MARANATA
*
Porque são irrevelados nossos amanhãs,
atemorizam-me os dias fechando os anos.
Gostaria que inexistissem, mas impossível.
Hoje faço a travessia numa caverna sem luz dos Apalaches.
Ouço palavras do silêncio, sinto os dedos suaves do vento
no meu rosto,
vento que nada sei do nascimento e de onde está chegando,
se dos Andes, dos Urais, do Himalaia, das areias ardentes
do Saara.
Encontra-me submerso nos dezembros do passado do Ceará –
Mirim,
Olhos no verde do canavial, no azul do manto da Virgem Maria.
Encontra-me afundado nas lembranças das novenas,
quermesses animadas, humildes diversões,
jovens encantadoras, vestidos longos, rendilhados,
feitiços da amada Ariadne parecendo raios louros do luar.
E quando a luz sumia deitando a cidade na total
escuridão,
era a fosforescência estelar que orientava meus caminhos.
No regresso à Rua Grande via fluir claros de velas e
lampiões ainda acesos.
Regressava, como no poema à caverna sem luz dos Apalaches
para,no meio de ventos e silêncios, repetir um canto em aramaico interminável:
Maranata, Maranata...
.
*Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 16, versículo
22.
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