Zé Milanês: o poeta cidadão*
Poeta Francisco Cândido
Na cantoria de vida e viola,
Em noite de lua e madrugada
O poeta motivado não amola,
Nem entorta o ritmo da toada.
Lá fora o canto da passarada
Que em sinfonia, ninava a noite
Nos porões o estalar de açoite
E o canto afinado da rapaziada:
Vai-se um amor e vem outro
A andorinha só não faz verão
Não quero ser como pau torto
Vem e te dou meu coração!
Só o amor à cultura prevalecia
Havia comunhão entre amigos
E o cantador com maestria,
Louvava Dona Flor e seus maridos.
Cantava a dor e a esperança
No raiar de um novo tempo
Feito de justiça e de bonança,
Não podia ser jogado ao vento.
Idealizava um novo mundo
Onde não houvesse exploração.
A amizade fosse um bem profundo
E em tudo prevalecesse à união.
A saúde, o pão e a educação
Seria direito básico e não favor
Assegurados a toda população
Sem discriminação de religião e cor
Era conhecido como Zé Milanês,
Sindicalista e poeta popular,
Um homem de indiscutível altivez
Só queria aos trabalhadores ajudar.
Tive a honra de conhecê-lo, um dia
Numa noite de animada cantoria
O Pé de Serra se enchia de alegria
Ao som da viola, o povo sorria.
Deixou um grande legado
De coragem, justiça e lealdade.
Deixo aqui o amor poematizado
Por uma questão de fraternidade.
Versejo abraçado a minha terra,
Celebrando os caminhos da vida
Que às vezes a terra seca aterra
Ao lado do sagrado berço da lida.
Seu coração guardava segredos
De vida e viola, gado e gente
Desenrolando, dá mil enredos
De um conto ao descontente.
Sinto prazer em observar e cantar
As belezas raras do Nordeste
Só a zabumba me faz rebolar,
Sendo um valente cabra da peste.
* Poeta e líder sindical, barbaramente assinado, na cidade de Currais Novos (RN), em função de sua luta em defesa dos trabalhadores rurais.
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