QUEM
ESTÁ COMENDO ALFARROBAS?
contato com o autor:
Na parábola do filho pródigo, contada na Bíblia, (Lucas,
capítulo 15, versículo 11 em diante) de conteúdo bastante conhecido, fica
esboçado o desejo muito forte, da parte de um dos principais personagens da
história, em conquistar muito cedo a liberdade. Trata-se de um dos filhos de um
próspero fazendeiro que não estava aceitando a realidade simples, bucólica,
singela até, que vivia no campo. Ele queria rebuliço. Queria viver novas
emoções, experimentar o que se passava no horizonte distante da cidade. As notícias
chegavam até ele com cores fortes, dando conta do charme, do frisson, dos
prazeres que a urbe oferecia. Assim, essas informações começaram a atiçar sua
curiosidade. E o desejo de colocar a mão noutro estilo de vida se instalou,
definitivamente, em seu íntimo. Só uma coisa ele não sabia: o preço que teria
de pagar pela liberdade precocemente conquistada.
Os problemas começaram na divisão do patrimônio. O pai do rapaz não estava
preparado para fazer a partilha da riqueza. Mas, para atender à vontade do
filho, aceitou vender parte dos bens da família para antecipar a cota que cabia
ao herdeiro tão ansioso. O desfecho da história todos conhecem: o moço pegou o
dinheiro da herança e partiu para a cidade, onde torrou a fortuna inteira.
Arruinado, teve que trabalhar. E, como não tinha nenhuma qualificação
profissional, contentou-se com o primeiro emprego oferecido. Nesse momento o
preconceito começou a falar mais alto e a sua condição de falido fez surgir a
face cruel da frieza e da insensibilidade humanas. O rapaz, antes tão cheio de
amigos e de garbosos companheiros da alta sociedade, fora contratado para
tratar de porcos. Assim, de repente, viu-se rodeado apenas pela solidão do
curral dos porcos e pelo fedor sempre presente dos animais.
Além do mais, cuidar de porcos era uma atividade desprezível. Segundo a
tradição, eram animais impuros. Mais degradante ainda, e inteiramente
impensável, era dividir com eles a comida, o que terminou acontecendo em razão
da sua penúria financeira. Os porcos eram alimentados com alfarrobas, fruto, em
forma de vagem, da alfarrobeira, árvore comum na Palestina. E as pessoas sem
recursos, em caso de extrema necessidade, também recorriam a ela para fugir da
fome. O moço chegara, assim, ao fundo do poço. E a ansiedade da juventude,
enfim, cobrara seu preço. Agora, o que fazer? Como sair de posição tão
humilhante? O filho decidiu, então, voltar ao pai. O consumo da alfarroba, na
história do filho pródigo, representa o estágio mais dramático na luta de um
homem pela sobrevivência, semelhantemente aos que ainda hoje, praticando uma
rotina degradante, recorrem à lata do lixo.
Estes o fazem tão somente para continuar a ruminar sua miséria e indigência. Já
o rapaz encontrou na alfarroba o desfecho doloroso pela busca ansiosa, insana
até, pela liberdade, sem dispor ainda de uma estrutura psicológica condizente
para tanto. Na Bíblia, há um livro de uma sabedoria imensa, o Eclesiastes, que
diz em seu capítulo 3, versículo 1: “Tudo tem seu tempo
determinado”. Antecipar o tempo pode acarretar prejuízos incalculáveis,
além de dar início, precocemente, ao consumo de porções indigestas da vida.
Portanto, retornar ao pai foi, antes de tudo, um gesto de maturidade. Uma prova
de sensatez. Já o fazendeiro, no episódio, representa a figura do próprio Deus.
Que se coloca sempre de coração aberto para receber – e perdoar – o
filho que retorna ao lar paterno. Mesmo que este tenha decidido, por conta
própria, antecipar seu tempo, causando ao pai, com isso, incontáveis prejuízos.
fonte:por e-mail
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