O
ÚLTIMO CARNAVAL
Entre o imponderável e a
esperança caminhou acima d o fio da navalha e nós o ladeávamos com nossas
orações. Esse tempo estressante lembrava-me, todas as manhãs, o verso da Balada
do Cárcere de Reading “nunca homem vi que contemplasse tão ansioso a luz do
dia.”
A morte de Claudionor Batista
de Oliveira, o nosso Dosinho, é um golpe que atinge toda uma cidade e
entristece as almas sensíveis de minha geração, pois não conheço ninguém que,
nos carnavais dos anos cinquenta, não tivesse, nas ruas e nos salões dos
clubes, cantado suas músicas que nos levavam, sob jatos de lança – perfumes,
coloridos pedacinhos de confete e rolos de serpentinas, pelo meio da turba
enlouquecida.
Faz um bom tempo em que nos
encontramos. Foi no dia em que a Câmara Municipal de Natal outorgou-lhe o
título de cidadão natalense. Estava na companhia de Leide Camara, amiga
fidelíssima de todos os momentos. No rosto o sorriso franco, a simpatia irradiante.
Adormecido numa UTI de um hospital, indiferente as coisas que circulavam
externamente, podia estar, pela vontade do Pai do Tempo, sonhando como o
carnaval que lá fora acontecia, o derradeiro, enquanto aguardava a vinda de uma
legião de anjos para conduzi-lo à presença de Deus. Quero guardar de Dosinho a
alegria cativante e uma lembrança que não se perderá na minha memória. Viajou à
sua nova dimensão, na véspera do Dia Nacional da Poesia, a última de suas
premiações.
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