EGOÍSMO, O ISMO DO EU
Todos nós já estamos acostumados com os ismos da vida. Nacionalismo,
esquerdismo, anarquismo, direitismo, numa sucessão sem fim, entronizada
para rotular tendências religiosas, políticas, econômicas, esportivas,
culturais de quem quer que seja. Por mais esforços que se faça, ninguém
escapa de ser encaixado em um ismo qualquer. É latente, intestina a
necessidade no ser humano de rotular, de entalar o outro num ismo.
“Fulano é de um esquerdismo revoltante”. Com certeza você já ouviu esse
tipo de comentário de alguém a respeito de outra pessoa. Ou por outra:
“Sicrano não passa de um reles defensor do capitalismo selvagem”. Os
artistas, os intelectuais, os políticos, sofrem muito com esse, digamos,
rotulismo. Independente de serem ou não o que os outros pensam a
respeito deles, são logo encalacrados, mal surgem, como sementes do
modernismo, conservadorismo, populismo, expressionismo...
O ismo é um sufixo que encerra em si mesmo um projeto de doutrinação,
um conjunto de ações voltadas à implementação de uma tendência, de uma
escola, de um movimento ou princípio artístico, filosófico, político ou
religioso. Tem sempre atrás de si mil interesses. Nunca surge de graça,
como também ninguém inventa um deles por acaso. Ao longo da história da
humanidade os ismos se sucederam como panacéia para inúmeros males,
ditando moda, hábitos, costumes, além de pautarem a rotina das
atividades artísticas, políticas, econômicas, culturais e sociais.
Alguns ismos se caracterizam pelo seu conteúdo exterior. É o caso do
militarismo, do expansionismo, do ativismo voltado a fazer uma
comunidade tentar um crescimento para fora de suas fronteiras. Outros
são mais intrínsecos aos sentimentos e posicionamentos interiores, como
idealismo, comodismo, egoísmo, altruísmo, individualismo – e por aí vai.
Há os de conotação política, como comunismo, nacionalismo, esquerdismo,
direitismo, como também os mais sintonizados com a administração
pública: monetarismo, liberalismo, capitalismo, socialismo, trabalhismo,
todos, logicamente, direcionando a visão, as políticas, ações e
projetos nos governos onde se enraizaram. A prática de um ismo qualquer
diz bem a pessoa ou o conjunto de pessoas adeptas de sua essência. O
ateísmo, por exemplo, enquadra em torno de si os que são contrários à
existência de Deus. O altruísmo, por seu lado, já inclui o sentimento de
quem põe o interesse dos outros à frente dos seus. E o egoísmo... Ah,
esse é bronca! Bronca pura! Significa a eleição do próprio ego, do
próprio eu, como início, meio e fim de todas as coisas. Ou seja, uma
vida calcada na celebração de tudo que diz respeito a si. Só e somente
só. Em suma, a doutrina da valorização excessiva do eu.
Se o sufixo ismo caracteriza a junção de atividades em torno de uma
tendência, de um movimento, o egoísmo, por sua vez, encarna todo um
posicionamento interior no sentido de erguer um trono à própria
personalidade, um culto fanatizado à defesa dos próprios interesses.
Entretanto, se o egoísmo ficasse por aí tudo bem. O problema com seus
detentores é que, na medida em que supervalorizam os próprios
interesses, agem no sentido contrário na escala de importância em que
catalogam as pessoas. Para o egoísta o próximo vale muito pouco – quando
não coisa nenhuma. E, muitas vezes, percebendo ou não, o egoísta vai
deixando pelo caminho um rastro de destruição e ódio, oriundo de ações
carregadas de um profundo menosprezo pelo outro. E agora? Agora? É
constatar-se, vida a fora, o altruísmo de uns poucos em contraponto ao
egoísmo de muitos. De muitos. Ah, o egoísmo... Que bronca!
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