A EXPRESSÃO LITERÁRIA DO ESCRITOR CIRO JOSÉ TAVARES - BRASILIA/DF
OS BONDES
PARTE I
Ainda bem pequeno eu acompanhava meu pai que, todos os domingos,
levava flores ao túmulo de minha avó, no Cemitério do Alecrim. Morávamos
na Avenida Deodoro, numa casa alugada a Palatnik. Ele mantinha uma vila
de imóveis, concentrada numa grande área entre as Ruas General Osório,
Ulisses Caldas e parte da Felipe Camarão. Eram todas assemelhadas,
pintadas numa tonalidade ocre. Tempo em que a Avenida Deodoro era areia,
grama, um longo canteiro, no centro, a dividi-la e com seus
fícus-benjamins, espalhando sombras que amenizavam os dias estivais.
Saíamos andando para pegar o Bonde na Avenida rio Branco. Mas, ao
retornar meu pai promovia um passeio agradável até Lagoa Seca, na
Avenida Quinze, o final da linha. Era daí que partia na direção da
Ribeira, cruzando a cidade, numa viagem demorada, divertida, animada na
conversa sem segredos, o repetido toque da sineta acionada pelo
motorneiro, a molecagem dos espertalhões que morcegavam estribos, para
fugir do cobrador. Hoje não faço a menor ideia do tempo que gastávamos,
da Praça Gentil Ferreira, no Alecrim, á Esplanada Silva Jardim, limite
da Ribeira com as Rocas, onde víamos a secular tatajubeira, à sombra da
qual, na infância, meu pai brincava com os filhos de D. Maria Farache,
Joaquim Noronha, Adriano Rocha e outros de sangue canguleiro.
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