Décadas de expansão populacional e de
intensa urbanização em Natal intensificaram os chamados “vazios
educacionais”. O problema é mais grave na rede pública estadual do
Ensino Médio. Nos dois distritos mais populosos – Norte e Oeste – o
número de vagas ofertadas não chega à metade do que seria necessário. As
26 escolas das duas regiões comportam, no máximo, 13.407 alunos, o que
representa 43,66% das pessoas na faixa etária do ensino médio, de 15 a
17 anos.
De acordo com os dados do Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as duas regiões
concentram, juntas, 30.704 habitantes de 15 a 17 anos. Na zona Oeste,
são ofertadas 4.955 vagas, quando a população de 15 a 17 anos é superior
a 12 mil. Na zona Norte, área de maior crescimento demográfico de
Natal, a oferta é de 8.452 vagas, quando mais de 17 mil pessoas estão na
faixa etária do ensino médio.
O problema tem origem na distribuição
espacial da rede escolar. Regiões, como as Leste e Sul, de menor demanda
para o ensino público e onde o fluxo escolar é mais direcionado para a
rede privada, são detentoras de escolas maiores, com maior capacidade na
oferta de vagas.
A zona Leste, por exemplo, possui 14
prédios e 8.180 alunos matriculados em 2011. Na faixa de 15 a 17 anos,
essa região tem bem menos: 5.419 pessoas. Na zona Sul, as dez escolas
existentes ofertam 5.781 vagas – 786 a mais do que na zona Oeste.
Com 803 mil habitantes, em uma área de
170,3 km2, segundo o Censo 2010, Natal é uma cidade de contrastes
urbanos e sociais. No Ensino Médio, os problemas mais críticos de
demanda reprimida estão nos bairros do Guarapes, Felipe Camarão e
Planalto, na zona Oeste; e no Pajuçara, Nova Natal e N. Sra. da
Apresentação, na zona Norte de Natal, onde é preciso “varar” a noite
para conseguir uma vaga.
Any Suely Teixeira, 18 anos, está no 3º
ano do ensino médio. Foi obrigada a estudar longe de onde mora. Precisa
desembolsar R$ 44,00, por mês, para se deslocar de ônibus, do Guarapes à
escola Padre Miguelinho, no bairro do Alecrim, distante cerca de 17 km.
No bairro, tem uma única escola de ensino médio, que que em 2011,
recebeu 172 alunos. De acordo com o IBGE, o bairro tem 767 pessoas entre
15 a 17 anos [faixa do ensino médio].
A escola funciona de forma improvisada,
apenas no período da noite, no prédio da Escola Municipal Francisco
Varela, utilizando seis das onze salas de aula. Compartilha não apenas
espaço físico, mais cadeiras, computadores e material de expediente. Às
vezes, segundo informações dadas à TRIBUNA DO NORTE, pelo diretor da
escola municipal, “o funcionamento fica comprometido porque a escola
ainda não tem Caixa Escolar”.
A tia de Any, a ambulante Raimunda
Teixeira disse que não é fácil garantir o deslocamento, do Guarapes, até
o Alecrim, todos os dias. “Teve um tempo que ela não trabalhava e foi
um aperreio”, contou, acrescentando que a filha, Rainere, de 17 anos,
desistiu de estudar na na escola estadual Walfredo Gurgel, em
Candelária, preocupada com o custo de passagem “Foi na época que adoeci,
então não estava fácil garantir R$ 44,00, todo mês, para o ônibus”,
lembra Raimunda.
Raniere conseguiu transferir a matrícula
para a Escola Guarapes, mas a mãe não aprova a mudança. “Eu não
gostaria que minha filha estudasse à noite. Gostaria que ela tivesse a
opção de estudar durante o dia, e aqui no bairro. De noite, não tem o
mesmo rendimento”, afirmou, ressaltando que o bairro precisa de uma
escola de Ensino Médio nos três turnos. Hoje, a situação é melhor,
reconhece. A família mora no bairro há 7 anos.
Quando Any Suely terminou o ensino
fundamental não havia escolha: tinha que procurar vaga fora do bairro. A
escola do Guarapes só começou a funcionar em 2010. Aqui tem o problema
da falta de professor, porque eles alegam que não há segurança para
trabalhar aqui”, disse Raimunda, concluindo que “no final das contas
quem fica prejudicado é o aluno”.
Sara Cristina Costa da Silva, 15 anos,
está no 1º ano do ensino médio. Mora no bairro de Felipe camarão e teve
sorte por encontrar vaga em uma escola nas proximidades, na escola União
do Povo, localizada no bairro vizinho – Cidade Nova. Faz o percurso até
a escola à pé, em 20 minutos. Em Felipe Camarão, a única escola, a E.E
Maria Queiroz comporta, em média 600 alunos. A demanda do bairro é bem
maior: 3.315 pessoas, com idade de 15 a 17 anos.
No primeiro ano do Ensino Médio, Sara
considera que está numa boa escola. “Eu gosto, os professores são bons”,
disse, completando que “falta apenas o laboratório de informática
funcionar”. No rol de amigas, muitas só encontraram vagas em bairros
mais distantes, como Candelária e Lagoa Nova e centro da cidade.
Entrevista – Maria Auxiliadora da Cunha Albano, Subcoordenadora de Organização e Inspeção escolar
“Não tivemos um planejamento de rede”
Por que a ampliação da rede pública de ensino médio não aconteceu no mesmo ritmo da expansão populacional?
Realmente existe uma diferença entre as
quatro regiões da cidade. A população mais simples foi se afastando para
a periferia e não tivemos um planejamento de rede para alcançar essas
pessoas. Mas isso não é deficiência da secretaria. Temos clareza e
estamos procurado resolver, procurando fazer, de imediato, esse
planejamento de rede.
A SEEC estuda a expansão da rede em Natal?
Estamos canalizando esforços para
adquirir terrenos. Agora mesmo, fechamos parceria com a Secretaria
Municipal de Saúde de Natal para que os agente comunitário de saúde
possam detectar, através da aplicação de questionário, durante as
visitas, onde está a demanda reprimida. Ou seja, onde está o analfabeto e
aquele que abandonou a escola no ensino fundamental. Esse trabalho vai
começar por Natal. É um passo que estamos dando para o planejamento de
rede.
O que se pode esperar para o ensino médio em 2012?
Nossa política é de expansão de
matrícula, com qualidade, garantindo acesso, permanência e sucesso do
estudante. Isso não é discurso vazio. Temos feito reuniões e tomado
providencias operacionais. Compromisso e vontade de atingir esses
objetivos nós temos. Estamos melhorando de forma a qualificar a escola
pública, fazer o acompanhamento da escola, para melhorar o ensino
aprendizagem e devolver a credibilidade. É um processo que precisamos
construir. Não se encontra pronto e precisa de um
esforço coletivo, da Secretaria, da escola e da sociedade.
esforço coletivo, da Secretaria, da escola e da sociedade.
Como a senhora vê essa questão dos espaços ociosos?
A falta de vagas em determinados bairros
é uma realidade, enquanto em outros sobra vagas. Nossa política não é
fechar escola. Sofremos muito quando isso é preciso que isso aconteça.
Só suspendemos as atividades de uma escola, ouvindo a comunidade, e
quando existe escola pública para receber esses alunos. Ninguém fecha
escola para deixar aluno sem condições de estudar. Com o já disse, nossa
meta é expandir matrícula e construir novas escolas e vamos chegar lá.
Por que não se faz um redimensionamento da rede estadual para o ensino médio?
Nós precisamos fazer o reordenamento de
rede, sim. Mas enquanto algumas escolas pedem isso [priorizar o Ensino
Médio], outras acham que é prejuízo, porque aluno significa mais
recursos para a escola. Mas, garanto que a secretaria vai definir sua
politica de reordenamento e colocá-la em prática. Onde for possível
vamos deixar só uma etapa de ensino. Vamos reorganizar de acordo com o
perfil da escola e qualificar a equipe com formação continua, para que
se aproprie das condições necessárias para dar conta daquela etapa de
ensino.
Não é possível acabar com o Ensino fundamental nas escolas estaduais?
A Constituição Federal é clara nesse
sentido. A Educação Infantil é de responsabilidade do município; o
Ensino Médio, do governo estadual; e o Ensino Fundamental, é de
responsabilidade dos dois governos igualmente. A Secretaria tem
interesse em investir nos dois. Podemos até fazer negociação com alguns
municípios, mas nunca deixar de investir no fundamental.
Bairro de N. S. da Apresentação tem só uma escola
Uma das áreas mais populosas de Natal, o
bairro N. Sra. Da Apresentação, possui 5.035 habitantes com idade entre
15 e 17 anos (faixa do ensino médio), o que representa 28,14% da
população dessa faixa, que mora na zona norte de Natal. Mas, apesar da
alta demanda pelo ensino médio, tem apenas uma escola, a Ana Júlia
Carvalho, que está localizada no conjunto Parque dos Coqueiros.
A escola ofertou, em 2011, 1.487 vagas,
de acordo com dados da Secretaria Estadual de Educação e Cultura
(SEEC). Todas preenchidas. Para este ano, as matrículas para novatos
foram realizadas de forma online e, nos dois primeiros dias, 114 pessoas
já
estavam inscritas. Muitos vão ficar de fora porque a oferta é de apenas 75 vagas, segundo a diretora Maria José Azevedo de Andrade Abrantes. A escolha será feita pela SEEC, por sorteio.
estavam inscritas. Muitos vão ficar de fora porque a oferta é de apenas 75 vagas, segundo a diretora Maria José Azevedo de Andrade Abrantes. A escolha será feita pela SEEC, por sorteio.
“A demanda é muito alta, nunca atendemos
completamente”, reconhece a diretora da escola, explicando que isso
acontece pelo número reduzido de escolas na Zona Norte. Não são poucos
os alunos desse distrito que estudam no Edgar Barbosa, Padre Miguelinho e
Churchill. Segundo a coordenadora pedagógica, Maria Célia de Medeiros,
todos os anos chegam a ficar até 300 pessoas sem matricula.
“Não temos como recebê-los”, disse ela,
“porque não temos espaço físico”. Para acomodar os 1.487 alunos, em
2011, a escola já coloca 45 alunos, ao invés de 40, em cada sala
de aula. São 36 turmas, nos três turnos, divididas em 12 salas de aula.
“No turno matutino”, disse Maria Célia, “nunca é possível abrir vagas
para novatos porque completa o número de vagas com os encaminhados pelas
escolas municipais (Terezinha paulino e Waldson Pinheiro]”.
escolas municipais (Terezinha paulino e Waldson Pinheiro]”.
A evasão no turno da manhã praticamente
não existe, mas é significativa nos turnos da tarde e noite. A escola
tem laboratórios de informática, com 17 computadores, e de vídeo, e está
instalando novas salas multimídia. Os livros didáticos de 2012 já estão
na escola, num total de 1.557 exemplares de todas as disciplinas,
inclusive Filosofia, sociologia, espanhol e inglês.
A deficiência está na biblioteca, que
tem acervo desatualizado e não há espaço adequado. A sala de leitura é
pequena e está sendo reestruturada pela direção. Por enquanto, os livros
ainda estão amontoados. A diretora explicou que está sendo feita uma
triagem, para separar os livros de utilidade para os alunos. ”A nova
sala de leitura será pequena, mas organizada e terá
quatro computadores”, garantiu.
Segundo a diretora, apesar
das dificuldades da escola pública, a escola tem bons resultados. Em
2010, aprovou 28 alunos no Vestibular da UFRN, e em 2011, aprovou 21.
A expectativa da direção é de aumentar a oferta de vagas, a partir
de 2013, com os novos projetos que serão instalados. Criada em 1999,
a escola foi incluída na segunda fase do Programa
Brasil Profissionalizado. Ganhará mais salas de aula,
biblioteca, auditório, ginásio de esportes e laboratórios de agrotêxtil,
agroecologa e turismo. A escola também está inclusa no Ensino Médio
Inovador, que libera recursos para capacitação dos professores e
desenvolvimento de projetos pedagógicos.
Fonte: Tribuna do Norte
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