republico na íntegra
Comenius foi o criador da
Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII; já no século 17,
ele concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem que
resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito avançadas.
Entre essas idéias estavam: o respeito ao estágio de desenvolvimento da criança
no processo de aprendizagem, a construção do conhecimento através da
experiência, da observação e da ação e uma educação sem punição, mas com
diálogo, exemplo e ambiente adequado. Comenius pregava ainda a necessidade da
interdisciplinaridade, da afetividade do educador e de um ambiente escolar
arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. Estão ainda entre as ações
propostas pelo educador checo: coerência de propósitos educacionais entre
família e escola, desenvolvimento do raciocínio lógico e do espírito científico
e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo e moral.
Jan Amos Komenský, nome original de
Comenius, nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod (ou
Nivnitz), na Moravia, região da Europa central pertencente ao antigo Reino da
Boêmia (atual República Tcheca). Com a morte dos pais, vence muitas
adversidades e estudou Teologia na Faculdade Calvinista de Herbon (Nassau) onde
foi aluno de Alsted e se familiarizou com a obra de Ratke sobre o ensino das
Línguas. Começou nessa época a elaboração de um Glossário Latino-Checo no qual
trabalhou cerca de 40 anos e que perdeu quando Leszno, cidade em que então
vivia (1656) foi invadida por um exército católico e incendiada.
Com 26 anos de idade, regressa à Morávia.
Foi professor na sua antiga escola e tornou-se pastor religioso em Fulnek.
Assume então o encargo de dirigir as escolas do Norte da Morávia. Mas a
insurreição da Boemia, que praticamente dá início à guerra dos 30 anos, vai marcar
em definitivo a sua vida.
A guerra político-religiosa e que foi também uma guerra civil com brutal
perseguição aos não católicos, obrigou Comenius a deixar a sua igreja e a
entrar em clandestinidade. As perseguições religiosas acentuam-se e Comenius
trabalha para ajudar os seus irmãos na fé.
Expulso da Boemia em 1628 refugiou-se em
Leszno, na Polonia. A partir daí, e durante 42 anos, percorre a Europa (não
católica) trabalhando sem descanso pelo seu país e pelos projetos científicos e
educacionais que o movem. Alimenta e divulga o seu sonho reformista de, por
meio da Pansophia, promover a harmonia entre os indivíduos e as nações.
Desenvolve então suas principais idéias sobre educação e aprofunda um dos
grandes problemas epistemológicos do seu tempo – que era o do método. Escreveu
a Janua Linguarum Reserata e a Didactica Magna (1633-38), sempre buscando seus
objetivos fundamentais “de uma reforma radical do conhecimento humano e da educação”
– unidos e sistematizados numa ciência universal.
Alguns amigos tentaram fazê-lo sair de
Leszno e fizeram chegar o seu trabalho ao conhecimento de Luis de Geer,
filantropo sueco de origem alemã. Foram esses mesmos amigos que publicaram uma
obra sua, com o título Prodomus Pansophiae, livro esse que mereceu a atenção do
próprio Descartes. Em 1641, vai para Londres com a missão de estabelecer algum
entendimento entre o Rei e o Parlamento, e fundar um círculo de colaboração
pansófica. Aí permaneceu durante um ano.
Em 1642 recebe um convite de Luís de Geer
e do governo de Estocolmo para promover a reforma do sistema escolar da Suécia,
onde permaneceu por seis anos, porém, sua missão na Suécia não teve o êxito
esperado, pois suas idéias, particularmente as religiosas, não foram bem
aceites pelos luteranos suecos. Em 1648 estabelece-se em Elbing, na Prússia
oriental, (então território sueco) e escreve o Novissima Linguarum Methodus,
publicado em Leszno. Começou nova obra com vistas à reforma universal da
sociedade, trabalho este que o autor não chegou a concluir e que era o De rerum
humanorum emendatione Consultatio catholica ; sendo que segundo muitos autores
esta obra inacabada é a que mostra de modo mais claro a grande consistência
entre o seu pensamento filosófico, educacional e social.
Todos os pesquisadores são unânimes em
apontar a Didacta Magna ou A Grande Didacta, como sendo sua obra-prima e sua
maior contribuição para o pensamento educacional. Comenius escreveu ainda O
Labirinto do Mundo (1623), Didactica checa (1627), Guia da Escola Materna
(1630), Porta Aberta das Línguas (1631), Didacta Magna (versão latina da
Didactica checa) (1631), Novíssimo Método das Línguas (1647), O Mundo Ilustrado
(1651), Opera didactica omnia ab anno 1627 ad 1657 (1657), Consulta Universal
Sobre o Melhoramento dos Negócios Humanos (1657), O Anjo da Paz (1667) e A
Única Coisa Necessária (1668) entre outros.
Continuou a ter uma vida bastante
atribulada e movimentada, produzindo cerca de 200 títulos, vindo a morrer no
dia 15 de novembro de 1670, em Amsterdam.
Comenius, uma voz quase solitária
em seu tempo, defendia a escola como o “locus” fundamental da educação do
homem, sintetizando seus ideais educativos na máxima: “Ensinar tudo a todos”, e
que para ele (1997, p.95), significava os fundamentos, os princípios que
permitiriam ao homem se colocar no mundo não apenas como espectador, mas, acima
de tudo, como ator.
O objetivo central da educação
comeniana era formar o bom cristão, o que deveria ser sábio nos pensamentos,
dotado de verdadeira fé em Deus e capaz de praticar ações virtuosas,
estendendo-se à todos: os pobres, os portadores de deficiências, os ricos, às
mulheres.
Suas concepções teóricas
apresentavam consistência na articulação entre suas diversas facetas: do
filosófico ao religioso, passando pela organização e divulgação do saber, pelo
processo educativo de todos, e pela reforma da sociedade; mas, nem por isso
pode garantir que fossem postas em prática de uma maneira mais ampla ou que
obtivessem à sua época um maior
reconhecimento de seus pressupostos inovadores; logicamente no contexto
histórico da época e também da trajetória de vida do autor. Não podemos
desvincular o que uma pessoa faz, da sua filosofia de vida, seus ideais,
sonhos, frustrações e experiências. Sua obra deve ser analisada no contexto em
que surgiu: o Renascimento e a Reforma religiosa.
No que diz respeito à Educação o
ideal pansófico evidencia-se no desejo e possibilidades de ensinar tudo e
todos. Esta necessidade se forjava e se sustentava na crença de que Deus, em
sua infinita bondade, colocara a redenção ao alcance da maioria dos seres
humanos, mas para tanto era necessário educá-los convenientemente. Dizendo em
outras palavras, para o autor, negar oportunidades educacionais era antes
ofender a Deus do que aos homens. A Pansophia constitui uma forma de
organização do saber, um projeto educativo e um ideal de vida. Para que se
obtenha esse ideal o processo a ser desenvolvido é a Pampaedia, ou educação
universal através da qual se conseguirá a reforma global das “coisas humanas” e
um mundo perfeito ou Panorthosia.
Comenius aponta como necessária a
constante busca do desenvolvimento do indivíduo e do grupo, pois um melhor
conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de autocrítica levam a uma
melhor vida social, assim como deve haver a solidez moral que pode ser
conseguida por meio da educação. Para ele, didática é ao mesmo tempo processo e
tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar.
A arte de ensinar é sublime, pois
destina-se a formar o homem, é uma ação do professor no aluno, tornando-o
diferente do que era antes. Ensinar pressupõe conteúdo a ser transmitido, e
eles são postos pela própria natureza: são a instrução, a moral e a religião. O
conhecimento que temos da natureza serve de modelo para a exploração e
conhecimento de nós próprios. Mas não é a natureza “natural” o exemplo a ser
imitado, mas a natureza “social”. Sua proposta pedagógica dirige-se, sobretudo
à razão humana, convocando-a a assumir uma atitude de pesquisa diante do
universo e de visão integrada das coisas. Pretendia que o homem deve ser
educado com vistas à eternidade, pois, sendo Espírito imortal, sua educação
deveria transcender a mera realização terrena.
Salientava a importância da educação formal de crianças pequenas e
preconizou a criação de escolas maternais por toda parte, pois deste modo as
crianças teriam oportunidades de adquirir desde cedo as noções elementares das
ciências que estudariam mais tarde.
Comenius defendia a ideia de que
a aprendizagem se iniciava pelos sentidos pois as impressões sensoriais obtidas através da experiência com objetos seriam
internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela razão. Seu método didático
constituiu-se basicamente de três elementos: compreensão, retenção e práticas.
Através delas se pode chegar a três qualidades fundamentais: erudição, virtude
e religião, as quais correspondem três faculdades que é preciso adquirir:
intelecto, vontade e memória.
O
método deve seguir os seguintes momentos:
Tudo o que se deve saber, deve ser
ensinado;
Qualquer coisa que se ensine deverá ser
ensinada em sua aplicação prática, no seu uso definido;
Deve ensinar-se de maneira direta e clara;
Ensinar a verdadeira natureza das coisas,
partindo de suas causas;
Explicar primeiro os princípios gerais;
Ensinar as coisas em seu devido tempo;
Não abandonar nenhum assunto até sua
perfeita compreensão;
Dar a devida importância às diferenças que
existem entre as coisas.
A obra de Comenius constitui-se
num paradigma do saber sobre a educação da infância e da juventude, através de
uma “nova tecnologia social”: a escola. A Didática Magna apresenta as
características fundamentais da instituição escolar moderna. Entre elas podemos
apontar: a construção da infância moderna já como forma da uma pedagogização
dessa infância por meio da escolaridade formal; uma aliança entre a família e a
escola por meio da qual a criança vai se soltando a influência da órbita
familiar para a órbita escolar; uma forma
de organização da transmissão dos saberes baseada no método de instrução
simultânea, agrupando-se os alunos e, não menos importante, a construção de um
lugar de educador, de mestre, reservado para o adulto portador de um saber
legítimo.
Tal plano se desenvolve tendo em
vista a evolução do homem ___ da infância à juventude já ____ antecipando
ROUSSEAU.
O método único e seus fundamentos naturais
“não se consegue de uma só
semente produzir a mesma árvore? De um só método farei alunos capazes!”
Eis as razões pelas quais para o
autor, o uso de um só método se justifica:
O fim é o mesmo: sabedoria, moral e
perfeição;
Todos são dotados da mesma natureza humana,
apesar de terem inteligências diversas;
A diversidade das inteligências é tão
somente um excesso ou deficiência da harmonia natural;
O melhor momento para remediar excessos e
deficiências acontece quando as inteligências são novas.
FONTE: CENTRO DE REFERÊNCIA
EDUCACIONAL
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