Para especialista, a solução do problema para o déficit de aprendizado dos alunos envolve medidas mais abrangentes
Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual
São Paulo – Até o final de outubro, um grupo de trabalho formado pelo
Ministério da Educação (MEC) deverá apresentar propostas para o ensino
médio. O pacote, que inclui reforma curricular e adoção da jornada
ampliada, é uma resposta às médias sofríveis desse segmento na edição
2011 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Desde que a avaliação começou a ser realizada, em 2005, as médias das
séries iniciais do ensino fundamental evoluíram praticamente três vezes
mais rápido do que as do antigo colegial. Conforme declarou o ministro
da Educação, Aloizio Mercadante, as principais razões são o excesso de
disciplinas e a oferta das aulas no período noturno, na maioria dos
casos, com estudantes defasados em relação à idade e serie.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC e responsável pelo Ideb, o
ensino médio praticamente não avançou como deveria. Em comparação com
2009, as médias de 2011 caíram em nove estados (Acre, Alagoas, Bahia,
Espírito Santo, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e Rondônia) e o
Distrito Federal (DF).
Ficaram abaixo da média estabelecida para o ano em cinco estados
(Alagoas, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Sul e Sergipe), além do
DF. Houve melhora em 11 (Amapá, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Minas
Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e
Tocantins). Na avaliação em geral, a média nacional do ensino médio
ficou em 3.7, enquanto a dos anos iniciais foi de 5.
Para Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (FE-USP), especialista em temas como avaliação
e gestão educacional, as mudanças em estudo são inócuas. “Se o
currículo for mudado, quem vai dar essas aulas?”, questiona.
“Antes de quaisquer mudanças que venham a ser feitas os professores
precisam ser preparados. E não é o que está acontecendo”, diz o
especialista, alertando para o fato de o ensino médio ser
responsabilidade dos estados, e não da União. Na comparação que ele faz,
modificar o currículo, com redução das disciplinas, é como trocar a
colher com que se administra o remédio sendo que o ideal é passar a dar
um medicamento adequado, prescrito conforme a doença.
Alavarse, aliás, discorda do ministro Mercadante também quanto ao
suposto excesso de disciplinas. Segundo ele, português e matemática
compõem a maioria da grade curricular, sobrando pouco espaço para outras
matérias pedagógicas obrigatórias. “É preciso repensar o que está sendo
ensinado e como isso está sendo feito, muitas vezes em escolas que nem
banheiro têm.”
O especialista critica também a proposta de ensino médio ampliado, de
difícil implementação. “Mais de 45% desses alunos estudam à noite ou
porque precisam começar a trabalhar ou porque já são trabalhadores que
não puderam estudar quando adolescentes. O ideal seria terminar o ensino
médio aos 17 anos”, diz. “E se a tendência for de acabar com o ensino
noturno, como esses alunos vão fazer para poder estudar?”
Mudanças no Ideb
Por causa do lento avanço do ensino médio no Ideb, o MEC estuda
também substituir as provas de português e matemática pelo Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem). A medida, segundo o ministério, é
aumentar a amostragem dos alunos desse nível de ensino. Por meio de sua
assessoria de imprensa, o MEC afirmou não haver ainda nenhuma decisão
tomada a respeito. E a Prova Brasil, um dos componentes do Ideb – o
outro são as taxas de aprovação – continua a ser aplicada no 5º e 9º
anos do Ensino Fundamental, para avaliar o desempenho dos estudantes em
leitura e cálculos básicos.
Seja como for, Ocimar Munhoz Alavarse critica a possibilidade de
inclusão do Enem. “Os objetivos são diferentes. A Prova Brasil deveria
ser mantida para preservação da série histórica. Essa mudança me parece o
caso do gordo que quer trocar a balança na esperança de estar mais
magro em outra.”