Excelente e pertinente reflexão, parabenizo o autor pela clareza e responsabilidade com que fez essa reflexão, a mesma está coerente, com o que está acontecendo na educação brasileira nesse momento. Parabéns Professor!
Introdução
Quanto mais refletimos e tentamos
consertar os erros causadores das derrotas da educação, mais nos parece ficar
distante a realização dos fins nos quais, grande parte dos engajados na busca
de uma educação que atenda aos anseios da sociedade moderna, bem como de todo o
corpo docente, discente e comunidade escolar, se propuseram a atingir. Pensemos
então! Será que esse é um diagnóstico que nos leva a conclusão de que a
educação brasileira não tem mais jeito? Seria o caminho mais correto cruzarmos
os braços e somente assistir a decadência definitiva da possível redentora da
sociedade?
Embora eu seja muito otimista, não
posso simplesmente fechar os olhos e ignorar todos os acontecimentos negativos
que nos empurram correnteza abaixo, sem mesmo deixar fortes expectativas quanto
a sua correção e, portanto, inevitavelmente, conduz-nos ao insucesso no que se
refere à parturição e manutenção de uma educação funcional, anunciadora do
sucesso, exterminadora dos fracassos. Sei da complexidade para se adquirir
soluções para cada problema que surge em meio a esse furacão de demandas e
diagnósticos, mas de pouca dedicação e atenção por aqueles que têm o poder de
criar bases legais que obriguem o poder público a realizar investimentos
direcionados ora a revitalização, ora a criação de sistemas de ensino propícios
ao êxito.
Mesmo mantendo minha consciência
sobre esses fatores agravantes do naufragado ensino educacional brasileiro (em
parte), e de muitos outros que durante este trabalho citarei, mantenho meu
pensamento otimista e jamais deixarei de acreditar em dias melhores para nossa
educação; jamais me curvarei perante o fracasso; nunca me permitirei deixar de
investir em novas metodologias, formação, conteúdos diversos, bibliografias
várias e trabalho duro, tudo isso na tentativa de modificar esse panorama de
descrença e deboche em relação à educação que todos, querendo ou não, fazemos
parte.
Ditas essas poucas considerações
iniciais, vamos agora tentar encontrar alguns dos culpados pela decadência do
ensino, bem como pela ineficiência do aprendizado.
A culpa é um quociente
Não podemos dizer que esse ou
aquele é o culpado por tudo que acontece no cenário educacional, negativa ou
positivamente. Nossa consciência deve ser preenchida com a certeza de que todos, sem exceção, somos culpados. Essa
afirmação soa muito rígida, generalizante, mas é a única que, mesmo após longo
período de estudo, reflexão e experiência, encontrei. Vamos então analisar caso
a caso.
Os legisladores, pessoas com poder
de criar leis que envolvam a nossa educação num clima de seriedade e devido
respeito, diferentemente do que ocorre hoje, onde a astronômica importância da
educação transformou-se apenas em discurso político ou mesmo em motivo de
piada, não realizam o trabalho esperado por aqueles que realmente se preocupam
com a educação. As burocracias são tantas, que alguns parlamentares desistem,
antes mesmo de tentar, de colocar à prova algum projeto benéfico ao ensino
brasileiro. Eles são culpados, pois o poder que lhes são atribuídos por nós,
sociedade, é envolto numa responsabilidade de resposta aos nossos anseios.
O poder público também é omisso. Os governos municipal, estadual e
federal investem muito pouco na educação e, quando investem, não se baseiam num
planejamento que garanta que o investimento feito gerará resultados positivos à
educação. É preciso muito compromisso dos nossos governantes. É preciso o
reconhecimento de que somente seremos reconhecidos pelo mundo, quando formos
capazes de exibir cidadãos preparados para o mercado nacional e internacional,
mas não só para isso, que eles sejam também pessoas críticas, que reflitam
sobre o que está ao seu redor, pessoas com fome de conhecimento, capazes de
interpretar os mais variados textos, dos mais diversificados gêneros. Que
possamos exibir cidadãos habilidosos na escrita, na leitura, no cálculo, no
conhecimento geográfico e histórico desta e de outras nações, pessoas
sociáveis, solidárias, compartilhadoras do conhecimento adquirido. Nesse dia,
seremos reconhecidos como um país que realmente forma pessoas para o mundo.
Enquanto esse dia não chega, posso afirmar que o poder público é culpado pelo
nosso fracasso.
A sociedade é culpada. Isso por que cruza os braços diante do
descaso, da má administração, da corrupção. Por que não cobrar dos nossos
representantes legais? Por que não expulsarmos os corruptos e eleger pessoas
com projetos que favoreçam a nossa educação? Por que não cobrar transparência
no uso das verbas educacionais? Será que do jeito que estar, está bom? Somos,
sim, culpados, por fechar os olhos diante do que não favorecimento do bem
coletivo. Culpados por não tentar mudar. Por achar que somos pequenos, quando
formamos uma nação inteira.
As secretarias de educação, assim como as equipes diretivas
escolares, são também culpadas. Enquanto no primeiro caso vemos a
irresponsabilidade, advinda do pensamento político egoísta, ao escalar
profissionais, em grande parte dos casos, sem capacidade para gerir uma pasta.
Retiram bons professores da sala de aula para, em alguns casos, serem péssimos
gestores. Existem ainda os casos de nomeações de coordenadores pedagógicos, por
exemplo, que acabam desempenhando funções díspares das suas, por falta do
profissional que deveria cumprir aquela determinada tarefa. Muitos outros casos
dentro desse contexto poderiam ser exemplificados. Ainda nesse embalo estão as
direções escolares, sem generalizações. Estas preocupam-se muito mais com as
questões burocráticos do que mesmo com o processo de ensino-aprendizagem. Não
dão importância para o que realmente é digno de atenção numa escola: os
processos de ensino, a aprendizagem do aluno, o apoio ao professor e aos demais
membros da escola.
Os professores são culpados. Culpados por serem, em parte das
vezes, coniventes com situações de perda para o aprendizado do aluno. Um
exemplo disso são os casos de feriados imprensados, onde ninguém se manifesta contra,
vista a deficiência no cumprimento do calendário escolar com dias tão
insuficientes para um bom aproveitamento de aprendizagem. As faltas em demasia
são agravantes para esse fracasso. Em outros casos, o professor cruza os braços
por se imaginar impotente para tentar mudar o cenário de horror da educação.
Mas se nós não podemos fazer diferente, nós que somos protagonistas dessa
história; se não damos o primeiro passo rumo a uma mudança significativa da
educação do nosso país, mesmo contra tudo e contra todos, quem mais dará esse
passo? Os reclames são muitos: salário baixo, atraso, desmotivação,
desvalorização, falta de reconhecimento etc. Todos eles são justos. Mas temos
que pensar se estamos a cumprir, também, os nossos deveres de educadores. Estamos
preocupados com o aprendizado do aluno? Estamos preocupados com a nossa
formação, com o planejamento das nossas aulas, com o compartilhamento de
informações com os demais colegas? Estamos frequentando as reuniões pedagógicas
e apoiando as iniciativas apresentadas pela equipe de coordenação? Estamos
apresentando ideias ou projetos que prometam reinventar a nossa história? O que
realmente somos se não inventores de ideias, compartilhadores de experiências e
defensores de uma educação que tenha como prioridade, fundamentalmente,
transformar?
Os pais de alunos são coniventes e, portanto, culpados. Ao elaborar uma “tarefa de casa”, por exemplo,
os professores esperam que os pais, além de auxiliar os seus filhos no
cumprimento daquele “dever”, consigam também diagnosticar as possíveis
dificuldades do seu filho e, imediatamente, procurar o professor para formar
uma parceria que proporcione o melhoramento do aprendizado daquele jovem
aprendiz. O pai deverá sempre ser parceiro da escola; deverá acompanhar
passa-a-passo o desenvolvimento do seu filho. Mas será que na prática isso vem
acontecendo? Na grande maioria dos casos, não. Portanto, os pais são culpados
pelo fracasso da educação, por não marcarem presença na vida escolar do filho,
por não cobrarem dos gestores municipais e escolares, melhores condições de
chegada e estadia na escola, por apenas enviar os filhos à escola para no final
do mês receber ajuda financeira do governo federal ou ficar “livres” deles por
determinado período, por não importarem-se com a falta de transparência da vida
escolar dos seus filhos. Claro que esses não são casos gerais, pois existem
muitos pais presentes e, a estes, eu tiro o meu chapéu, mas não posso aqui
omitir a culpa, que os que não se encaixam nesse grupo, possuem.
Os alunos também são
culpados. Vejo muitos casos, aonde os alunos simplesmente vão à escola
apenas para conversar e reencontrar os amigos. Mas não só por isso eles são
culpados. Também são culpados por não gritarem os seus direitos ao poder
público; dizer-lhe que exigem os seus direitos constitucionais; que são
cidadãos que buscam o conhecimento e que, portanto, exigem o melhor de seus
representantes. Os alunos, pelo menos parte deles, não se preocupam com o que a
escolar tem a lhe oferecer ou o que serão no futuro sem aqueles conhecimentos
organizados e sistematizados por ela. Apenas se recusam a aprender, sem mesmo
um motivo defensável ter para tal ação. São ainda culpados por não querer para
si um futuro promissor, possível apenas através do alicerce formado pela
educação.
Considerações finais
Este trabalho é fruto de uma
reflexão que fiz, após a leitura de alguns documentos educacionais, que
mostraram-me a triste realidade na qual vivemos educacionalmente. É também
embasado em minha experiência profissional, onde como coordenador pedagógico,
consigo assistir atitudes dignas de aplausos, de glórias, mas também
verdadeiras aberrações daqueles que se autoqualificam bons profissionais. Minha
intenção não é apenas apontar culpados. É também de fazer enxergar que a culpa
do fracasso do ensino e da aprendizagem em nossa nação é coletiva. Cada um de
nós tem que ser corrigido, para que o problema geral comece a ser amenizado como
reflexo dessa ação global.
Volto a lembrar, que nenhum
desses fatores toma de mim o otimismo que por toda vida acumulei. Mesmo ciente
das dificuldades, ainda acho que podemos reverter esse quadro. Por isso escrevi
essas reflexões. Pensando que em algum momento esse trabalho irá jogar sobre
te, leitor, a culpa que lhe cabe nessa problemática. Creio que juntos podemos
alcançar a vitória nesse duelo contra o descaso, a descrença, a incerteza.
Corrijamos os nossos erros e, a partir desse reparo individual, nos tornaremos
um coletivo tão grande, que todos esses problemas nos parecerão pequenos.
Juntos, podemos revitalizar a educação. Juntos, podemos mudar o mundo.
“Não há problema que não possa
ser reparado, diante do reconhecimento do erro que o parturiu”. (Robison Sá)
fonte> INFOESCOLA
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