O
livro fala sobre a história dos esquecidos pelo tempo, o povo e a riqueza
cultural do Seridó, através de textos deliciosos, sem qualquer pretensão
acadêmica. Não dá pra dizer, daqui para frente, que sabemos algo sobre o Seridó
sem ler “Grandes Personagens do Sertão”. Se para o escritor Oswaldo Lamartine,
o especialista por excelência sobre o Seridó, essa região do Rio Grande do
Norte “foi o que nos restou de civilização”, Francisca Noélia de Oliveira vem
agora mostrar, por meio de histórias do cotidiano, recolhidas no seio da sua
família de origem rural, resquícios de sua infância, entremeadas por outras
aprendidas nas suas andanças como extensionistas rural da Emater pelos velhos
sítios e fazendas, num espaço recheado de sabedoria popular e contado num instante
mágico de saudade e de lembranças de quem escreve sobre o que viveu. Noélia estabelece uma espécie de acerto de
contas com suas memórias e que agora, quer dividir com os leitores, pincelando
a graciosidade, a alegria, o modo de viver, a moda, a culinária, as crendices
populares, o peso da religião, os
embates sociais entre ricos e pobres e aí, destaca-se o “eu” poético da autora,
estabelecendo relação com o amor, o sofrimento e os valores sertanejos que tão
bem caracteriza esse povo de uma mundividência ampla e especial.
Num
toque essencialmente descritivo, Noélia
utiliza-se de representações simbólicas do sertanejo como: a flora, o olfato, o tato, entre outros aspectos e numa percepção com traços saudosista x melancólico, deixa transparecer o “eu lírico” que reconhece
“o refletir” sobre a vida do sertanejo, nos trechos, como: “Mexer com a
terra, sentir o cheiro de terra molhada, colocar sementes e entupi-la com os
pés, cuidá-la, adubá-la com carinho e depois colher seus frutos. Essa é a maior
alegria e riqueza dos agricultores(…). A terra é tão importante que te dá à
vida e te acolhe na morte, te guardando em seu seio, para a eternidade”.
Esse
é um livro que segundo o escritor Paulo Araújo lemos “de uma deitada só”, numa
rede, de preferência embaixo de um alpendre. Assim, Noélia nos delicia com esta
obra maravilhosa, que como os franceses da “Nova História”, relata o cotidiano
e a vida privada dos anônimos.
Há um ditado
popular que diz: Falar mal
dos outros é fácil, difícil é falar bem,
mas, contraditoriamente a este, o livro de Noélia trás a riqueza da dinâmica da
língua, através de graciosos Ditos,
Provérbios e bênçãos que o leitor deleita-se na cultura do riso e invade a alma
com maravilhosos poemas.
Vislumbra
a autora, sobre o viver no sertão entre a virada do século XIX até meados dos
anos 90, a separação entre o mundo dos adultos e das crianças, as brincadeiras
junto à natureza, a descoberta do sexo, o respeito aos mais velhos, os ritos da
vida e da morte, a geografia das casas e condução do lar, tudo isso, entremeado
pelas anedotas, às histórias engraçadas, os apelidos que as pessoas colocavam
nas outras e as chamadas pilérias (brincadeiras que até hoje funcionam como um
código próprio, entre os seridoenses, quando alguém quer falar algo em
privado).
Hoje,
mais uma vez, Noélia, simples tanto no falar como no escrever, através desta
obra, deixa seu legado para a literatura curraisnovense, do Povo para o Povo e
certamente, nossas Letras jamais serão as mesmas, como diria Madre Tereza de Calcutá
"Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem
ele, o oceano seria menor."
Texto
do escritor Paulo Araújo.
Adaptado
pela professora Auridete Alves.
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