domingo, 6 de outubro de 2013

A EXPRESSÃO LITERÁRIA DO CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF



                                        ALÉM DA PONTA DO GIZ Parte II
              

O incidente com José Ponciano naquela ensolarada manhã de sábado foi o lúgubre aviso das Parcas, a sentença anunciada. O segundo filho da rendeira Constança é um daqueles tipos inesquecíveis. Músculos proeminentes espalhados pelo corpo que misturava a cor do bronze envelhecido ao cinza escuro de sua estirpe cafuza.  A cabeça grande e redonda guardava lábios grossos, olhos afundados, orelhas de abano, nariz achatado de aletas distendidas e cabelos encarapinhados. Nas minhas leituras, guardadas as proporções, pude reencontrá-lo no Quasímodo do Victor Hugo e no Pajeú, de Os Sertões de Euclides da Cunha. Não obstante era todo infantil ajudando-me a empinar corujas, ensinando-me a escorregar duna abaixo sentado num talo de coqueiro que chamavam de “calabote”. Eu gostava dele pela sua atenção e cuidados comigo.
Antonio Louro e meu pai assistiam de longe praieiros e pescadores puxando o tremalho para a praia e Ponciano no meio deles. De repente, como se tivessem recebido uma ordem, todos suspenderam a tarefa, porque Ponciano dera um grito esquisito e tombara tremendo como se estivesse levando um choque elétrico de grande magnitude. O médico fez o diagnóstico de imediato e ligeiro foi para dentro da cena do acontecimento. Fez com que os companheiros o afastassem da água, mandou que segurassem seus membros superiores e inferiores e gentilmente colocou sua camisa sob a cabeça sustentando-a até final da convulsão. Quando parou de tremer, abriu os olhos espantados, emitindo compassados grunhidos e no rosto molhado de suor lembrava o florescer do sorriso amarelo dos Karamazov.
Meu pai fez-lhe severas advertências prometendo que traria de Natal a medicação que poderia aliviá-lo de quadro semelhante se tomado com regularidade, ao lado de providências complementares. Acompanhado do irmão, Lourival, Ponciano deixou a palhoça de Antonio louro cabisbaixo como se levasse nos ombros um oceano de tristezas. Constança foi à nossa casa
 agradecer e saber do médico a realidade .Até iniciar o tratamento estava proibido de banhos de mar e pescarias. Para um  homem acostumado às atividades ligadas ao mar, aquilo era um duríssima recomendação Depois do jantar ficávamos no alpendre repassando o dia e eram constantes e muitas as visitas. O médico provocava e  gostava de ouvir aquelas conversas sem futuro. Deitado na rede e o pessoal, ao redor, sentado no cimento ou tamboretes. Paulo de Janoca.com seu papo furado contou que pelos lados de Santa Rita, durante a madrugada os moradores estavam ouvindo barulhos estranhos e o próprio Paulo espalhou que se tratava de uma alma. O certo é que a história ganhou fôlego e havia até quem afirmasse ter ouvido os tais barulhos seguidos de sibilantes rajadas de vento. Uma noite Geraldo da Cruz, filho de João da Cruz disse que ia esperar a alma. Noite alta saiu para Santa Rita escondendo-se entre galhos de cajueiro e viu um vulto deslocando-se no meio dos coqueiros. Esperou até ouvir o barulho, uma, duas, três vezes. Deixou a toca e foi direto abordar a assombração e qual não foi sua surpresa ao deparar-se com José Ponciano a quem interrogou e recebeu explicações. Estivera tirando cocos pra dar de presente ao Dr. Tavares por tudo quanto ele fizera com ele até aquele momento. Tinha que ser daquele modo porque ele não sabia de quem era o terreno e os coqueiros Descoberto mistério inventado por Paulo de Janoca, Dona Juraci pediu a Ponciano que suspendesse as entregas para não comprometer seu marido.

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CONVITE


A VOZ POÉTICA DE EDUARDO GOSSON - NATAL/RN

ADORMECEU PARA SONHAR 
 Para a poetisa Lucia Helena

 Sim, é verdade. Fausto, meu filho,
 Adormeceu para continuar 
 Sonhando 
 Porque a vida aqui não basta:
 Obrigações, 
 Rituais
 Grandes interrogações: "-donde eu vim,"
 “Por que estou aqui?”
 “-Para onde vou?” 
 E a morte a nos acompanhar
Por não agüentar a barbárie 
 Meu doce menino 
 Resolveu 
 ADORMECER PARA SONHAR!

 *Eduardo Gosson é presidente da UBE/RN

sábado, 5 de outubro de 2013

A EXPRESSÃO LITERÁRIA DE PÚBLIO JOSÉ - NATAL/RN


QUEM ESTÁ COMENDO ALFARROBAS?

                                                            
contato com o autor:



                          Na parábola do filho pródigo, contada na Bíblia, (Lucas, capítulo 15, versículo 11 em diante) de conteúdo bastante conhecido, fica esboçado o desejo muito forte, da parte de um dos principais personagens da história, em conquistar muito cedo a liberdade. Trata-se de um dos filhos de um próspero fazendeiro que não estava aceitando a realidade simples, bucólica, singela até, que vivia no campo. Ele queria rebuliço. Queria viver novas emoções, experimentar o que se passava no horizonte distante da cidade. As notícias chegavam até ele com cores fortes, dando conta do charme, do frisson, dos prazeres que a urbe oferecia. Assim, essas informações começaram a atiçar sua curiosidade. E o desejo de colocar a mão noutro estilo de vida se instalou, definitivamente, em seu íntimo. Só uma coisa ele não sabia: o preço que teria de pagar pela liberdade precocemente conquistada.
                        Os problemas começaram na divisão do patrimônio. O pai do rapaz não estava preparado para fazer a partilha da riqueza. Mas, para atender à vontade do filho, aceitou vender parte dos bens da família para antecipar a cota que cabia ao herdeiro tão ansioso. O desfecho da história todos conhecem: o moço pegou o dinheiro da herança e partiu para a cidade, onde torrou a fortuna inteira. Arruinado, teve que trabalhar. E, como não tinha nenhuma qualificação profissional, contentou-se com o primeiro emprego oferecido. Nesse momento o preconceito começou a falar mais alto e a sua condição de falido fez surgir a face cruel da frieza e da insensibilidade humanas. O rapaz, antes tão cheio de amigos e de garbosos companheiros da alta sociedade, fora contratado para tratar de porcos. Assim, de repente, viu-se rodeado apenas pela solidão do curral dos porcos e pelo fedor sempre presente dos animais.     
                        Além do mais, cuidar de porcos era uma atividade desprezível. Segundo a tradição, eram animais impuros. Mais degradante ainda, e inteiramente impensável, era dividir com eles a comida, o que terminou acontecendo em razão da sua penúria financeira. Os porcos eram alimentados com alfarrobas, fruto, em forma de vagem, da alfarrobeira, árvore comum na Palestina. E as pessoas sem recursos, em caso de extrema necessidade, também recorriam a ela para fugir da fome. O moço chegara, assim, ao fundo do poço. E a ansiedade da juventude, enfim, cobrara seu preço. Agora, o que fazer? Como sair de posição tão humilhante? O filho decidiu, então, voltar ao pai. O consumo da alfarroba, na história do filho pródigo, representa o estágio mais dramático na luta de um homem pela sobrevivência, semelhantemente aos que ainda hoje, praticando uma rotina degradante, recorrem à lata do lixo.
                        Estes o fazem tão somente para continuar a ruminar sua miséria e indigência. Já o rapaz encontrou na alfarroba o desfecho doloroso pela busca ansiosa, insana até, pela liberdade, sem dispor ainda de uma estrutura psicológica condizente para tanto. Na Bíblia, há um livro de uma sabedoria imensa, o Eclesiastes, que diz em seu capítulo 3, versículo 1: “Tudo tem seu tempo determinado”. Antecipar o tempo pode acarretar prejuízos incalculáveis, além de dar início, precocemente, ao consumo de porções indigestas da vida. Portanto, retornar ao pai foi, antes de tudo, um gesto de maturidade. Uma prova de sensatez. Já o fazendeiro, no episódio, representa a figura do próprio Deus. Que se coloca sempre de coração aberto para receber – e perdoar – o filho que retorna ao lar paterno. Mesmo que este tenha decidido, por conta própria, antecipar seu tempo, causando ao pai, com isso, incontáveis prejuízos.

fonte:por e-mail

domingo, 29 de setembro de 2013

A VOZ POÉTICA DE JOELZA BARBALHO - NOVA CRUZ/RN



SAUDADE

E se eu mandar a tristeza embora?
Que vá junto a dor e a saudade
Leve pra longe toda infelicidade

Eu quero amor no coração,
Carinho e atenção
Quero meu sorriso de volta,
A alegria e o prazer
Quero ser feliz somente com você.

Saudade que dói e não mata
Saudade que só me maltrata
Por não ter você aqui
Saudade eu quero sentir,
Saudade de tanto sorrir.

Saudade de não ficar triste,
E o prazer é que você existe!
Apenas não está do meu lado,
Por isso eu sonho acordado
Com a hora de você voltar
Para enfim poder me alegrar
E a dor da saudade passar.

JOELZA BARBALHO

A VOZ LITERÁRIA DO JORNALISTA PÚBLIO JOSÉ - NATAL/RN


ELEITOR “ASSUM PRETO”
                                                          

                       Luiz Gonzaga, na música “Assum Preto”, relata o sofrimento de um pássaro que fora mutilado dos olhos para que passasse a cantar melhor. Seus versos ainda ecoam pelas mentes e corações nordestinos de todos os portes e tendências: “Assum preto seu cantar é tão triste quanto o meu, também roubaram o meu amor, ai, que era a luz, ai, dos óios meus”. O lamento mostra o sofrimento do personagem ao se ver privado da presença da amada. Segundo ele, da mesma forma que a vida impusera o furo aos olhos do pássaro “para ele, assim, cantar melhor”, também lhe colocara numa situação de dor, com a perda da mulher amada. Ambos fazem do sofrimento o combustível necessário para aprimorar a inspiração, enquanto também fazem do novo canto motivo para suportar as agruras da vida. Nenhuma penalidade, entretanto, surge para o terceiro personagem da história, o causador de tudo.
                    Este se esgueira pelo anonimato sem pagar pelo seu crime. Afinal, a letra deixa bem claro que alguém, na música não identificado, havia furado os olhos do pássaro. O canto também ressalta o prejuízo sentimental que alguém sofrera porque outro roubara o seu amor, “que era a luz, ai, dos óios meus”. Como se vê, esse terceiro personagem causou sofrimento e dor e, no entanto, nenhuma penalidade lhe aconteceu. Essa pérola do cancioneiro nordestino também serve de metáfora para as práticas atuais na vida política brasileira. Políticos inescrupulosos “furam” os olhos do eleitor, para que este não consiga enxergar a realidade dos seus atos, enquanto outros “roubam” os sonhos daqueles que neles depositaram sua confiança. O resultado é eleitor lamentando a cegueira na qual vem tateando há muito tempo e eleitor que teve tirado de si a luz dos seus anseios, de seus desejos perdidos e destroçados.
                     Políticos atuais representam bem esse personagem. À numerosa galera, ou seja, o eleitorado, os olhos foram furados. Durante longo tempo militantes de certo partido celebraram a pureza ideológica da agremiação sem se dar conta do enorme abismo que separava “as conversas pra boi dormir” da verdadeira realidade. Com raríssimas exceções, ninguém da massa, da famosa militância chegou a enxergar o mastodôntico estelionato que era praticado à vista de todos. Como descobrir o jogo se estavam todos cegos? E, como nos versos da música eternizada por Luiz Gonzaga, o pássaro com os olhos cegos canta – e canta muito melhor! O desempenho da militância era de fazer inveja aos demais partidos. A cegueira motivava inspiração toda especial. Ir às ruas, comprar camisetas, bottons e bonés do próprio bolso, além de brandir, com aguerrida devoção, os dogmas do partido, tudo era feito com cega determinação.
                     Aos demais eleitores sobrou também o lamento pela dura realidade. “Também roubaram o meu amor, ai, que era a luz, ai, dos óios meus”. Quanta gente no Brasil embalou seus sonhos, seus maiores anseios civis em cima das promessas defendidas por famosos políticos, não é verdade? Para muitos era como se fosse um novo amor, algo arrebatador, que lhes traria um novo país. No Brasil esse fenômeno aqueceu mentes e corações de milhões e milhões de apaixonados, de embevecidos, que creram em um novo amanhã. A eles, com raríssimas exceções, restou a descoberta da dura realidade: olhos furados de uns; sonhos roubados de outros. De palpável apenas o seguir tranqüilo do causador de tamanha decepção. Pois devagarinho, devagarinho, tal figura vai se esgueirando pelos desvãos da impunidade, deixando atrás de si o som de um forte lamento. “Assum preto meu penar é tão triste quanto o seu...” 

fonte:por e-mail