sexta-feira, 9 de agosto de 2013

GRANDES PERSONAGENS DO SERTÃO





O livro fala sobre a história dos esquecidos pelo tempo, o povo e a riqueza cultural do Seridó, através de textos deliciosos, sem qualquer pretensão acadêmica. Não dá pra dizer, daqui para frente, que sabemos algo sobre o Seridó sem ler “Grandes Personagens do Sertão”. Se para o escritor Oswaldo Lamartine, o especialista por excelência sobre o Seridó, essa região do Rio Grande do Norte “foi o que nos restou de civilização”, Francisca Noélia de Oliveira vem agora mostrar, por meio de histórias do cotidiano, recolhidas no seio da sua família de origem rural, resquícios de sua infância, entremeadas por outras aprendidas nas suas andanças como extensionistas rural da Emater pelos velhos sítios e fazendas, num espaço recheado de sabedoria popular e contado num instante mágico de saudade e de lembranças de quem escreve sobre o que viveu.  Noélia estabelece uma espécie de acerto de contas com suas memórias e que agora, quer dividir com os leitores, pincelando a graciosidade, a alegria, o modo de viver, a moda, a culinária, as crendices populares, o peso da religião, os embates sociais entre ricos e pobres e aí, destaca-se o “eu” poético da autora, estabelecendo relação com o amor, o sofrimento e os valores sertanejos que tão bem caracteriza esse povo de uma mundividência ampla e especial.
          Num toque essencialmente descritivo, Noélia utiliza-se de representações simbólicas do sertanejo como: a flora, o olfato, o tato, entre outros aspectos e numa percepção com traços saudosista x melancólico, deixa transparecer o “eu lírico” que reconhece “o refletir” sobre a vida do sertanejo, nos trechos, como: “Mexer com a terra, sentir o cheiro de terra molhada, colocar sementes e entupi-la com os pés, cuidá-la, adubá-la com carinho e depois colher seus frutos. Essa é a maior alegria e riqueza dos agricultores(…). A terra é tão importante que te dá à vida e te acolhe na morte, te guardando em seu seio, para a eternidade”.
Esse é um livro que segundo o escritor Paulo Araújo lemos “de uma deitada só”, numa rede, de preferência embaixo de um alpendre. Assim, Noélia nos delicia com esta obra maravilhosa, que como os franceses da “Nova História”, relata o cotidiano e a vida privada dos anônimos.
Há um ditado popular que diz: Falar mal dos outros é fácil, difícil é falar bem, mas, contraditoriamente a este, o livro de Noélia trás a riqueza da dinâmica da língua, através de graciosos Ditos, Provérbios e bênçãos que o leitor deleita-se na cultura do riso e invade a alma com maravilhosos poemas.
Vislumbra a autora, sobre o viver no sertão entre a virada do século XIX até meados dos anos 90, a separação entre o mundo dos adultos e das crianças, as brincadeiras junto à natureza, a descoberta do sexo, o respeito aos mais velhos, os ritos da vida e da morte, a geografia das casas e condução do lar, tudo isso, entremeado pelas anedotas, às histórias engraçadas, os apelidos que as pessoas colocavam nas outras e as chamadas pilérias (brincadeiras que até hoje funcionam como um código próprio, entre os seridoenses, quando alguém quer falar algo em privado).
Hoje, mais uma vez, Noélia, simples tanto no falar como no escrever, através desta obra, deixa seu legado para a literatura curraisnovense, do Povo para o Povo e certamente, nossas Letras jamais serão as mesmas, como diria Madre Tereza de Calcutá "Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor."

Texto do escritor Paulo Araújo.
Adaptado pela professora Auridete Alves.

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