Carlos Lúcio Gontijo por Antônio Carlos Dayrell
Quando a vez é do mar
Carlos Lúcio Gontijo
Não
podíamos deixar de registrar o lançamento de nosso 14º livro, o romance “Quando
a vez é do mar”, que se deu em Belo Horizonte no dia 27 de abril de 2012, com a
presença de grande público, numa comovente homenagem ao nosso trabalho
literário, que vem desde 1977, quando lançamos o nosso primeiro livro.
Incrivelmente,
assistimos ao avanço do desapreço pela literatura, tanto pela propagação da
cultura do som e da imagem quanto pela inexistência de efetiva política de
incentivo à leitura, que se nos apresenta com baixíssimos índices no Brasil,
onde sequer chamadas bienais ou feiras de livro conseguem a amplitude
desejável, uma vez que concedem espaços privilegiados (muitas vezes
remunerados) a gente que não é do ramo e que não passam de figurões bafejados
pelos holofotes da mídia ignara e carro chefe da exaltação ao grotesco e
desprovido de valor, ao passo que autores independentes permanecem
desembolsando recursos próprios até mesmo para a obtenção de prateleira nos
pontuais eventos de apresentação de livros.
Ademais,
o que se observa é que a maioria dos verdadeiros leitores não se encontra entre
os abastados, mas sim nas camadas remediadas. Os que usam os (des)serviços de
transporte público de passageiros sabem muito bem que, geralmente, se houver
alguém lendo durante a incômoda viagem, é gente negra, mulata ou parda, que via
de regra integra a camada mais pobre da população. Exemplo disso é a filha de
pedreiro (presente ao evento) que há muito nos empresta seu braço em Contagem,
que acaba de ser aprovada no Cefet, exatamente pelo cultivo do gosto pela
leitura. Ou seja, a luta pela criação de hábito de leitura não é questão
dependente ou afeita apenas à renda das famílias.
Confessamos
que o panorama no mercado de livros é tão contraditório e esdrúxulo que
enfrentar o lançamento de obra literária independente numa cidade como Belo
Horizonte é assumir elevado risco de insucesso, com magnitude suficientemente
capaz de provocar o total desânimo a qualquer autor, conduzindo-o até mesmo a
abandono do exercício da arte da palavra escrita.
Antônio
Fonseca, Carlos Lúcio Gontijo e Ieda Alkimim
Foto: Antônio Carlos Dayrell
Dessa
forma, sentimo-nos no dever de fazer agradecimento público a todos que optaram
por prestigiar o nosso empenho literário, virando as costas aos vários apelos
existentes numa capital, onde a violência desenfreada e o transporte caótico
são um convite para o cidadão ficar quieto em casa. Assim, agradecemos
profundamente a todos que nos deram a honra de sua presença. Foi uma enorme
felicidade contarmos com apoio de vários escritores e poetas independentes, tais
como Sônia Veneroso (presidente da Academia Santantoniense de Letras–ACADSAL),
Ádlei Duarte de Carvalho, Regina Morelo, Luiz Cláudio Paulo, José Estanislau
Filho, Antônio Carlos Dayrell, Fátima Oliveira, João Silva de Sousa. Além de
Ieda Alkimim e Antônio Fonseca, que em nome da Academia Betinense de Letras nos
outorgaram belo troféu de “Mérito Literário”, com gravação de expressivos
versos extraídos de poema de autoria de Antônio Fonseca. “Dá para pressentir:/
Há um burburinho em cada esquina/ Em cada bairro da cidade/ Há um bêbado
pensando ser sábio./ Há um mendigo saciado de fome” (...).
Carlos Lúcio Gontijo e Antônio
Dayrell
Voltamos
para casa com certeza de que a literatura ainda possui atração e força, pois do
contrário não contaríamos com presenças ilustres como as do jornalista Hélio
Fraga; do ex-secretário do Estado de Minas Gerais José Ulisses; do Professor
Irineu, presidente da Câmara Municipal de Contagem; do jornalista Jorge Faria;
dos irmãos advogados Sônia e José Magela Couto; do casal Ana Maria e Adílson
Batista, que jamais deixou de ir a lançamento de livros nossos em BH; Ângela
Maria Sales, autora de “Carlos Lúcio Gontijo na bateia de uma leitora”; e dos
leitores Fernando Maia e Ambrosina Castelar, que vieram de Campinas (SP), para
nos conhecer pessoalmente. Premiou-nos também com sua presença o jornalista e
professor universitário Magnus Martins Pinheiro, que se deslocou de Teresina
(PI) e aproveitou para nos agendar lançamento na capital piauiense no mês de
agosto próximo.
Indistintamente,
derramamos com emoção o nosso mais profuso agradecimento a todos os amigos
leitores presentes, que são uma espécie de coautores, uma vez que os que
escrevem necessitam da sensibilidade e da intelectualidade de quem os lê. Sem
isso, sem esse mar espiritual, as palavras grafadas no papel não têm onde
desaguar.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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