E PRA
ONDE VÃO OS NÃO SELECIONADOS?
Públio José – jornalista
O ser humano é, por natureza, seletivo. Seleciona amizades, relacionamentos,
profissão, local de morada, de trabalho, bebidas, comidas, livros, filmes e uma
série infindável dos mais variados itens que compõem o universo humano. E, da
mesma forma que age seletivamente no campo racional, o homem é levado biologicamente
a permanecer na esfera seletiva quando suas ações envolvem escolhas de natureza
sensitiva, metafísica, espiritual. O olfato é seletivo, o tato também –
como também o são todos os demais sentidos. Em vista disso, seria mais do que
lógico gestar-se, no âmbito dos elementos que circunscrevem o homem, uma
cultura correspondente. E isso realmente acontece, com a seletividade invadindo
os terrenos mais díspares e celebrando os objetivos igualmente os mais
variados. E aí (afinal, ninguém é de ferro) os limites extrapolam e os absurdos
se fazem presentes, atingindo o inimaginável.
Hitler, por exemplo, praticou a seletividade na população alemã a grau extremo,
querendo, com isso, atingir a expressão maior da pureza ariana, um sonho louco
que outros loucos infelizmente apoiaram. Franco, na Espanha, à mesma época,
exercitou a seletividade político/ideológica torrando, no campo do conflito
armado, quem não se enquadrava nos seus devaneios ditatoriais. Stalin, um pouco
depois, também se aprofundou na seara da seletividade, matando, a torto e a
direito, aqueles que não se encaixavam no perfil que escolhera. Chegou,
inclusive, a fazer seleção além mar, ao fincar, através de um fanático
militante, uma machadinha na cabeça do camarada Trotsky. Como se vê, a prática
da seletividade entregue ao livre arbítrio do homem consegue tisnar de negro a
história em todos os quadrantes. (Embora, no que toca à Ciência, o selecionar
tenha contabilizado enormes benefícios).
Mas não fiquemos somente ao lado de tais figuras. Aliás, bizarras figuras.
Busquemos facetas mais amenas do ato de selecionar. Encontraremos? Dia desses,
vendo um comercial de TV, tive a curiosidade despertada por um chavão que
impregna a atividade publicitária e que quer nos fazer de idiotas. Em meio a
imagens belíssimas de uma área gramada, (era um comercial de vinho), em idílico
cenário, o locutor informa que o produto era resultado de um rigoroso processo
de seleção de uvas. Fiquei a imaginar, então, a enorme quantidade de uvas
lançadas fora após a seleção. Montanhas e montanhas delas certamente. Mais
adiante, em anúncio de carne de frango, outro locutor comunica que a fábrica
coloca no mercado frangos “rigorosamente selecionados”. E os não
selecionados onde vão parar? O mesmo acontece com perfumes, leite, cervejas,
roupas, produtos de beleza...
Faço um exercício mental e não consigo enxergar onde se encontra o resultado
dessa gigantesca operação seletiva. Jogaram no mar? Distribuíram entre os pobres?
O negócio começa a ficar complicado quando o processe envolve gente. Porque,
entre frangos, uvas, roupas e que tais, sou “trabalhado” por outra
empresa, cujo apresentador afirma, professoralmente, que o seu quadro funcional
é resultado de uma “rigorosa política de seleção de recursos
humanos”. Daí ser o seu produto o melhor, o maior, etc, etc, etc. E
agora? Se em um processo seletivo apenas uma pequenina parte de um todo é
escolhida, o que será feito da parcela sobrante? Em se tratando de mercadorias
ainda dá pra amontoar o que restou da seleção em algum lugar. Ou, no mínimo,
esperar que compradores menos exigentes adquiram o restolho. Mas com pessoas,
com seres humanos, como se faz? É bronca! Alguma sugestão?
fonte: por e-mail
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