AMOR:
SENTIMENTO OU ATITUDE?
Públio José
– jornalista
Diante da alta criminalidade, de tanta violência cometida em nome do amor,
ao longo da História e atualmente, assoma em nós uma séria dúvida se o homem
conhece realmente o amor. Ou se não o confunde com outra coisa. Pois que nome
se dá ao crime praticado em nome do amor e que resulta na morte da namorada, do
noivo, da esposa, do pai, do filho? Certamente que amor não é. Falo
genericamente, embora considerando que as exceções existem. Há realmente nesse
mundo de tanto desamor gente praticando o amor sincera e honestamente. Destes,
destaco dois: Madre Teresa e Gandhi pela vida de amor que viveram. No entanto,
aproveitando o pensamento de Ruy Barbosa, quando externou desalento por ver
tantas demonstrações de desonestidade, a ponto do homem, segundo ele, passar a
ter vergonha de ser visto como honesto, também duvido do uso e conceito que o
homem dito moderno faz do amor.
Afinal, o que ele significa? Resposta simples? Nem tanto. Não pelo que se fala.
Mas pelo que se pratica. Pois amor não é discurso. É prática, atitude,
comportamento. E qual o seu significado, finalmente? As interpretações são
inúmeras. As conceituações as mais abrangentes; as escolas, os movimentos, os
modismos, os academicismos que tratam, analisam, estudam o amor o fazem das
formas mais diversas possíveis. As distorções também são numerosas, é claro,
tendo em vista tratar-se de um tema impalpável, inconcreto, que não se coloca
no bolso ou na mala e se carrega para onde se quer. O amor é sentimento? Muitas
escolas científicas assim o definem. Aliás, no conceito da maioria das pessoas,
o amor é tido como um sentimento. Será? Vejamos o que diz o dicionário sobre o
assunto: “amor é um sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro
ser ou a uma coisa; devoção extrema”.
Vejam que o mesmo dicionário que diz ser o amor um sentimento, ao conceituar o termo sentimento, o faz dizendo que
“sentimento é uma disposição afetiva em relação a coisas de ordem moral
ou intelectual”. Então, segundo o dicionário, se sentimento é uma disposição e amor é um sentimento,
então amor é, de princípio, disposição.
E o que diz o dicionário sobre disposição?
“Palavra que significa tendência, temperamento, atitude ou propensão para
alguma coisa ou contra alguma coisa”. Conclui-se, então, ser o amor uma
disposição, uma tendência, uma atitude tomada em prol de alguém ou de alguma
causa – e não um sentimento. Algo, portanto, de origem ativa. A diferença
entre um conceito e outro é abismal, pois o amor, sendo sentimento, seria
prisioneiro da passividade, necessitando de algo que o atiçasse, que o movesse.
Já como atitude é vivo, dinâmico, força motriz que se move em direção ao
outro.
E nada melhor para explicar o amor do que o exemplo dado por Deus no tocante a
Jesus Cristo. Deus nos ama – é certo! Mas não ficou somente no discurso.
Fez-se homem em Cristo e, numa atitude de amor – e não simplesmente num
sentimento – provou seu amor por nós dando sua vida “para salvação
de muitos”. Essa questão de conceituação de amor é oportuna,
principalmente pelos tempos que o mundo vive de relativização de princípios e
de quebra na sua escala de valores. Pois, nada melhor, nesse contexto, do que
se desvirtuar, se distorcer o conceito de amor, divulgando-o como sentimento
– volto a repetir: o que o faz transformar-se em mera postura passiva –
ao contrário de disposição, de atitude, realidade na qual o amor se adensa, se
agiganta, sendo alicerce do qual derivam inúmeros outros comportamentos de
essência semelhante. Amor, em resumo, é atitude, disposição, propensão.
Confunde-se também amor com a prática do bem, atitude quase sempre envolvida
com alguma forma de interesse, fato que muito se vê por aí. Pois, ao contrário,
uma das principais facetas do amor é o seu desligamento a qualquer tipo de
recompensa. Referi-me, linhas atrás, aos exemplos de Madre Teresa e de Gandhi.
Porque qual a recompensa, qual o patrimônio que amealharam em vida pela vida de
amor que viveram? Exemplo bem maior ainda é dado por Jesus Cristo. Qual a
vantagem que ganhou pelo seu sacrifício? Sabe-se que, com seu gesto, além da
nossa salvação, fez nascer a sua igreja. Pode, então, este resultado ser
catalogado como vantagem que auferiu pelo seu doloroso sacrifício? Claro que
não. O certo é que o amor é uma das formas mais puras de atitude voltada para o
próximo. Se não for assim, torna-se algo muito perigoso – de nome incerto
e desfecho imprevisível.
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