Pronunciamento feito na reunião
da Academia Cearamirinense de Letras e Artes/ACLA, em Ceará - Mirim, noite de 30 de abril de 2014.
A QUINTA DOS PIRILAMPOS
Ciro José Tavares.
Confesso minha paixão pelo
mitológico, a imensa atração pelo reino da magia, meu fascínio pela Rainha Mab,
a senhora das fadas. Com frequência meu texto poético mergulha nos mistérios
das divindades gregas e, vez por outra, visita Camelot para conversar com
Arthur da Bretanha, saber de Galahad, de Lancelot Du Lac e Guenevere.
É com este espírito invadido de sonhos
com que venho saudar A Quinta dos Pirilampos, do meu fraterno e inesquecível
amigo Pedro Simões. Um longo e Um magnífico poema em prosa para ser lido e
relido por pessoas sensíveis de todas as idades.
Gosto de guardar as proporções
quando comparo autores e seus escritos. Perdoem-me se eu afirmar que no A
quinta dos Pirilampos, Pedro é um legítimo herdeiro dos contos de Oscar Wilde,
do Rouxinol e a Rosa, do Aniversário da Princesa Infanta, do Gigante Egoísta,
do Príncipe Feliz. Assim como os personagens do escritor inglês as criaturas de
Pedro Simões integram ficção e realidade, como se nós estivéssemos diante de
movimentada pintura surrealista e embevecidos por alguns trechos lágrimas
chegam aos nossos olhos.
Não quero lhes tirar o sabor da
leitura, que se identifiquem com a pureza do ambiente, conheçam e conversem com
seus habitantes, saibam de Biro, de Zé Pretinho, da Comadre Bastinha e sentados
à margem do riacho Teimoso, desafiante de invernos e estios, gastem todo um dia
na companhia do Chico Lagartixa, o tipo da minha preferência, de quem sentirão
saudades ao fechar as páginas do livro.
Há 70 anos o mundo da literatura
aplaudia a edição de O Pequeno Príncipe, de Exupéry. E hoje, por feliz
coincidência, familiares e a Academia Cearamirinense de Letras e Artes Pedro
Simões Neto traz a público a Quinta dos Pirilampos, que o autor não pode lançar
porque chamado à presença do Pai do Tempo. Agora, Pedro, que caminhas nas
quintas do universo, na Campânia de Esmeralda e Percílio, melhores e maiores
personagens que reencontraste, aqui estamos honrando tua obra que julgamos
imorredoura.
E sempre que nos reunimos há
sempre uma cadeira ocupada por teu espírito imbatível. E sempre que voltamos à
cidade que te viu crescer e que tanto amaste é sempre um retorno amargo que nos
faz chorar.
REGRESSOS
.
A cada regresso eu envelheço de saudades,
a cada regresso navegam-me fantasmas
dos escombros dos engenhos naufragados.
A cada regresso o doce aroma do melaço
parece ter sido levado pelo vento de uma vez.
A cada regresso sou criança renascendo nas lembranças
para ver cidade amada extinta tua chama..
A cada regresso ausências e a dor de não ouvir
a melodiosa voz do antepassado e nunca mais
sentir a luz dos olhos cheios de ternura.
A cada regresso, enfim, compreender
que bruxuleantes e entregues um ao outro,
envelhecidos morreremos de saudades.
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