Recentemente, uma polêmica se instalou em Natal após a descoberta de fraude, no vestibular da UFRN, envolvendo um estudante que se utilizou indevidamente do certificado de conclusão do EJA para se beneficiar do bônus de 10% - o argumento de inclusão – concedido aos estudantes egressos de escola pública. Entrevistamos hoje Pedro Henrique, Vice-Presidente da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (UMES), para falar sobre o tema.
UJS – Pedro, nas últimas semanas os cursinhos privados de Natal iniciaram uma nova jornada contra o argumento de inclusão. Qual a sua opinião sobre o tema e qual é o significado que esse instrumento tem na democratização da universidade?
Pedro Henrique – O argumento de inclusão é um benefício que, embora acanhado, permite aumentar as chances que um estudante de escola pública tem de ingressar na universidade pública, centralmente nos cursos mais disputados, como direito, medicina, engenharias. Digo acanhado porque não resolve a grande disparidade que existe na universidade pública, em que os cursos mais concorridos acabam tendo suas vagas ocupadas, em sua grande maioria, por estudantes de escolas privadas. Nossa proposta é pela reserva de 50% das vagas, no ensino superior público brasileiro, para os estudantes egressos de escolas públicas, por curso e por turno. Ela tramita no Congresso Nacional e conta com apoio e mobilização da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e de sua rede de grêmios, entidades municipais e estaduais.
UJS – Como você tem visto a recente movimentação dos representantes de cursinhos privados de Natal contra o argumento de inclusão?
Pedro – Pra nós que fazemos movimento estudantil e acompanhamos a disputa que é travada na sociedade sobre democratizar a universidade brasileira, não há nada de novo. O que permite a existência de cursinhos e o que justifica sua reprodução é a baixa qualidade da educação pública. Há uma disputa todos os anos para saber qual o cursinho que aprovou mais em tal curso, qual fez o primeiro lugar nas mais diversas áreas, pois a lógica que eles têm é mercantilista, educação como um supermercado e você vai na prateleira e escolhe o que considerar melhor e puder pagar. Não é essa a nossa ótica, acreditamos que o grande argumento que é preciso superar é o da exclusão, o que mantém uma parcela considerável da nossa juventude sem oportunidade e à margem da sociedade.
UJS – A UBES e a UNE realizarão, no final de março, uma grande jornada de lutas nacional em defesa do investimento de 10% do PIB em educação. É possível relacionar a questão do argumento de inclusão à jornada?
Pedro – Com certeza. Nossa defesa em torno da reserva de vagas está aliada à reivindicação pela elevação da qualidade da educação pública. Não podemos imaginar a reserva como um instrumento definitivo de democratização da universidade. Acreditamos que o Brasil vive um momento muito significativo, reforçado pela eleição da Dilma Roussef, mas recheado de desafios. Não podemos achar que o jogo tá ganho e que estamos satisfeitos com os avanços da política educacional do último período. Nós iremos jogar grande peso na mobilização dos estudantes para pressionar o governo federal a elevar o investimento em educação, exigindo a destinação de 50% dos recursos do fundo social voltados a essa área. Para nós um país rico e sem pobreza, é um país com alta qualidade em sua escola pública, em seu ensino superior para todos o brasileiros, com produção científica e tecnológica. Não descansaremos em torno desses objetivos.
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Fonte: www.ujspotiguar.com.br
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