Eduardo Gosson
Meu caro Poeta:
Belíssima e comovente homenagem às mães. Literatura para mim
tem que comover para ter validade . Sem
emoção, fica o formalismo literário.
No meu caso particular, fui abençoado porque em vez de uma
eu tive quatro. Explico melhor: Minha mãe biológica Maria Dantas de Araújo , de Jardim do Seridó/RN, de
olhos florestais e cabelos cor de
mel deu-nos o prazer de sua companhia
até os dois anos e oito meses porque, ao separar-se do meu pai, foi visitar uma
irmã, indo depois conhecer o Brasil. Esta travessia durou uma
década – “entre nós grandes silêncios”. A minha comunicação com ela neste
período deu-se através de cartas. Trancado, passavam o dia lendo e relendo-as. A suas
palavras amenizavam a distância e a
minha solidão.
Aí fui morar com duas
tias: Hulimase (brilhante) e jamyles (mimosa) que traziam no sangue os
cedros do Líbano, madeira utilizada na
construção do templo do rei Salomão. Assim, cresci para o mundo e para a vida. Vivi entre as mil e umas noites e um
ateliê de costura, onde as duas irmãs faziam verdadeiros milagres na moda: pioneiras, introduziram
belos bordados e o uso da sai plissada.
Quando chegava o fim do ano e o inicio o movimento triplicava: roupas de festas
e fardas escolares. Nos colégios
religiosos as alunas usavam saias plissadas. Nesse período, eu tinha uma tarefa
específica: tirava e anotava as medidas
(cintura, quadril e altura das mulheres).
Confesso, meu poeta, que tinha o maior prazer em realizar essa tarefa.
E quarta mãe era a minha babá que tinha o belo nome de
Margarida. Com Margarida conheci a vida. Nos finais de semana ela me levava para
passear na Praça Pedro Velho que, na
década de 60, era muito bonita. Afinal, tínhamos um Prefeito que amava a sua
cidade – Djalma Maranhão. Neste segundo domingo de maio – Dia das Mães –evoco a
memória destas quatro mulheres que me deram o compasso e a régua existenciais.
Das quatro mães, três já embarcaram na Nau da Eternidade. Agora, só resta
Margarida, que todas as tardes abraça a eternidade na velha Catedral.
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