indicam que é errôneo imaginar tais pessoas criando problemas apenas para elas mesmas. E o transporte para levá-las ao trabalho distante? E a segurança de que necessitam para garantia da integridade física? E as ruas e avenidas em perfeito estado para que possam trafegar? E o pronto socorro às ordens no caso de acidentadas? Se multiplicarmos esses exemplos isolados por milhares e milhares de pessoas se movimentando excessivamente em cada cidade para cumprir seu roteiro diário, veremos que a conta fica pesada para todos.
Pelo conceito de bairro-cidade os alunos terão escola perto de onde moram; os pais trabalharão o mais perto possível de suas casas, tendo, no bairro, todos os elementos (supermercados, hospitais, clínicas, consultórios, farmácias, igrejas, feiras livres, shoppings, cinemas, teatros) que possibilitem um bom padrão de vida com um mínimo de deslocamento. Para tanto, é necessária a forte atuação do poder público junto à iniciativa privada, garantindo a infraestrutura, para que venha se interessar no oferecimento de produtos e serviços à comunidade. É fácil chegar-se a esse patamar de planejamento urbano? Pelo nível de nossos agentes estatais é difícil até de imaginar tal conceito se fixando entre nós. Porém, aos trancos e barrancos, os administradores públicos terão de contemplar a execução dessa fórmula, sob pena de verem o caos se agigantar e a ingovernabilidade criar raízes cada vez mais profundas.
Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Embora mantenham particularidades que as diferenciam entre si, as médias e grandes cidades vêm sendo atingidas por demandas que, a cada dia, mas as tornam parceiras na desordem urbana. É a violência, é o trânsito, são as carências nas áreas de saúde, educação, segurança... Um rosário, enfim, de questões mal resolvidas, inacabadas, omitidas, adiadas, que fazem tais cidades mais assemelhadas umas às outras – quanto mais os dias se passam. A diferenciá-las – ainda mais se localizadas em países díspares e distantes – a cultura, a geografia, o regime político. A irmaná-las, além do mais se situadas no emaranhado de nações que se nominou de terceiro mundo – face terrena mais atrasada, mais empobrecida e distanciada da civilidade – os desajustes políticos, o analfabetismo, a corrução, o vácuo tecnológico, fatores, por sua vez, a fixá-las cada vez mais longe dos países de primeiro mundo.
Assim, atingidas na sua fragilidade institucional e gerencial pelos problemas comuns, são cada vez mais irmãs nas agruras, nos traumas coletivos. A maioria apresenta vazios enormes no tocante ao planejamento urbano, carência que se evidencia mais ainda depois dos movimentos migratórios campo/cidade ocorridos no alvorecer dos anos sessenta e que persistem, embora mais lentamente, até os dias atuais. Simultaneamente, inchaços populacionais crescentes e insolúveis, decorrentes, entre outros fatores, da falta de uma consciência coletiva de planejamento familiar, levaram as médias e grandes cidades a conviverem com enormes contingentes de analfabetos, desabrigados, desempregados, desassistidos e desgarrados de toda ordem, gerando caos no trânsito, na rede escolar, na rede hospitalar, nas repartições públicas... Enfim, em todo o espaço urbano. Solução à vista?
A conclusão, após análises e estudos de grandes instituições – e de governos de latitudes e longitudes as mais diversas – já que a caótica realidade se estabeleceu, é fazer com que o homem urbano se movimente o mínimo possível em seu universo habitacional. Pois, segundo tais estudos, o homem – mesmo o mais desprovido de ambições, de bens materiais e de representatividade na escala social – cria demandas para o aparato público quando se movimenta, quando se desloca na busca de encaminhamento para suas questões. Saindo de casa para o trabalho, para o lazer, para algum compromisso que exija o seu deslocamento, vai criando demandas e requerendo soluções nem sempre possíveis de serem viabilizadas. Em vista dessa realidade inarredável, surgiu um novo conceito relacionado ao planejamento e à administração dos médios e grandes aglomerados urbanos: o bairro-cidade.
Um lugar no qual o homem tenha ao seu alcance a estrutura mínima ao seu viver digno, e que lhe possibilite o mínimo de deslocamento. Por esse raciocínio, é inconcebível que um habitante de Natal more na Zona Norte e trabalhe em Ponta Negra. Ou, no Rio de Janeiro, que more em Niterói e trabalhe na Barra da Tijuca. Esses dois exemplos nos indicam que é errôneo imaginar tais pessoas criando problemas apenas para elas mesmas. E o transporte para levá-las ao trabalho distante? E a segurança de que necessitam para garantia da integridade física? E as ruas e avenidas em perfeito estado para que possam trafegar? E o pronto socorro às ordens no caso de acidentadas? Se multiplicarmos esses exemplos isolados por milhares e milhares de pessoas se movimentando excessivamente em cada cidade para cumprir seu roteiro diário, veremos que a conta fica pesada para todos.
Pelo conceito de bairro-cidade os alunos terão escola perto de onde moram; os pais trabalharão o mais perto possível de suas casas, tendo, no bairro, todos os elementos (supermercados, hospitais, clínicas, consultórios, farmácias, igrejas, feiras livres, shoppings, cinemas, teatros) que possibilitem um bom padrão de vida com um mínimo de deslocamento. Para tanto, é necessária a forte atuação do poder público junto à iniciativa privada, garantindo a infraestrutura, para que venha se interessar no oferecimento de produtos e serviços à comunidade. É fácil chegar-se a esse patamar de planejamento urbano? Pelo nível de nossos agentes estatais é difícil até de imaginar tal conceito se fixando entre nós. Porém, aos trancos e barrancos, os administradores públicos terão de contemplar a execução dessa fórmula, sob pena de verem o caos se agigantar e a ingovernabilidade criar raízes cada vez mais profundas.
fonte: por e-mail
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