IV - TOMISLAV R. GRMINICK
A Coluna Preste no Rio Grande do Norte -
IV Tomislav R. Femenick (*)
Ao
ser narrado, um fato histórico só tem sentido se forem expostos alguns
elementos a ele pertinente, tais como: as causas, circunstâncias e
repercussão, por exemplo. Portanto não há como se taxar de embromação
quando se fala dos antecedentes, dos personagens e das consequências da
revolução francesa, da abolição da escravidão no Brasil ou do nascimento
de Cristo.
A simples narração dos fatos não é historiografia, pode até
assumir as feições de novela barata, quando impregnada de tendências e
bravatas melosas.
Assim se dá quando se aborda a passagem da Coluna
Prestes pelo Rio Grande do Norte. Há que se dizer das causas e o que foi
a própria coluna, a inquietação causada nas localidades envolvidas
direta ou indiretamente no evento, o contexto dessas localidades na
época do evento, a comoção provocada entre as pessoas e, por ultimo, os
ataques, a defesa das cidades e seus reflexos. Isso porque sem
repercussão na sociedade um fato não é histórico. É, quando muito,
apenas um fato perdido entre tantos outros. Dito isso, vamos à cidade de
Natal nos dias que antecederam a entrada da Coluna Prestes em terras
potiguar. Em 1926 o Rio Grande do Norte tinha uma população que se
aproximava de 600 mil habitantes e Natal um pouco mais de 30 mil. Era
uma cidade bucólica e relativamente tranquila, mas que vivia um momento
de transformação. Segundo Gabriela Fernandes de Siqueira, “na década de
1920 a aviação teve maior desenvolvimento em Natal. O número de
automóveis aumentou e ocorreram melhorias na área de educação”. O Estado
era governado por José Augusto Bezerra de Medeiros, que estava no
terceiro ano do seu mandato. Embora não se sentisse ameaçada de ataque
direto pelos revoltosos, a capital do Estado vivia um clima de
expectativa pelo que poderia acontecer. O histórico divulgado sobre as
investidas dos integrantes da Coluna em outros Estados nordestinos davam
contra de um rastro de perdas humanas e danos matérias nas cidades em
seu itinerário. O historiador Raimundo Nonato assim sintetizou a
situação, às vésperas da chegada dos rebelados: “Na Capital irradiava-se
essa onda de agitação pelos pontos de concentração popular – O café
Cova da Onça, na Ribeira, o Grande Ponto, na Cidade Alta e Alecrim”. Daí
saiam os boateiros levando as novidades reais ou inventadas. De
verídico mesmo somente as informações transmitidas pelo governo federal
ao governo do Estado, dando conta que elementos da Coluna Prestes já
tinham saído da cidade de Iguatu, no Ceará, e estavam se deslocando para
o Rio Grande do Norte; tudo indicando que o ataque seria na cidade de
São Miguel. Esse contingente de ataque era integrado por cerca de 70
homens bem armados e a maioria deles com treinamento militar. Os
preparativos para a defesa legalista começaram a serem arquitetados,
inclusive com a formação de batalhões compostos por elementos da Polícia
Militar do Estado, preponderantemente lotados em Natal (sob o comando
do tenente João Machado), e possivelmente do Exército nacional, esses
vindos de Fortaleza. O grande problema era o deslocamento dessa tropa
para o local presumível do teatro da batalha. Optou-se, então, por se
usar o porto de Areia Branca, a Estrada de Ferro Central do Rio Grande
do Norte e vias rodoviárias; estas últimas poucas, de trânsito difícil e
de acesso complicado. O governo do Estado delegou o comando da defesa
São Miguel ao líder político local João Pessoa de Albuquerque (também
conhecido por João Leite e Coronel do Baixio de Nazaré), coronel da
Guarda Nacional, deputado estadual e que presidiu a Intendência
Municipal de São Miguel por um período de 18 anos, de 1910 a 1928.
O Jornal de Hoje.
Natal, 31 dez de 2013.
(*) Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN
veja mais aqui: www.ubern.blogspot.com
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