No livro Rascunho, Diulinda Garcia surpreende o leitor percorrendo os caminhos da prosa e o faz usando a palavra de uma forma consciente dotada das melhores ferramentas para a construção de uma prosa sem costuras inconsequentes avançando rumo à poesia. Nessa viagem entre a prosa e o verso, a autora passeia com o olhar atento ao cotidiano, mas sem se afastar de seu universo existencial, nos conduzindo a lugares inesquecíveis, ora questionadora, ora contemplativa e reverente frente "à Catedral de Notre-Dame", "artisticamente motivada pelas ladeiras de Montmartre" ou frente a frente com o seu profundo rio em uma viagem imaginária, onde o poema se constrói em parceria com a palavra, a emoção e o sentir expressos com fluência e autêntica delicadeza.
Percebe-se neste livro, as inquietações de quem procura no solo fértil da vida,entre verões e ventanias, a matéria prima necessária à feitura de sua trama poética, se evidenciando a busca permanente pela palavra exata, verdadeiro artesanato, onde o verso livre, espontâneo e visceral, volta e meia pede espaço para imprimir uma mensagem, expor, denunciar e chamar a atenção para determinadas situações sociais. Como diz o poema "Exclusos": Se incluem numa vida sem bússola / nos guetos sem portas / que indiquem a saída / entre o lixo e o luxo / comem o pão amassado / pelo tal mundo cão / que deserda e exclui.
Em RASCUNHO, a autora às vezes escapa à razão viajando na multiplicidade de seu universo, adentrando nos seus mistérios sem submeter-se à regras e formas, compondo versos livres, de efetiva proficiência poética, sublinhados pelo lirismo e pela concisão sem esquecer de "rir pro céu e regar flores com gotas de riso e de amor".
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